O Espírito Santo ultrapassou, nesta segunda-feira (23), a marca de 50% da taxa de ocupação de leitos potenciais de UTI, o que coloca o Estado em alerta na matriz de risco de convivência para a Covid-19. O índice chegou a 50,4% e, caso persista o indicador elevado até o final da semana, o novo mapa pode trazer mais municípios em risco moderado de transmissão da doença - hoje são cinco - e até algumas cidades em nível alto.
O governador Renato Casagrande já havia tratado da questão na última sexta-feira (20), em pronunciamento, quando anunciou que o mapa de risco da Covid-19 sofreria mudanças caso a taxa de leitos potenciais chegasse aos 50%. Leitos potenciais referem-se à capacidade máxima de leitos de UTI (715) que o Estado pode atingir para o enfrentamento do novo coronavírus, de acordo com estratégias definidas pelo governo do Estado.
A taxa de utilização de leitos é um indicador de vulnerabilidade na matriz que, associada a três tipos de ameaça - casos ativos de Covid-19, média móvel de mortes e testagem dos moradores - coloca o Estado em níveis diferentes no risco para a doença. Em ocupação abaixo de 50%, o Espírito Santo é classificado como adequado; de 50 a 80%, passa-se ao alerta; de 80 a 90%, situação crítica; e, acima desse índice, chega-se ao plano de crise. No auge da pandemia, o Estado alcançou o terceiro estágio.
À medida que avança a ocupação e pioram os demais indicadores, as ações restritivas também se tornam mais abrangentes. Atualmente, nos municípios de risco moderado, as escolas não podem ter atividades presenciais; bares e restaurantes têm limite de horário; e eventos corporativos não podem passar de 300 pessoas, apenas para citar alguns exemplos. Além disso, independentemente do nível de risco, distanciamento, higienização frequente das mãos e uso de máscara são medidas obrigatórias em qualquer atividade social ou econômica.
Quando não se trata de leito potencial, a taxa geral de ocupação, que se refere à disponibilidade atual, chega a 85,1%. A informação consta na atualização desta segunda-feira (23) no Painel Ocupação de Leitos Hospitalares, mantido com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), assim como os referentes aos leitos potenciais. Esse é o maior indicador desde 5 de julho, quando atingiu a marca de 86,5%. À época, porém, havia 693 leitos disponíveis, sendo 600 ocupados por pacientes com a Covid-19. Atualmente, são 424 vagas, com 361 pacientes.
O número total de pacientes nesta segunda é o maior desde o dia 14 de setembro, quando 362 pessoas estavam internadas nas UTIs dos hospitais do Estado.
Na Grande Vitória, a situação é ainda mais preocupante. São 91,5% dos leitos ocupados entre os 295 disponíveis. Alguns hospitais na região já apresentam taxa de 100% de ocupação dos leitos de UTI para a Covid. Mas a situação é observada também em outros municípios.
Pelo painel da Sesa, as unidades da Santa Casa, em Vitória e Cachoeiro de Itapemirim; o Hospital Evangélico de Vila Velha e o Vila Velha Hospital já tinham atingido a capacidade máxima de leitos destinados a pacientes com o coronavírus.
Em nota à reportagem de A Gazeta, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informa que está com um edital em aberto para a ampliação de leitos Covid para a rede SUS, renovando o contrato com hospitais privados, e esclarece que o chamamento visa à contratação de até 130 leitos de UTI e 187 de enfermaria. Desses, 40 leitos de terapia intensiva e 150 de enfermaria já foram adquiridos.
A Sesa diz, ainda, que nesta semana também foram ampliados leitos exclusivos para Covid-19 na Região Sul, que passou a contar com mais oito leitos de UTI e 13 de enfermaria e que ainda trabalha com a previsão de entrega de mais 160 leitos, fruto de obras na rede própria, até o final deste ano, em caso de ascendência da curva. A secretaria frisa que trabalha com a disponibilidade de leitos de forma estadual e que estratégias são adotadas de acordo com o comportamento da curva da doença, que é observada diariamente, já que a taxa de ocupação dos leitos nos hospitais é dinâmica.
A alta nas taxas de ocupação de leitos de UTI no Estado levanta preocupações quanto à evolução da Covid-19 no Espírito Santo. Para a doutora em Epidemiologia Ethel Maciel, esse momento da trajetória da doença no território capixaba é crucial para definir o futuro do combate ao novo coronavírus. A preocupação é acompanhar os dados para verificar se estabilizamos a primeira onda, ou se os índices continuam a subir. Poderia acontecer uma segunda onda sem acabar a primeira, aponta a especialista.
* Rafael Carelli é aluno do 23° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão da editora Joyce Meriguetti e de Aline Nunes.
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