Os maiores investimentos feitos pela Unimed Vitória junto à Infinity Asset ocorreram a partir de 2019. Cerca de R$ 186 milhões foram aplicados no período, fase em que os fundos já começavam a colapsar. Houve retiradas de valores, mas o que restou foram R$ 165 milhões, que a cooperativa amarga em prejuízo e aguarda a partir desta semana a realização de assembleias com cotistas do fundo sobre o plano de ressarcimento.
Em 2020, por exemplo, o Infinity Select - fundo no qual a cooperativa investiu -, que já vinha acumulando perdas, foi fechado para resgate e a sua gestora foi desligada do quadro da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) após o julgamento de um processo por descumprimento ao código de administração de recursos de terceiros, ou seja, por não atuar em conformidade com a legislação.
Foi quando o fundo praticamente derreteu, com queda aproximada de 80% nos últimos três anos, segundo dados da InfoMoney. Em meados de 2021, a decisão da Anbima foi suspensa, em cumprimento a uma determinação judicial proferida em ação que tramita em sigilo. Em dezembro do mesmo ano, o comitê de investimentos da Unimed Vitória foi alertado sobre o descredenciamento. Mas a cooperativa optou por manter os investimentos com a mesma gestora.
“Em dezembro de 2021, o Comitê de Investimentos da cooperativa foi alertado para o fato de que a Infinity havia sido descredenciada pela Anbima. Na ocasião, realizaram o resgate de parte do montante investido em dois produtos e optaram por manter os valores aplicados em outros quatro”, explicou a cooperativa em nota oficial divulgada na última quarta-feira (31).
O mesmo texto da Unimed Vitória relata ainda que os investimentos começaram a ser feitos em 2016. Até final de 2018, a cooperativa acumulava um total de R$ 40 milhões aplicados. A partir de maio de 2019, os investimentos passaram a ser feitos no Infinity Select e chegaram, até 2023, a um volume de R$ 186 milhões.
À reportagem foi relatado que, entre 2019 e 2023, também houve saques, restando cerca de R$ 112 milhões aplicados, que somados à rentabilidade e à aplicação feita antes deste período, chegariam ao montante do prejuízo: R$ 165 milhões.
Em ata da assembleia geral ordinária da cooperativa, realizada em 27 de março deste ano, foi informado sobre as aplicações financeiras: “Mantivemos as aplicações financeiras seguras e acima da meta, com rendimento superior à taxa de juros e à inflação, com resultado de mais de 40 milhões de reais no ano de 2022”.
Segundo nota oficial da atual gestão, a expectativa de recuperação do prejuízo vem de assembleias que vão ser realizadas nos próximos dias 7, 12 e 13 de junho, quando será apresentado o plano de recuperação para ressarcimento dos investidores prejudicados.
“A partir daí, teremos todas as informações necessárias para convocar uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), apresentar as medidas que serão tomadas e esclarecer eventuais dúvidas”, informou a cooperativa.
Foi contratada uma auditoria que está analisando a situação financeira da cooperativa e também foram suspensas as autorizações para o comitê de investimento, cujas aplicações agora vão ter acompanhamento e, dependendo do valor, terá ainda que passar por assembleia dos cooperados.
A cooperativa em Vitória e outras 29 Unimeds estão entre os mais de seis mil cotistas da Infinity Asset alvos de prejuízos causados pelas perdas do fundo, que teve queda de rentabilidade. Outra cooperativa Unimed atingida no Estado é a Piraqueaçu, que também atende municípios do Espírito Santo, como Aracruz, Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá. Em dezembro de 2022, o valor aplicado era R$ 2 milhões, mas as informações são de que ela conseguiu fazer o resgate dos valores em dezembro do ano passado.
Na fase em que a Unimed Vitória realizou os investimentos, teve a sua administração conduzida por duas equipes, ambas eleitas. A última delas entregou a gestão em março para o atual presidente, Fabiano Pimentel.
O superintendente financeiro Jean Pierre pediu demissão da cooperativa após o dia 17 de maio, data em que a Infinity Asset, cujas carteiras foram transferidas para a Vanquish Asset Management, informou que os resgates dos fundos estavam suspensos, devido à falta de liquidez dos ativos e à necessidade de uma reavaliação sobre o produto. O que configurou o prejuízo da Unimed Vitória.
A reportagem tentou contato com os presidentes. Márcio Almeida informou que prefere não se manifestar no momento. Fernando Ronchi informou que não falaria sobre o assunto. Os demais diretores não foram localizados ou não retornaram as mensagens enviadas pela reportagem.
Autointitulada como gestora de recursos independente, a Infinity Asset Management atua no ramo desde 2003, tendo trabalhado, antes disso, prestando serviços de corretagem.
Ainda segundo informações da própria empresa, “a lnfinity atua na gestão de fundos de investimento, dentre os quais se incluem os fundos de investimento em renda fixa, os fundos de investimento multimercado e os fundos de ações e, desde outubro de 2019, a gestora vem realizando a distribuição das cotas dos fundos por ela geridos”.
Um dos fundos é o Infinity Select, que recebeu os investimentos da Unimed Vitória e que em 2020 foi fechado para resgate. Confira a trajetória:
Por nota, a Unimed Vitória informou que apenas 10% dos R$ 165 milhões investidos nos produtos da Infinity Asset integravam o fundo garantidor da Unimed Vitória junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Acrescentou que medidas de contenção de gastos adotadas desde março e parte de seu patrimônio vão ajudar a garantir lastro financeiro para suprir o prejuízo milionário e evitar intervenções.
Com isso, garante que seus 400 mil usuários, além de cooperados, colaboradores e prestadores, não serão prejudicados. “Estamos realocando valores de outros investimentos para repor esse percentual, caso haja necessidade de cobertura do lastro. Estamos preparados para lidar com esse desafio, lembrando que ainda iremos receber o plano de recuperação da Infinity nas assembleias a serem realizadas no início de junho, quando apresentarão o planejamento de ressarcimento dos cotistas”, explica o diretor-presidente, Fabiano Pimentel Pereira.
Com essas medidas, a cooperativa afirma que está descartada a possibilidade de uma intervenção da ANS. O procedimento é instaurado em operadoras com anormalidades administrativas e econômico-financeiras que podem colocar em risco a qualidade e a continuidade do atendimento à saúde dos beneficiários
Por nota, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que monitora todas as operadoras de planos de saúde e administradoras que atuam no setor. “No entanto, as análises sobre a situação econômico-financeira das reguladas são preservadas por sigilo empresarial. A responsabilidade pela gestão, bem como a escolha dos seus investimentos, é da operadora”.
Acrescenta que o acompanhamento das entidades reguladas se dá conforme disposto na RN nº 532, de 2022. “E a identificação de eventuais desconformidades econômico-financeiras pode ensejar a aplicação de medidas regulatórias que podem variar conforme a gravidade e vão desde a possibilidade de apresentação de procedimentos de adequação econômico-financeira (PAEF) à instauração de regime especial de direção fiscal ou até mesmo cancelamento e liquidação”.
Informa que cabe à ANS, ainda, receber as eventuais reclamações dos beneficiários, eventualmente abrir os processos sancionadores e proferir as decisões condenando a operadora ou arquivando o caso.
A agência orienta os usuários que estiverem enfrentando problemas de atendimento para que procurem, inicialmente, sua operadora para que ela resolva o problema e, caso não tenha a questão resolvida, registre reclamação junto à ANS nos seguintes Canais de Atendimento:
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta