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Vacina não pode ficar a cargo dos Estados como foi com respiradores, diz Casagrande

Vacina não pode ficar a cargo dos Estados como foi com respiradores, diz Casagrande

Em entrevista concedida à Rede CBN, o governador do Estado do Espírito Santo, Renato Casagrande, fez um apelo ao Ministério da Saúde por um plano de imunização nacional

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 16:16

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Vitória - ES - Governador do Estado, Renato Casagrande (PSB).
Vitória - ES - Governador do Estado, Renato Casagrande (PSB). (Vitor Jubini)

O governador do Estado do Espírito SantoRenato Casagrande, afirmou, em entrevista para a Rede CBN na manhã desta segunda-feira (26), que o financiamento e a distribuição da Coronavac – vacina contra a Covid-19 em desenvolvimento pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan – não pode ser como o caso dos respiradores e ficar a cargo dos governadores. Para Casagrande, a ausência de uma coordenação nacional do Ministério da Saúde deixará a população brasileira desprotegida, já que a demanda mundial pelo imunizante será simultânea.

Ainda de acordo com governador, o momento pede que interesses eleitorais sejam deixados de lado, com o objetivo de estabelecer um diálogo permanente entre governadores e governo federal para libertar a população.

Renato Casagrande também comentou sobre o aumento no número de leitos ocupados nos hospitais privados do Estado. Apesar de o mapa de risco para a transmissão do novo coronavírus do Espírito Santo estar quase todo em níveis baixos, houve um crescimento da positividade e no número de óbitos na Grande Vitória. O governador alertou para a necessidade de manter os protocolos de higienização e distanciamento social, uma vez que alguns indícios podem indicar um retorno das medidas de restrição. Confira alguns trechos da entrevista do governador à Rede CBN:

Como impedir que uma briga política, como a da semana passada, atrapalhe no tratamento e na chegada de vacinas aqui no Brasil?

  • O período da pandemia e todos os temas, sem nenhuma exceção, foram politizados. Desde o uso de máscaras, distanciamento, não aglomeração até hospitais de campanhas. Na hora que encontramos expectativas de sairmos unificados com a coordenação do Ministério da Saúde, em um assunto que resolve a questão da pandemia, liberta o brasileiro desse vírus e salva-vidas, nós estamos com um passo atrás. Como vamos fazer isso? Nós vamos apelar mais uma vez ao governo federal para que o Ministério da Saúde coordene essa ação e tenhamos o uso das vacinas que estão mais adiantadas. A Coronavac está, tecnicamente, em condições adequadas de estar à disposição dos brasileiros. Mesmo em quantidades pequenas, já é possível começar o trabalho de 46 milhões de doses, que poderão ser disponibilizadas, a partir de janeiro, com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Agora mais do que nunca estamos fazendo um apelo junto ao governo federal para que possamos deixar de lado assuntos políticos e ideológicos para salvar, de fato, vidas e libertar os brasileiros. Nesse momento é isso que podemos fazer. Tenho me envolvido muito no debate e acho que é hora de não tencionar. Mesmo com todas as dificuldades, precisamos buscar um ambiente que permita o diálogo permanente com o governo federal.

Na semana passada, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, veio a público reclamar da demora da Anvisa na liberação dos insumos necessários para fabricar a Coronavac. Depois que ele veio a público e fez a reclamação, eles foram liberados. Mas isso levou um prazo bem maior do que o usual. Na eventualidade da Anvisa demorar a analisar o registro da Coronavac, os governadores já pensam em alternativas e no que pode ser feito se essa vacina se mostrar promissora e segura para a população?

  • Nós não vamos abrir mão de nenhuma alternativa. Mas a nossa opção, neste momento, é confiar que a Anvisa, como órgão técnico, agirá na direção de uma rápida liberação dos insumos e da aprovação da vacina, com toda a segurança que tem que ter. Se isso não acontecer essas medidas poderão ser tomadas, mas vamos avaliar dia após dia. Neste momento, não temos uma vacina aprovada na Anvisa e em nenhum órgão do mundo. A Coronavac poderá ser a primeira. A conversa no nosso grupo de governadores tem sido permanente e a prioridade, sem dúvidas, é fazer que a nossa ação libere vacinas o mais rápido possível. Também é importante lembrar, que cada pessoa terá de tomar duas doses da vacina. Por isso é essencial a participação do Ministério da Saúde, já que dentro do Plano Nacional de Imunização se define prioridades. Será muito ruim se o Ministério não coordenar isso e ficar a cargo dos governadores, como aconteceu com os respiradores. Cada um de nós precisou resolver os caminhos por ausência de coordenação nacional. No caso da vacina é ainda pior. Não teremos doses disponíveis para todos os habitantes do planeta e a demanda vai ser ao mesmo tempo. Sem a coordenação nacional, o brasileiro ficará desprotegido.

Há um movimento para conseguir comprar a vacina mesmo sem o registro da Anvisa?

  • Não há essa possibilidade. Também não há nenhuma vacina aprovada por qualquer órgão técnico de outro país, por enquanto.

Com a aprovação de outro órgão, não existe essa possibilidade ou a ideia é passar pela Anvisa?

  • No Brasil, qualquer remédio só pode utilizado com a aprovação da Anvisa. Pode ser que com a aprovação de algum medicamento em outro país, judicialmente se consiga a liberação para utilizar no país. Mas, esse não é um debate que está sendo colocado dentro do grupo dos governadores, porque ainda estamos apostando em bom-senso, racionalidade e diálogo.

Já começa a circular a possibilidade de colocar em votação no Congresso uma legislação que permita a avaliação dessa imunização por um órgão técnico de saúde reconhecido por outro país. Se de fato esse movimento se acentuar, os governadores apoiam?

  • Nós vamos analisar todas as alternativas. O Congresso Nacional, no que diz respeito a todos os temas relacionados a pandemia, foi o protagonista e pode repetir isso. Em momentos de ausência do Governo Federal e do Ministério da Saúde nessa coordenação, o Congresso pode tomar decisões importantes que ajudem em uma política nacional com relação à vacina. Esse pode ser um debate que talvez tenha passagem dentro da nossa ação de governadores. É uma discussão que temos condições de fazer com o Congresso.

Ficou bem claro na discussão da semana passada que, tanto o presidente Jair Bolsonaro, quanto o governador João Dória, estão em cima do palanque e isso tem causado desentendimento. Quem vai mediar essa conversa e tentar amenizar o problema?

  • Acho que o Congresso Nacional pode ajudar a mediar. Assim como temos diversos governadores sem interesse na disputa nacional de 2022 que também podem auxiliar nisso. Tenho participado de todas as conversas e acredito que o governador de São Paulo, João Doria, mesmo com o interesse político, tem manifestado um comportamento equilibrado. Acho que se o Governo Federal empoderar o Ministro da Saúde para conduzir isso conosco, vamos encontrar um caminho que fortaleça a todos. Mas se assistirmos aos outros países vacinando a população e o Brasil não disponibilizando o imunizante, ele pode se enfraquecer. Quanto mais rápido conseguirmos disponibilizar a vacina, mais forte será o Governo Federal.

No grupo dos governadores existe consenso em relação à tentativa de fazer com que, caso essa imunização produzida pelo Instituto Butantan comprove-se eficaz, seja distribuída a população?

  • A grande maioria concorda. A maior parte dos governadores reconhece que o Instituto Butantan, assim como a Fiocruz, possuem muita responsabilidade e são reconhecidos internacionalmente. Não teria muita razão em não aproveitar esse passo que está sendo dado. Se juntarmos as vacinas produzidas, podemos, durante o ano que vem, alcançar toda a população brasileira. E se não fizermos isso nós vamos ficar um ano e meio ou dois, para imunizar toda a população. O que coloca em risco muitas pessoas, além de impossibilitar a retomada da economia como precisamos.

Está na mesa ainda a possibilidade da formação de um consórcio entre os Estados para comprar essa vacina mesmo que o governo federal não faça?

  • Não está na mesa ainda, porque não é um assunto que tenha sido discutido com os governadores. Nossa prioridade, no momento, é encontrar um caminho de entendimento com o governo federal. Acredito que possuímos os mesmos interesses e não temos razão em disputar nada agora. Precisamos deixar de lado ideologias e questões de interesse eleitoral para caminharmos junto nessa direção.

O senhor tem discutido com os técnicos e cientistas do Estado do Espírito Santo em relação à obrigatoriedade de se tomar a vacina?

  • Tenho discutido. Mas a questão da obrigatoriedade está muito mais ligada a uma campanha de imunização forte. Hoje nós temos mais de 80% das pessoas que querem tomar a vacina no Brasil, então não acredito muito na necessidade de se obrigar. A partir de uma população 80% vacinada, já teríamos uma imunização de rebanho.

Obrigar a população a tomar a vacina não seria o caso, então?

  • Não há necessidade obrigar. Nós vamos alcançar a imunização de rebanho com mais de 80% da população vacinada, junto daqueles que já contraíram a doença. Acredito que uma grande campanha de vacinação poderá atingir o resultado de proteção de toda a sociedade.

Em relação à situação atual do Espírito Santo, o senhor no final da semana passada já falava dos números e fez um alerta para que se tomasse cuidado devido ao aumento dos números de ocupação dos leitos no Estado novamente.

  • É verdade. A ocupação de leitos de alguns hospitais privados, mas não de hospitais públicos. Acho que as pessoas de classe média se isolaram mais no início e agora estão mais à vontade. Mas nós temos um crescimento da positividade. No auge da doença tivemos 70% de positividade. Caímos para 25% e, agora, estamos novamente em 40%. A demanda no nosso laboratório central por exames é crescente e também tivemos um aumento pequeno no número de óbitos na Grande Vitória. Atualmente, temos um mapa praticamente todo verde, em risco baixo, com apenas um município com risco moderado. Mas os sinais ainda exigem uma tensão porque foi emitido um alerta. Não é uma segunda onda, mas de um enfraquecimento da queda da pandemia no Estado.

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*Vinícius Viana é aluno dos 23° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão da editora Wanessa Scardua.

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