Apenas 10% dos R$ 165 milhões investidos nos produtos da Infinity Asset integravam o fundo garantidor da Unimed Vitória junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). É o que informa a cooperativa, acrescentando que medidas de contenção de gastos adotadas desde março e parte de seu patrimônio vão ajudar a garantir lastro financeiro para suprir o prejuízo milionário e evitar intervenções. Com isto, garante que seus 400 mil usuários, além de cooperados, colaboradores e prestadores, não serão prejudicados.
“Estamos realocando valores de outros investimentos para repor esse percentual, caso haja necessidade de cobertura do lastro. Estamos preparados para lidar com esse desafio, lembrando que ainda iremos receber o plano de recuperação da Infinity nas assembleias a serem realizadas no início de junho, quando apresentarão o planejamento de ressarcimento dos cotistas”, explica o diretor-presidente, Fabiano Pimentel Pereira.
O cálculo do possível prejuízo ao fundo garantidor da cooperativa levou em consideração os dados até esta quarta-feira (31). Com essas medidas, a cooperativa afirma que está descartada a possibilidade de uma intervenção da ANS. O procedimento é instaurado em operadoras com anormalidades administrativas e econômico-financeiras que podem colocar em risco a qualidade e a continuidade do atendimento à saúde dos beneficiários.
A cooperativa em Vitória e outras 29 Unimeds estão entre os mais de seis mil cotistas da Infinity Asset alvos de prejuízos causados pelas perdas do fundo, que teve queda de rentabilidade. A situação mais grave, segundo informações do jornal Valor, é da Unimed Vitória, que tinha R$ 165 milhões aplicados. Outra cooperativa Unimed atingida é a Piraqueaçu, que também atende municípios do Espírito Santo, como Aracruz, Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá. Em dezembro de 2022, o valor aplicado era R$ 2 milhões.
“A Unimed Vitória assegura que tomará todas as providências cabíveis para resguardar seus cooperados, beneficiários, colaboradores e prestadores, não havendo, portanto, razões para preocupações, incertezas e insegurança”, informou a cooperativa em nota assinada pelo atual diretor-presidente, Fabiano Pimentel Pereira, e pela diretora Administrativo-financeira, Norma Louzada.
Por nota, a cooperativa informou que os investimentos no fundo da Infinity Asset começaram a ser feitos em 2016, com aplicações em produtos oferecidos pela gestora.
Em dezembro de 2021, o comitê de investimentos da cooperativa foi alertado para o fato de que a Infinity havia sido descredenciada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “Na ocasião, a diretoria da época realizou o resgate de parte do montante investido em dois produtos e optou por manter os valores aplicados em outros quatro”, informa o texto da nota.
Em outro ponto é informado que a atual diretoria, que assumiu em março, “não teve qualquer tipo de decisão sobre os investimentos realizados anteriormente à sua posse, ocorrida em março deste ano”. O presidente e sua diretoria assinalam que a primeira providência, considerando os desafios iminentes, foi a implementação de ações de austeridade.
“As medidas financeiras que vêm sendo adotadas há pouco mais de dois meses permitiram a composição do fundo garantidor junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), resguardando sua liquidez e gerando lastro financeiro para as operações. Além disso, foram fundamentais para trazer resultados financeiros positivos que reduziram a quase totalidade do desempenho negativo do primeiro quadrimestre, e as projeções apontam para a continuidade desse bom desempenho”, é explicado na nota.
Na nota da cooperativa é informado que estão sendo adotadas medidas judiciais, bem como ações internas para proteger a cooperativa. “Nossa diretoria já está adotando as medidas necessárias para repor esse percentual a partir dos investimentos que temos em outras carteiras, de modo a manter todas as nossas garantias junto ao órgão regulador”, assinala.
Também foi contratada uma empresa de auditoria financeira e contábil. “Para termos uma visão mais precisa de todo o legado, especialmente a análise dos dados envolvendo a Infinity. Tudo está sendo acompanhado pessoalmente por todos os integrantes da Diretoria Executiva e pelos Conselhos de Administração e Fiscal da Unimed Vitória”, informa a nota.
Derivativos: São contratos financeiros que têm um valor derivado de outros ativos, como ações, moedas, produtos de exportação e taxa de juros.
Fundo: O fundo de investimento é uma aplicação financeira, que pode ser de baixo, médio ou alto risco. Os fundos são administrados por empresas gestoras que aplicam os recursos em diferentes ativos, como por exemplo ações, moedas estrangeiras ou derivativos.
Cotistas: São os investidores que aplicaram dinheiro em um fundo ou outro aplicação financeira.
Fundo garantidor junto à ANS: A Agência Nacional de Saúde Suplementar exige que operadoras de saúde privadas tenham recursos guardados para garantir o pagamento de despesas em caso de falência.
Nos próximos dias 7, 12 e 13 de junho, a Unimed Vitória participará das assembleias que serão conduzidas pela Infinity, durante as quais será apresentado o plano de recuperação elaborado por eles para ressarcir os investidores prejudicados.
“A partir daí, teremos todas as informações necessárias para convocar uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), para dar ciência a todos dos fatos, apresentar as medidas que serão tomadas e esclarecer eventuais dúvidas”, informa.
O fundo contratado pela Unimed se chamava Select e era comercializado pela Infinity como um investimento conservador, de baixo risco. No entanto, segundo o Valor, era irregular por ter lastro da própria gestora. A carteira contava com operações em derivativos — contratos financeiros que têm um valor derivado de outros ativos, como ações, moedas, produtos de exportação e taxa de juros.
O Select tinha rendimentos bem acima do CDI e de aplicações do mesmo perfil. A alta rentabilidade, que certamente ajudou a atrair investidores, também gerou desconfianças.
Em 2020, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) tentou descredenciar a Infinity, após uma investigação interna apontar que a gestora havia descumprido uma série de regras de autorregulação. O desligamento, no entanto, só ocorreu dois anos depois, em dezembro de 2022, amparada em uma decisão da Justiça.
Segundo a Anbima, a corretora vinha reiteradamente cometendo irregularidades. A Infinity, à época, negou as acusações. Ainda não é possível prever com certeza se os cotistas vão conseguir recuperar os recursos aplicados. Uma das propostas da RJI Corretora, administradora dos fundos da Infinity/Vanquish, é pagar os cotistas, que deveriam ter recebido no último dia 17, somente em fevereiro do próximo ano, de acordo com fontes do mercado ouvidas pelo Valor.
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