Em menos de 24 horas, a vaquinha para comprar uma casa adaptada para a diarista Marciane Pereira dos Santos – que foi queimada pelo ex-companheiro na Serra, em 2018 – bateu a meta de R$ 170 mil. Nesta sexta-feira (9), quatro dias depois do lançamento da campanha, o valor já está em mais de R$ 192 mil.
A "vaquinha" virtual foi organizada pela Voaa, plataforma de financiamento coletivo do site Razões Para Acreditar, após a história voltar à tona no último dia 30, quando aconteceu o julgamento de André Luis dos Santos, o homem acusado de atacar e queimar 40% do corpo dela. Ele foi condenado a 32 anos de prisão.
O jornalista e professor Filipe Chicarino foi quem fez a ponte entre Marciane e a plataforma da "vaquinha". Ele, que está escrevendo um livro sobre a história da diarista, acompanhou o julgamento que condenou o agressor. No dia seguinte à sentença, ele resolveu tentar contato com o site.
"Joguei o link de um vídeo que eu tinha feito no julgamento e vendi a pauta. Eles gostaram da história e coloquei as duas partes em contato", explicou Chicarino.
Com o resultado, Marciane contou que ficou sem palavras para descrever o sentimento de felicidade e gratidão. "É muita alegria. Por mais que eu agradeça, nunca será suficiente, terei de agradecer eternamente", disse.
De acordo com Gessica Abe, coordenadora de Campanhas da Voaa, a vaquinha de Marciane foi ao ar às 20h de segunda-feira (5). Às 16h do dia seguinte, a meta de R$ 170 mil já tinha sido alcançada.
"É uma alegria muito grande. A gente vibra com cada campanha que bate a meta, cada objetivo alcançado. Infelizmente a gente não tem como tirar o trauma vivido, mas amenizar a vida dela, a gente consegue", pontuou.
Segundo ela, a campanha ainda vai ficar no ar por mais alguns dias, até que as doações diminuam. O valor arrecadado deve ser entregue à Marciane até 30 dias após o encerramento da vaquinha.
O objetivo da arrecadação é comprar uma casa adaptada para Marciane, que devido à violência sofrida precisa se locomover usando uma cadeira de rodas. A casa alugada em que ela vive com os filhos é pequena e sem acessibilidade, comprometendo a qualidade de vida dela e da família.
A diarista revelou que comprar a casa própria era um plano antigo. "Esse é um sonho que tenho desde criança. Minha mãe sempre morou de aluguel. Foram muitas humilhações... A gente já chegou a morar embaixo da ponte porque mamãe não tinha como pagar o aluguel. Poder ter um lugar para chamar de meu é uma alegria que não sei descrever."
A agressão aconteceu em setembro de 2018, após Marciane Pereira dos Santos colocar fim em um relacionamento abusivo. Na época do crime, ela tinha 36 anos e ficou internada em estado grave após o ex-companheiro atear fogo no corpo dela. O ato aconteceu na frente dos filhos, em Jardim Tropical, na Serra.
O ex-marido, André Luis dos Santos, passou a morar no andar de cima da casa da ex-esposa logo após a separação. A diarista vivia no local com a filha de cinco anos, fruto de um relacionamento anterior, e com o filho do casal, que na época tinha apenas dois anos de idade.
Por causa das queimaduras, a diarista perdeu a perna esquerda, dedos da mão direita e a aparência que tinha antes do crime. Em 2020, a reportagem de A Gazeta entrevistou Marciane, que deu detalhes de como o crime aconteceu. "Quando eu me deparei com aquilo, pronto, era meu fim. Se eu ia sobreviver ou não, estava na mão de Deus."
No dia 30 de agosto deste ano, André foi condenado por tentativa de homicídio qualificado: por motivo torpe, por ter utilizado recurso que dificultou a defesa da vítima, por ter ateado fogo na vítima e por feminicídio. Pelo crime, ele deverá cumprir 32 anos de prisão.
Durante o próprio depoimento feito na sessão do Tribunal de Juri, o réu chegou a pedir desculpas à vítima. Responsável pela defesa de André, o advogado Ailton Ribeiro afirmou que recorreu da decisão. Ele não contesta a condenação, mas espera que a pena dado ao cliente seja reduzida.
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