21 de janeiro de 2021. Eram 20h25 quando o primeiro avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou no Espírito Santo com 18 pacientes de Manaus infectados pela Covid-19. Na madrugada do dia seguinte, outra aeronave trouxe mais 18 pacientes. Entre eles estava o eletricista Afrânio Jhonson Costa dos Anjos, de 51 anos, cuja família já tinha comprado até um galão de oxigênio para mantê-lo vivo.
Uma ano depois, curado da doença e agora vacinado, ele faz um alerta para que as pessoas se cuidem, principalmente com a nova onda causada pela variante Ômicron: “A pandemia ainda não acabou”.
Os pacientes foram trazidos para tratamento no Hospital Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, após colapso no sistema de saúde da capital do Amazonas. Unidades de saúde e hospitais da cidade superlotaram após a segunda onda da doença, o que levou a falta de oxigênio e a diversas mortes.
“No dia em que eu estava internado no Hospital Platão Araújo, 14 pessoas morreram no mesmo dia, eu presenciando tudo isto. Fiquei pensando que o próximo seria eu”, relata Afrânio.
Lembra ainda que um paciente que tentou dividir o oxigênio com um paciente que estava ao lado dele, mas não houve tempo. “Foi muito difícil ver que tantos morriam por falta de ar”, relata, destacando que foi quando ofereceram a ele o tratamento no Espírito Santo, o que ele aceitou após consultar a família.
Nos primeiros dias no Estado, mesmo ainda debilitado pela doença, mantinha seu coração em Manaus, preocupado com a família e que eles também pudessem ter sido infectados. Com medo de morrer, chegou a fazer um pedido especial para o filho.
“Pedi para o meu filho que se caso eu não voltasse mais, que tomasse conta da família, que fosse o esteio da família”, relata, emocionado.
Mas 14 dias após a sua chegada veio a notícia que ele tanto esperava. Seus exames apresentaram resultado negativo para a infecção e ele pode retornar para a casa. “Foi como ganhar na loteria”, conta, lembrando que deu um grito de alegria na enfermaria quando recebeu a notícia.
Ele deixou o hospital junto com outro paciente também vindo de Manaus, Evanderson Silva de Jesus, 27 anos. Receberam uma homenagem na saída do Hospital Dr. Jayme Santos Neves: os funcionários fizeram um corredor de despedida com palmas e bolas de soprar coloridas para festejar a alta dos dois amazonenses.
Quando retornou para Manaus, a família o aguardava ansiosa. “Minha sobrinha soltou até fogos de artifício”, conta. Afrânio permaneceu por quase um mês isolado em casa, se recuperando das sequelas da Covid. Relata que se sentia muito cansado até para fazer pequenos trabalhos. Além de eletricista, ele tem uma lanchonete com delivery de pizza.
Aos poucos foi se recuperando e com o passar dos meses pode ser imunizado, já tendo tomado as três doses da vacina. Mas ainda assim se mantém em alerta por causa da nova variante, a Ômicron.
“A pandemia ainda não acabou. As pessoas insistem em continuar brincando, mas só vai sentir quando for infectado ou perder alguém próximo”, alerta. Na mesma semana em que foi internado, Afrânio perdeu dois cunhados para a doença, além de alguns amigos.
Antes de deixar o Estado, Afrânio contou que fez questão de escrever uma carta para o governador Renato Casagrande, agradecendo. "Não há outra palavra que não gratidão. Sou muito grato a todos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, pessoal da cozinha, da limpeza, cada um que nos ajudou", disse em entrevista à época.
No dia 19 de março de 2021, deixou o Espírito Santo o último paciente vindo de Manaus, Luiz Gonzaga Trajano, de 56 anos. Ele ficou quase dois meses internado. Assim como Afrânio, ele aceitou o tratamento em outro estado para evitar que sua esposa, que o acompanhava durante a internação, também fosse infectada.
Dos 36 que foram trazidos para o Estado, 27 receberam alta hospitalar. Mas nove deles não resistiram à doença e morreram de Covid. No mesmo período o Espírito Santo também recebeu pacientes de Santa Catarina e de Rondônia.
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