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Vacinação em massa: quando o ES sentirá os efeitos da imunidade coletiva?

Vacinação em massa: quando o ES sentirá os efeitos da imunidade coletiva?

Especialistas que acompanham o comportamento do novo coronavírus apontam os fatores que podem levar o estado a atingir a imunidade coletiva

Publicado em 4 de junho de 2021 às 02:00

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Vacinação drive-thru contra a covid-19 no Parque da Cidade, em Brasília
Coronavac é uma das vacinas contra a Covid-19 aplicadas no ES. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Autor - Isaac Ribeiro
Isaac Ribeiro
Repórter de Cotidiano / [email protected]
Vacinação em massa - quando o ES sentirá os efeitos da imunidade coletiva

Quando o governo do Estado vacinar, com duas doses, 70% da população contra a Covid-19, tiver a possibilidade de comprar imunizantes e aumentar a velocidade de aplicação, será possível perceber os efeitos da imunidade coletiva em território capixaba.

A análise é dos especialistas em saúde que acompanham o comportamento do novo coronavírus no Espírito Santo. De acordo com o Painel de Vacinação, até esta quarta-feira (2), 1.011.712 moradores tinham recebido a primeira dose no Estado.

O número representa 24,8% da população. Desse total, 427.603 moradores estão imunizados com a segunda dose, ou seja, 10,5%. A estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Estado em 2020 é de 4.064.052 habitantes.

Em abril,  a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) anunciou que o Espírito Santo poderia ser um dos primeiros estados do Brasil a conseguir atingir a imunidade coletiva de sua população, em relação à Covid-19, por meio da vacinação em massa. A expectativa foi dada pelo secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, e pelo subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin.

"Estamos preparando condições para que o Espírito Santo avance ainda mais na velocidade de vacinação e diante da possibilidade de aquisição de vacinas por parte do governo estadual ou incremento de doses enviadas pelo governo federal, manter a capacidade da vacinação rápida por parte dos municípios capixabas. Dessa maneira, nós entendemos que o Espírito Santo poderá ser um dos primeiros estados do Brasil, ao longo deste ano, a alcançar uma imunidade coletiva por meio da cobertura vacinal", afirmou Nésio.

A pós-doutora em Epidemiologia, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, acredita que o Espírito Santo vai acelerar o processo de imunização nesta fase da vacinação por faixa etária.

Aspas de citação

Quando conseguirmos chegar entre 70% a 75% da população vacinada, vamos diminuir o número de vírus circulando e começar, enfim, a controlar a pandemia. Vamos ter a taxa de transmissão abaixo de 0,5, que é quando a gente diz que estamos com a pandemia controlada. Ela deixa de ser pandemia e passa ser endemia

Ethel Maciel
Epidemiologista
Aspas de citação

A pesquisadora pontuou que, mesmo com o avanço da aplicação das doses, o vírus continuaria circulando, mas em números pequenos. Em geral, menos de um doente a cada 100 mil pessoas. "No Estado, significaria dizer que teríamos em torno de 42 casos novos por dia.  A vacina faz a imunidade coletiva, ou seja, mesmo aquelas pessoas não vacinadas ou que por algum problema não puderam se vacinar, também ficam protegidas porque a transmissão fica baixa", explicou Ethel.

Para o membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE) e diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, a escassez de oferta e a burocracia na aquisição de vacinas são dois empecilhos para o avanço da vacinação no Espírito Santo.

"Hoje somos o quarto estado que tem maior cobertura vacinal da primeira dose no Brasil. Se pudéssemos comprar direto com os laboratórios, conseguiríamos avançar muito. O Estado já sinalizou que tem interesse em comprar [...]. O Espírito Santo tem alguns fatores demográficos e geográficos que favorecem a distribuição das vacinas entre os municípios, por exemplo", analisou.

Fila para cadastramento da vacina contra a Covid-19, em Serrana, no interior de São Paulo. Município teve vacinação em massa como experiência científica
Fila para cadastramento da vacina contra a Covid-19, em Serrana, no interior de São Paulo. Município teve vacinação em massa como experiência científica. (Eduardo Anizelli/Folhapress)

ESTUDO EM SÃO PAULO

Os pesquisadores comentaram o estudo sobre vacinação desenvolvido pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana (SP). O município, que fica a 315 quilômetros da capital paulista, foi escolhido para uma experiência sobre os efeitos da vacinação em massa na população adulta.

O projeto conseguiu vacinar 95,7% dos 28.380 adultos da cidade, sendo que 27.160 pessoas com mais de 18 anos receberam as duas doses da Coronavac, em uma campanha finalizada em meados de abril.

Após a vacinação em massa, o número de casos sintomáticos caiu 80% e as internações foram reduzidas em cerca de 86%,  enquanto que 15 cidades vizinhas registravam alta no registro de infectados. 

O controle da transmissão no município se deu quando 75% da população elegível estava vacinada, o que indica que esse é o porcentual de imunizados que precisaríamos ter no País para atingir a imunidade de rebanho pela vacina e frear o vírus.

Na avaliação da pós-doutora em Epidemiologia, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, os resultados indicam que a vacinação em massa é uma estratégia capaz de controlar a pandemia.

"A notícia é muito animadora, principalmente a redução dos casos graves e dos óbitos, bastante alta, acima dos 95%, mas também a proteção contra a infecção, que era algo que a gente tinha dúvidas", analisou Ethel.

No entendimento de Pablo Lira, a realidade detectada em Serrana poderá ser percebida nos demais municípios quando o governo federal acelerar a compra de novas doses e fornecer condições para que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan tenham autonomia para produção do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), principal matéria-prima na produção de vacina.

"Isso é importante para não ser tão dependente dos fornecedores externos. O governo federal deveria estar priorizando isso também, e ao mesmo tempo, priorizar a plataforma de novas vacinas. Quanto mais rápido avançar nesse sentido, o Estado vai ser um dos primeiros a alcançar o percentual de pessoas já vacinadas com as duas doses", pontuou. 

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