Não existe tratamento precoce para a Covid-19. Apesar disso, após mais de um ano de pandemia, ainda há quem insista em usar medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a doença. A tentativa frustrada de evitar a contaminação pelo coronavírus tem levado alguns pacientes a adquirirem doenças graves, algumas com necessidade de transplante, o que fez com que a Associação Médica Brasileira (AMB) emitisse um boletim, nesta terça-feira (23), em que pede o banimento do "kit Covid".
De acordo com o médico Aberto Stein, cirurgião do aparelho digestivo e especialista em transplante de fígado do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), o uso indiscriminado de remédios como hidroxicloroquina e ivermectina pode levar a problemas sérios, especialmente para o fígado.
"A Associação Médica Brasileira ontem reportou que eles devem ser retirados ou banidos do tratamento da Covid. São medicamentos que não tem nenhuma eficácia comprovada para esse tipo de tratamento. Nós já tivemos aqui pacientes que desenvolveram uma hepatite aguda grave, precisando de internação, por conta do uso desses medicamentos do 'kit covid', como hidroxicloroquina e ivermectina. Esse paciente não precisou entrar na fila de transplante, a gente conseguiu reverter o quadro dele. Mas é um risco a mais, principalmente para o fígado, o uso desses medicamentos que não existe comprovação", afirmou em entrevista à TV Gazeta.
Embora não sejam eficazes contra a Covid-19, esses medicamentos são utilizados há anos, de forma eficiente, no tratamento de verminoses e doenças reumatológicas. No entanto, o uso excessivo deles pode levar a doenças graves, principalmente quando usados de forma errada.
"Nas concentrações e na posologia para essas doenças não Covid, são seguros. Antigamente, raramente a gente via eles como causa de insuficiência hepática ou necessidade de transplante. Entretanto, a super dosagem, que a gente vê hoje, a combinação deles e o uso prolongado aumenta a incidência de disfunção hepática. Em São Paulo, quatro pacientes precisaram ser colocados em lista de transplante e dois deles não sobreviveram à espera por um fígado, acabaram evoluindo a óbito. Isso foi comprovado. Foi retirado um pedaço de fígado desses pacientes e comprovou-se que essas alterações eram em decorrência do uso desses medicamentos em alta dosagem e, provavelmente, por um tempo prolongado", alerta o médico.
Para além da dependência de um transplante, um paciente que adquire uma doença grave por conta do uso não recomendado do "kit Covid", esbarra hoje em outro problema: a disponibilidade de leitos de UTI. Com os hospitais lotados, alguns já sem leitos de UTI disponíveis, o paciente pode ter o órgão para transplantes e não encontrar leito para que o procedimento seja realizado a tempo.
"Caso um paciente que esteja tomando esse medicamento desenvolva uma insuficiência hepática com necessidade de transplante, talvez no dia que surgir um fígado para ele, pode ser que não tenha vaga nas UTIs para a realização do transplante. Também por isso, a orientação é que não devem ser utilizado esses medicamentos para esse fim", conclui o médico.
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