"Se fosse para salvar meu pai, eu faria tudo de novo". A frase é do professor Lucas Salles que, exatamente há um ano, furou o pneu de uma ambulância para impedir que seu pai, o repórter cinematográfico Manoel Guedes Barreiro, fosse transferido do Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra. Na época, Manoel estava internado na UTI com um quadro grave de Covid-19.
Um ano depois, Manoel está curado da Covid-19. Seu caminho para chegar até a plena recuperação, porém, teve percalços: ele foi transferido para um hospital particular e chegou a contrair uma infecção no sangue e uma bactéria no pulmão. Segundo Lucas, isso piorou muito o quadro de saúde do pai.
"Nós fomos orientados por uma médica, amiga da família, que era um transporte arriscado para ele que estava em coma, intubado, o estado dele era muito grave. Além disso, ele estaria exposto a um novo ambiente, com novas bactérias, poderia acabar contraindo alguma infecção que, até então, ele não tinha. Foi exatamente o que aconteceu, a gente não conseguiu reverter a transferência e ele acabou contraindo novas infecções", disse.
Lucas explicou que o pai passou a precisar de sedação e aplicação de adrenalina para manter os sinais vitais, além de aumento da ventilação, por conta da piora do quadro. Ele contou que o tratamento tornou-se delicado e seu pai precisou de atenção especial, dada a gravidade do estado de saúde de Manoel. O professor ainda citou que recebeu relatos de outras pessoas cujos familiares precisaram ser transferidos e acabaram não resistindo à doença.
Graças à força dos familiares e às orações de pessoas próximas, de acordo com Lucas, seu pai conseguiu ser curado da Covid-19. Ele, porém, ainda teve sequelas: durante o primeiro mês pós-internação, Manoel não conseguia andar. Lucas conta que foram necessárias várias seções de fisioterapia para que o pai recuperasse os movimentos.
"Logo que ele saiu do hospital, ele não andava. Então a gente ficou durante um mês fazendo fisioterapia. No dia que o fisioterapeuta não ia, eu fazia as sessões. Ele demorou muito a andar, como ficou muito tempo acamado, ficou com muitos pontos de inflamação e infecção no corpo. A pressão dele ficou muito desregulada, antes da Covid ele tinha pressão alta e, depois, a pressão dele começou a baixar muito. Foi um tempo de muita vigilância", afirmou.
Logo depois de recuperar os movimentos das pernas, porém, mais um susto: em setembro de 2020, Manoel recebeu resultados de exames que havia feito antes da infecção por Covid-19 que apontaram um câncer na próstata em estágio intermediário para alto. Lucas contou que o pai voltou ao Hospital Evangélico de Vila Velha, para o tratamento.
"A gente novamente passou por um período de aflição. A equipe do hospital é muito boa e ele operou muito rápido. Em setembro nós descobrimos esse câncer, em outubro nós corremos com toda a parte dos exames, porque o grau já estava um pouco avançado e em novembro ele operou, tirou a próstata. Hoje, graças a Deus, ele está bem. Ainda tem as sequelas da Covid, da cirurgia do câncer, mas está bem melhor", comemorou.
Lucas reconhece que o atitude de furar o pneu da ambulância no Hospital Jayme dos Santos Neves foi um ato de desespero. Ele ressaltou que estava sem dormir acompanhando a situação do pai e que, por isso, passou a estudar a fundo a Covid-19 para conseguir ajudá-lo. A prioridade dele era ver o pai vivo.
"Foram horas e horas estudando, lendo coisas sobre Covid, como funcionava cada exame que meu pai fazia. Enquanto os médicos davam boletins de dois minutos para outras famílias, eu gastava dez, quinze minutos com o médico para entender todo o quadro de saúde do meu pai", disse.
Depois de todo o trauma da internação por conta da Covid-19, as sequelas da doença e a descoberta de um câncer, hoje a família tem mais motivos para comemorar do que lamentar. Segundo Lucas, todos foram infectados pelo coronavírus, mas conseguiram se recuperar. Sua esposa, Andressa Nobre, também contraiu a doença durante o momento mais delicado: a gravidez.
"Todos nós pegamos a Covid, eu peguei antes do meu pai. Depois, a minha esposa, que estava grávida na época. Foi um momento de muita angústia, porque se conhecia muito pouco sobre a doença e, principalmente, se ela afetaria ou não a gravidez, a criança. Mas, graças a Deus, o Bernardo nasceu cheio de saúde e tem sido uma alegria para nós", contou.
Agora, a família pode também comemorar a imunização, mesmo que ainda parcial. O pai e a mãe de Lucas, além dele próprio, já receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Para que não hajam mais sustos, Lucas torce para que todos consigam logo as segundas doses.
No dia 18 de junho de 2020, o professor Lucas Salles furou o pneu de uma ambulância no pátio do Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra, para tentar evitar a transferência do pai, que estava internado com Covid-19, para outra unidade. A Polícia Militar foi acionada e, apesar dos pedidos dos familiares, o paciente foi transferido.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o professor Lucas Salles explicou que o pai, o repórter cinematográfico Manoel Guedes Barreiro, estava em estado grave no Hospital Jayme Santos Neves e que, por isso, temia que a transferência pudesse piorar o quadro.
“Eu estou com meu pai internado aqui no Jayme, foi muito difícil conseguir a vaga para ele aqui. E ele ainda está intubado, ainda não está bem, está na UTI, e eles estão querendo transferir meu pai agora para o Hospital Evangélico. Vão colocar ele em outro ambiente hospitalar, com outras bactérias, meu pai pode ser infectado e não resistir”, disse.
Diante da negativa do hospital aos pedidos de permanência do paciente, Lucas usou uma tesoura que estava no carro para furar o pneu da ambulância. A Polícia Militar foi acionada, conversou com o professor e pediu que ele arcasse com o prejuízo do veículo.
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