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Terceira Ponte: dívida do ES com Rodosol pode passar de R$ 300 milhões

Terceira Ponte: dívida do ES com Rodosol pode passar de R$ 300 milhões

Dívida corresponde a perdas ocorridas ao longo da concessão e inclui situações como suspensão do pagamento de pedágio e congelamento das tarifas

Publicado em 26 de setembro de 2023 às 11:56

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Terceira Ponte, Vitória
O atual contrato de concessão da Terceira Ponte termina neste ano. (Ricardo Medeiros)

Faltam menos de 90 dias para o término da concessão da Terceira Ponte e os 67,5 quilômetros da Rodovia do Sol. O Estado contratou uma fundação carioca para fazer a análise dos 25 anos do contrato e o estudo apontou que o governo capixaba deve à empresa Rodosol. A estimativa é de que a dívida oscile entre R$ 300 milhões e R$ 350 milhões.

O valor equivale a perdas ocorridas ao longo da concessão, no chamado desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, e que inclui situações que vão da suspensão do pagamento de pedágio, congelamento das tarifas, até isenção de pedágio para veículos do Transcol.

Aspas de citação

Observou-se que o Contrato de Concessão nº 001/1998 está com a sua equação econômico-financeira desequilibrada, cujo ônus está sendo suportado pela concessionária

Trecho de relatório
Coppetec
Aspas de citação

A informação está em estudo realizado pela Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec), a que A Gazeta teve acesso.  Ela foi contratada pela Agência de Regulação de Serviços Públicos (Arsp) em 2020, a quem compete fazer o encerramento do contrato.

A fundação realizou o levantamento das perdas até 2019 e o valor do desequilíbrio econômico-financeiro do contrato até aquele ano, considerando as informações descritas no relatório, é de R$ 155.221.157,46.

Com as atualizações até 2023, incluindo os pedágios não pagos no valor integral e seus reajustes, a taxa de retorno do investimento feito pela empresa, conservação da ponte, condicionantes ambientais, desapropriações, entre outros fatores, o montante da dívida pode chegar a pelo menos a R$ 300 milhões, conforme informações obtidas pela reportagem.

De onde veio a dívida?

O estudo apresentado pela Coppetec, apontou que foram identificados 41 fatos geradores de desequilíbrio, “dos quais 36 tiveram convergência de entendimentos." Eles foram divididos em três grupos e podem ter resultados negativos ou positivos, caso tenham sido ou não executados, ou incluídos na conta final. São eles:

  • RECEITA:
  • Não prática dos índices contratualmente devidos, isto é, a diferença entre a tarifa que deveria ser cobrada, segundo o contrato, e o que foi efetivamente cobrado pela concessionária
  • Receita de ISS (5,26%)
  • Atraso nos reajustes, que não foram aplicados nas datas previstas em contrato
  • Arredondamento das tarifas
  • Congelamento das tarifas nos anos de 2004, 2005 e 2006
  • Aplicação de um redutor de 24,24%
  • Isenção do pedágio para veículos do Sistema Transcol
  • Receitas acessórias
  • Congelamento tarifas nos anos de 2008 e 2009
  • Tarifa de manutenção, aplicada desde 2013
  • Suspensão do pedágio da ponte, em 2014
  • Isenção de pedágio para moradores de Village Sol e Recanto da Sereia

  • DESPESA:
  • Alteração da alíquota do ISS
  • Alteração da alíquota do Cofins
  • Alteração da alíquota do PIS
  • Alteração da alíquota e prazo da CPMF
  • Eliminação da outorga variável
  • Verba de custeio de fiscalização
  • Verba para aparelhamento da Polícia Rodoviária
  • Verba TRV (Taxa de Regulação e de Fiscalização do Serviço)
  • Mão de obra (pesagem)
  • Mão de obra (unidirecional)
  • Exigências supervenientes de proteção ambiental
  • Acréscimo de verba rescisória do contrato da ORL (empresa que administrava a ponte antes da Rodosol)

Público de Infraestrutura Viária

  • INVESTIMENTO:
  • Aumento do escopo do contrato (do que estava previsto no contrato)
  • Alterações de projeto básico (PER) do contrato 
  • Duplicação ES-060 - Trecho Rodovia Darly Santos - Setiba 
  • Duplicação ES-060 - Trecho Graçaí - Meaípe  
  • Implantação do complexo da praça de pedágio na Rodovia do Sol 
  • Retirado Contorno de Guarapari - Trecho Setiba - Praia de Graçaí 
  • Inserido Contorno de Guarapari - Trecho Setiba até Rodovia Jones dos Santos Neves  
  • Retirado Contorno Guarapari - Trecho Setiba - Praia de Graçaí 
  • Inserido Contorno de Guarapari - Trecho Rodovia Jones dos Santos Neves - Meaípe
  • Interligação Av. Carlos Lindenberg - Terceira Ponte 
  • Recuperação e Modernização da Terceira Ponte 
  • Conservação especial 
  • Desapropriações
  • Infraestrutura para serviços de operação, conservação e administração

O que interferiu no contrato

O contrato com a Rodosol foi assinado em 21 de dezembro de 1998. Mas um mês antes de sua celebração, ele foi alvo de uma ação civil pública do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que apontou irregularidades e pediu a anulação do processo licitatório, e que tramitou durante os últimos 25 anos. Foi a partir desta ação que ocorreu a redução do valor da tarifa, em 2013.

Nestas duas décadas e meia, o contrato também foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa, perícias feitas por várias empresas e pelo Tribunal de Contas do Estado, uma tentativa em encampação por parte do governo.

“Ao longo do contrato foram realizadas significativas alterações contratuais pelas próprias partes contratantes através da assinatura de seis termos aditivos, respectivamente nos anos de 2002, 2005, 2009, 2010, e dois em 2017. Por meio destes, foram acrescentadas e reduzidas obrigações das partes que impactaram o equilíbrio econômico-financeiro inicial”, aponta estudo da Fundação Coppetec.

Modificações que, ao longo do tempo, levaram ao desequilíbrio e à dívida acumulada com a concessionária.

Aspas de citação

É notório que a judicialização do contrato e outras intervenções aprofundaram o valor a ser pago por este ente (governo) à concessionária, fragilizando o ambiente regulatório estatal

Trecho do relatório
Fundação Coppetec
Aspas de citação

Em outro ponto, o documento destaca que a taxa interna de retorno do investimento, a chamada TIR, de 16,80%, prevista no contrato, garantiu ao longo dos 25 anos de concessão, “ganhos extraordinários a seus investidores, haja vista a mudança de cenário macroeconômico."

“O custo de oportunidade desta parte foi 134% acima da taxa de juros praticadas no país até 2019”, é pontuado no relatório da Fundação Coppetec.

O estudo também aponta os problemas causados pela demora na criação de uma agência de regulação no Espírito Santo — a Arsp —, o que só ocorreu dez anos após a assinatura do contrato de concessão. “Tal fato pode ter impactado de forma negativa o acompanhamento do desempenho do contrato de concessão e ter permitido interferências por parte do poder concedente. Além disso, pode ter incrementado o risco regulatório da concessão supracitada."

O que vai ser feito

Já em 2020, o relatório da Fundação Coppetec apontava que, nos três anos finais da concessão, o governo tinha algumas alternativas para lidar com o desequilíbrio econômico-financeiro favorável à Rodosol. Eram elas:

  • Prorrogação do prazo da concessão - segundo o documento, esta é uma alternativa em decorrência do valor a ser pago à Rodosol,  e ainda que a legislação estadual autoriza a extensão de prazo no mesmo valor do contrato anterior; ou seja, 25 anos. 
  • Compensação direta à concessionária - “opina-se que ela pode ser feita com um superávit primário nos próximos três anos (quando o contrato é finalizado)”
  • Adequação do Programa de Exploração Rodoviária (PER) -  o relatório aponta que, se houver capacidade financeira de investir na rodovia, há possibilidade de se renovar a concessão sem que haja novas obrigações desta parte. "Os ganhos tarifários auferidos pela concessionária iriam para a amortização da dívida junto ao poder concedente nos anos subsequentes", aponta um trecho.

Mas, em entrevista para A Gazetao governador Renato Casagrande afirmou que não tem interesse em renovar a concessão com a Rodosol. O Estado já contratou, inclusive, uma empresa para realizar os estudos de modelagem para uma nova licitação, em data ainda não marcada.

O que diz a Rodosol

Por nota a empresa diz que não se manifesta sobre o assunto.

No estudo realizado pela Fundação Coppetec é informado que foram realizadas reuniões sobre a finalização do contrato que contaram também com a participação da Rodosol. Segundo o documento, a empresa discorda dos valores apresentados em relação a vários pontos, entre eles estão:

  • Acréscimo da verba rescisória do contrato da ORL (empresa que administrava a ponte antes da Rodosol)
  • Exigências de proteção ambiental 
  • Obra do Contorno de Guarapari: Trecho Setiba - Rodovia Jones dos Santos Neves 
  • Obra do Contorno de Guarapari: Trecho Rodovia Jones dos Santos Neves - Meaípe 
  • Recuperação e modernização da Terceira Ponte 
  • Conservação especial
  • Desapropriações

Alguns dos pontos acima dependem, segundo o relatório, de apresentação de documentos que comprovem os gastos por parte da Rodosol.

O que diz a Agência Reguladora

Procurada pela reportagem, a Agência Reguladora de Serviços Públicos (Arsp) informa que está analisando o estudo produzido pela Coppetec e que, no prazo exigido, apresentará um relatório ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).

No início do mês, a Corte de Contas aprovou em plenário a decisão de dar um prazo para que a Arsp informasse o que está sendo feito para finalizar o contrato de concessão e o valor do desequilíbrio econômico-financeiro.

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