Enquanto o Reino Unido inicia a vacinação contra a Covid-19 e outros países da Europa e também os Estados Unidos já têm planejamento definido, no Brasil a imunização em larga escala da população está prevista apenas para o segundo semestre de 2021. É o que afirma o secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, após participar de reunião do Ministério da Saúde com governadores e gestores da área nos Estados.
Em coletiva na tarde desta terça-feira (8), Nésio Fernandes revela que houve progressos nas negociações do governo federal para aquisição de vacinas, porém ainda falta a articulação nacional para que a imunização da população seja antecipada.
"A reunião foi importante, apresentou alguns avanços, especialmente em relação à negociação com Pfizer, gerando a expectativa que a compra deve se materializar. No entanto, em virtude da indústria não ter disponibilidade das mesmas vacinas do primeiro momento em que fez a oferta para o Ministério da Saúde - o governo federal não respondeu à proposta inicial - o calendário de entrega das vacinas pela indústria não atende a uma expectativa de vacinação ainda no primeiro semestre", pontua Nésio Fernandes.
O secretário reforça que o país ainda não tem uma "agenda ampla e robusta de vacinação em massa da população brasileira" que possa ser executada nos primeiros seis meses de 2021. "Mas há, e estamos convencidos, de que no segundo semestre as diversas estratégias já adotadas pelo Ministério da Saúde poderão garantir imunização de maneira igualitária em todas as regiões do Brasil."
Nésio Fernandes diz que o Espírito Santo, assim como os demais Estados que estiveram presentes à reunião com o ministro Eduardo Pazuello, vai insistir que, havendo vacinas disponíveis - como é o caso da chinesa CoronaVac produzida em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo - com capacidade de reforçar a imunização no primeiro semestre, de preferência no primeiro trimestre, o governo federal faça a aquisição dos imunizantes.
"É necessário que o Ministério da Saúde faça uma avaliação técnica e realize a aquisição de todas as vacinas disponíveis. Não consideramos correto que, no momento histórico que o Brasil vive, qualquer fratura no comando nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), qualquer fragmentação da disponibilidade de vacinas para a população. Entendemos que as disputas políticas e ideológicas não são adequadas, e atrapalham muito a condução desse momento de crise, quando temos a possibilidade de sair dessa crise com uma solução que irá preservar e salvar vidas", ressalta.
O encontro nesta terça durou quase três horas e, segundo Nésio, o ministro Pazuello disse que o Brasil já possui contratos com garantias para a compra de 300 milhões de doses de vacinas para 2021, além do avanço nas negociações com a Pfizer, que possibilitam o fornecimento de 8 milhões de doses no primeiro semestre e outras 62 milhões, a partir de julho.
O secretário reafirma, porém, a preocupação de todo o grupo que participou da reunião com a falta de mobilização em relação à CoronaVac, cuja utilização já está programada para janeiro em São Paulo. O governador João Dória e o presidente Jair Bolsonaro tornaram-se adversários políticos e rivalizam no enfrentamento da pandemia, e a vacina produzida pelo Butantan está no meio da disputa.
"Não houve afirmação categórica, clara e explícita da intenção imediata de aquirir as vacinas do Butantan, por exemplo. Não houve a apresentação de um calendário precoce como uma estratégia de iniciar o próximo ano com a vacinação intensa da população", observa Nésio Fernandes.
Pelo planejamento atual do ministério, diz Nésio Fernandes, há uma perspectiva de começar a vacinação de um pequeno grupo a partir da segunda quinzena de fevereiro ou primeira de março. O secretário aponta que os Estados defendem a condução desse trabalho pelo Ministério da Saúde para que haja uma unidade na estratégia de imunização no país.
"Mas reforço que o governo do Espírito Santo vai desenvolver todos os esforços na perspectiva que alcancemos uma estratégia para imunizar toda a população ainda no primeiro semestre (e não só um pequeno grupo). Estamos preparados no Estado com as melhores práticas, e o que nos preocupa, é a ansiedade de todos os gestores, trabalhadores e sociedade, é não ter estratégia clara do Ministério da Saúde para antecipar o início dessa vacinação em massa."
A refrigeração das vacinas da Pfizer, que era vista como um problema, não é mais um impeditivo para a aquisição das doses no país. A necessidade de armazenamento em temperatura a - 70 graus foi contornada pela própria fabricante, segundo explica o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, durante a coletiva.
"O Espírito Santo, assim como todos os Estados, tem uma tecnologia de utilização com um ambiente frio de 2 a 8ºC. Temos a informação de que a Pfizer coloca a vacina em um ambiente próprio, que mantém uma temperatura de -70ºC. Então, o Espírito Santo, assim como o restante do mundo, receberia, se fosse o caso, a tecnologia necessária em uma caixa preparada para fazer a manutenção por pelo menos 30 dias", afirma Reblin, acrescentando que, com essa tecnologia, as doses ainda podem ficar na geladeira das unidades de saúde, na temperatura padrão, por mais alguns dias.
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