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Valorização de povos tradicionais: lideranças do ES respondem redação do Enem

Valorização de povos tradicionais: lideranças do ES respondem redação do Enem

O tema da redação do Enem 2022 foi "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil". A Gazeta procurou lideranças do Espírito Santo para saber o que elas escreveriam sobre o assunto

Publicado em 14 de novembro de 2022 às 17:14

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Enem 2022
Mão de estudante preenchendo gabarito. (Freepik)

Um dos principais componentes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a prova de redação teve como tema, em 2022, os "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil".

A Gazeta procurou lideranças do Espírito Santo para saber o que elas escreveriam sobre o assunto. Entre os destaques estão: políticas públicas, a dificuldade de acesso à educação e compreensão sobre quem são os povos originários.

Confira as diferentes visões sobre o tema:

Jacqueline Moraes, vice-governadora do Espirito Santo

  • 1

    Jacqueline Moraes, vice-governadora do Espirito Santo

    Os povos tradicionais resistem às injustiças. No Espírito Santo, resistem comunidades tradicionais quilombolas, mais concentradas no norte a partir de São Mateus e Conceição da Barra, e tanto quanto dispersas, em Viana, Santa Leopoldina, Cachoeiro de Itapemirim, principalmente. Em Aracruz, 10 aldeias tupi-guarani estão organizadas e melhor assistidas. Precisamos promover políticas públicas adequadas e necessárias que levem em conta a história, cultura e modos de vida e produção dessas comunidades, mas também suas expectativas com os bens do progresso. Nosso governador capixaba - termo tomado emprestado dos primitivos povos - investe nas buscas por soluções de futuro, de ciência, tecnologia e inovação, e com capacidade de conviver e promover nossos povos originais. Apostamos, enquanto Governo, na preservação e valorização dos povos e comunidades tradicionais, buscando a melhoria das condições de sustentabilidade desses grupos no Estado do Espirito Santo.

  • 2

    Luzinete Serafim Blandi, do Quilombo São Domingos, Conceição da Barra

    Os desafios para nós, dos povos tradicionais, são muitos, mas o acesso à educação é um dos principais, é importante para valorizar a história das comunidades. Somos poucos, mas já temos muitas pessoas das comunidades sendo inseridas no mercado de trabalho. Quantos hoje trabalham na saúde, na educação, em outros setores? Tudo porque houve uma valorização do acesso ao ensino e, nos últimos anos, estávamos perdendo tudo isso. Nosso medo era voltarmos à estaca zero. Estávamos perdendo o que tínhamos conquistado com muito sacrifício. O desafio, agora é reconquistar esse direito. Muitos foram desistindo no caminho.

  • 3

    Jocelino Quiezza Tupinikim, da Aldeia Caieira Velha, em Aracruz

    Não é um tema muito abordado em sala de aula no dia a dia, o indígena continua sendo tratado como aquele ser exótico que tem o seu lugar de preservação, dentro de um determinado perfil identitário, comemorado em certas datas, e isso só conduz o indivíduo a um olhar estereotipado, produzindo olhares limitados. Digo limitados a uma ideia romântica do Indígena, e não de um olhar mais aberto, que trás o sujeito a pensar que este país fora invadido há pelo menos 522 anos e que este Brasil foi constituído sobre o sangue dos mais de 1.400 povos, somando pelo menos 6 milhões de pessoas, falando pelo menos 1.300 línguas diferentes, esses que muitos foram mortos tendo todo o seu território invadido, e os que resistiram a todas as imposições tiveram o seu modo de vida impactado, sendo escravizados por séculos. Infelizmente, a escola do Brasil não condiciona o sujeito a pensar que o Indígena é tão ser humano quanto qualquer outro, motivo este que vivemos muitas das vezes para dar resposta à sociedade de quem somos — e sempre somos questionados de não sermos quem dizemos ser pelo que temos. As pessoas não conseguem distinguir o ser do ter. Não sei se por um pensamento conduzido ou por pré-conceito ou coisa parecida. A verdade é que nós, povos Indígenas, existimos e vamos continuar lutando pelos nossos direitos, dos nossos territórios culturais, educacionais, pelo respeito, pelo direito a vida. Não podemos nos silenciar diante de uma sociedade que sempre quer nos calar, nos condicionando a um lugar de peça de museu ou de algo parecido. Somos povos, temos as nossas organizações próprias, nossas línguas, nossos cantos, nossas danças, nossas histórias, memórias e trajetórias. Temos nossa relação com o Território e tudo isso precisa e deve ser respeitado.

  • 4

    Hauley Valim, sociólogo. Trabalha com mobilização de comunidades tradicionais impactadas pela mineração no Rio Doce

    O desafio para valorização dos povos e comunidades tradicionais no Brasil e no Estado do Espírito Santo passa pelo reconhecimento da importância das comunidades como portadoras de saberes ancestrais, antigos, sobre como cuidar da natureza de forma eficiente, ter uma economia equilibrada, onde a natureza oferece tudo aquilo que a gente precisa. Essas comunidades são portadoras de saber, de como cuidar, de como viver a partir daquilo que a natureza oferece. Sete anos atrás, em Linhares, por exemplo, não havia nenhuma comunidade tradicional indígena ou quilombola reconhecida nos limites municipais. Hoje, a gente tem a comunidade indígena de Areal, que é uma comunidade Botocuda, que já tem um reconhecimento pela Funai, a gente tem a comunidade de Degredo, que também foi reconhecida pela Fundação Palmares. Ambas sem acesso ao território. Não tiveram território demarcado, mas foram reconhecidas. Valorizar as comunidades tradicionais significa olhar para essa história de invisibilização dessas comunidades, e reconhecendo viabilizar as políticas públicas que tenham condições de garantir os direitos delas.

  • 5

    Fabiano Contarato, senador (PT-ES)

    A barbárie contra os povos indígenas vem ocorrendo de forma sistemática nos últimos anos no Brasil. A degradação ambiental, a violência e a presença de intrusos são fatores que ameaçam gravemente a segurança e a manutenção dos modos de vida das comunidades. Tanto o Brasil como o mundo atestaram o fiasco da política ambiental deste atual governo. Demoraremos muitos anos para recuperar esse passivo causado pela ação e pela omissão. Temos que estar ao lado desses povos gigantes defendendo a demarcação de suas terras e a preservação de seus direitos, contra a mineração predatória em seus territórios e contra o lançamento de agrotóxicos em aldeias. Um dos caminhos para contribuir, imediatamente, para a proteção das nossas populações originárias é que seja retomado o julgamento do processo sobre o marco temporal nas terras indígenas que vem sendo discutido no Supremo Tribunal Federal. Caso o Supremo rejeite, os diversos conflitos envolvendo o tema terão sua solução, assim como os processos judiciais, atualmente em tramitação, serão resolvidos.

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