O dia 11 de março de 2020 está marcado na história. Nesta data, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a contaminação por Sars-Cov-2, o novo coronavírus, se espalhava com celeridade ao redor do mundo, configurando-se uma pandemia. Cientistas ao redor do mundo embarcaram na missão de compreender mais sobre a doença e suas nuances, como a forma de contágio, medidas de prevenção, tratamento adequado, e, sobretudo, uma vacina eficiente para proteger a sociedade.
Depois de mais um ano, muita coisa se sabe sobre a doença. O uso da máscara e a higienização das mãos, combinados com o distanciamento social e a testagem em massa, foram os primeiros aliados na batalha contra a disseminação do vírus, e se mostram eficazes até os dias de hoje. As vacinas, desenvolvidas e fabricadas em tempo recorde, também são conhecidas até o momento como a única forma de vencer a pandemia pela comunidade científica.
Mas, por outro lado, pesquisadores ainda se empenham em esclarecer algumas incertezas sobre a Covid-19, como quem vai realmente evoluir para um quadro grave e quem não vai, o uso de medicamentos que realmente sejam eficientes no combate da infecção respiratória, além das sequelas após a recuperação da doença.
O doutor em Imunologia e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gomes, salienta que já foram identificados os principais grupos de risco da doença, que são os idosos e pessoas com comorbidades. “Eles foram identificados por meio de evidências científicas, analisando o número de mortes, o número de pessoas infectadas, estatísticas, qual o perfil de pessoa que apresentou um quadro mais severo, a idade dos pacientes, dentre outras questões ”, pondera.
Segundo a epidemologista Ethel Maciel, as formas de prevenção já estão mais claras e com comprovação científica após um ano de pandemia. “Já temos a certeza de que o uso de máscara protege as pessoas do vírus, e, agora com a presença das variantes, as filtrantes são as mais adequadas”, explica. As restrições de circulação de pessoas também se mostraram eficientes para evitar a propagação do vírus, assim como a testagem em massa. “O novo coronavírus circula com pessoas infectadas que, às vezes, nem apresentam sintomas. Dessa forma, diminuir a circulação de pessoas e, sobretudo, evitar aglomerações, impede a aceleração do contágio. E o teste rápido é a única forma de quebrar a cadeia de transmissão”, acrescenta.
Segundo o infectologista Lauro Ferreira Pinto, nos países mais desenvolvidos, utiliza-se anticorpos monoclonais para tratar a doença em estágio inicial. “Os anticorpos monoclonais são as cópias sintéticas criadas em laboratório a partir de um clone de um anticorpo específico, extraído do sangue de uma pessoa que se recuperou da Covid-19. Esse tipo de tratamento foi usado, por exemplo, no ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”, explica.
O infectologista Lauro Ferreira Pinto acrescenta ainda que na segunda fase da doença, quando a Covid-19 deixa de ser uma doença viral e passa a ser uma doença inflamatória e potencialmente trombogênica, inclusive podendo causar lesões nas paredes dos vasos, recomenda-se o uso de nebulização com corticoide ou até mesmo o uso de corticoides. "Talvez essa seja a maior descoberta de tratamento até agora. O corticoide é um remédio utilizado quando o paciente está entre o oitavo e nono dia e apresenta dificuldade de oxigenação no sangue. No entanto, o primeiro grande erro do Brasil é o uso indiscriminado, que pode causar doenças mais graves”, alerta.
As vacinas são apontadas como a única solução efetiva para vencer a pandemia. Países que iniciaram a imunização cedo ou que conseguiram cobrir uma parcela considerável da população com a vacina já estão observando quedas significativas nos números de casos, internações e mortes por Covid-19, segundo estudos de efetividade (feitos com resultados da aplicação das vacinas na população geral) e análises dos dados da evolução da pandemia nesses locais.
O médico Henrique Bonaldi destaca ainda que não é possível saber quem vai evoluir para um caso grave ou não, apesar da identificação dos grupos de risco. “Ninguém consegue explicar porque algumas pessoas saudáveis evoluem para um quadro grave e morrem, assim como outras pessoas do grupo de risco passam pela doença apenas com sintomas leves”, pondera. A mesma ressalva faz o doutor em Imunologia e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gomes. "Vemos mortes de pessoas cada vez mais jovens. Já outras pessoas, classificadas dentro do grupo de risco, também podem passar pela Covid-19 com sintomas leves", disse.
Para médicos e cientistas, ainda não está claro todas as sequelas após contrair a Covid-19. O professor Daniel Gomes explica que apesar dos sintomas já serem identificados com facilidades, o impacto da doença no organismo ainda precisa ser elucidado. “Já sabemos que a perda de paladar e do olfato, por exemplo, são característicos da infecção pelo novo coronavírus. Mas não sabemos o impacto desta infecção. A cada dia, algo é descoberto, como complicações neurológicas, digestivas, dentre outras”, salienta.
As mutações fazem parte do processo natural dos vírus e estas mudanças já eram esperadas pelos cientistas. Mas, no caso da Covid-19, por ser uma doença ainda não totalmente compreendida pela comunidade científica, o surgimento de novas variantes do coronavírus - e de maneira tão rápida - causa preocupação. Algumas linhagens, já identificadas, são capazes, inclusive, de "driblar" os anticorpos criados pelas vacinas.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta