O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou, na tarde desta sexta-feira (15), da inauguração das obras do Contorno do Mestre Álvaro, na Serra. Durante pouco mais de 20 minutos, falou sobre investimentos no Espírito Santo, relembrou trágico acidente na BR 101 no Norte do Estado e criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro.
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Confira, na íntegra, a fala do presidente:
Queridas companheiras e queridos companheiros. Meu querido companheiro, o governador do Estado do Espírito Santo, nosso querido companheiro Renato Casagrande. Nosso querido senador, ministro do Transporte, o companheiro Renan Filho. O nosso querido ministro interino do Transporte, George Santoro. O nosso querido, admirado, senador do Espírito Santo, Fabiano Contarato. Nossos deputados, deputadas federais Da Vitória, do PP do Espírito Santo; Jack Rocha, do PT do Espírito Santo; Helder Salomão, do PT do Espírito Santo; e Gilson Daniel, do Podemos do Espírito Santo.
Sérgio Vidigal, nosso querido prefeito de Serra. Deputados e deputadas estaduais, querido companheiro João Coser e Iriny Lopes e Alexandre Xambinho. Nosso querido companheiro Romeu Scheibe Neto, superintendente regional do Dnit. Eu queria começar essa conversa dizendo da minha alegria de estar revendo o meu companheiro Perly Cipriano.
O Perly pensava que era comunista, mas se tem um cara que é obrigado a acreditar em Deus aqui no Espírito Santo é o Perly. Porque no dia 10 de julho de 99, a gente estava indo de São Mateus não sei pra onde, acho que voltando pra Vitória, e a gente estava numa turma, tinha três ou quatro carros. O João Coser me chamou e eu vi.
Mudei de carro. Eu estava no carro, exatamente o carro que pegou fogo, e eu fui numa Blazer dirigida pelo companheiro João Carlos Coser. A minha secretária, que estava comigo no carro, foi na Blazer. A gente não deixou ela ir, porque era preciso ficar no outro carro. E o companheiro Perly estava no carro de trás, no carro do companheiro Otaviano [de Carvalho], que era o deputado nosso estadual, que faleceu.
Naquele dia, para os mais jovens que estão aqui, a gente estava tranquilo, tinha parado no posto, tinha enchido todos os tanques dos carros. Estávamos vindo muito tranquilos, era uma subida, ninguém estava em alta velocidade e o tráfego parou. Eu parei. Na verdade, eu não parei, o João Coser parou o carro dele, parou um carro atrás e atrás parou o Fiat que estava o companheiro Perly e o companheiro Otaviano e a Beth, que era a minha secretária.
Daqui a pouco veio um caminhão e, de forma desgovernada, não sei por que, o caminhão bateu no carro do Perly, estourou o tanque de gasolina e o carro deles pegou fogo. A Beth... A única coisa que eu lembro é que eu estava no carro da frente e eu ouvi as pessoas gritarem: 'Vamos sair daqui que o carro vai explodir, vamos sair que o carro vai explodir'.
E um monte de caminhoneiro parava, pegava o extintor de incêndio e quase nenhum extintor conseguia funcionar, numa demonstração de que faltava investigação para saber se os caminhões, quando vão, os carros, se os extintores estão funcionando. Aí tentou-se abrir a porta. O Perly conseguiu sair. Eu encontrei com Perly quando eu desci do carro, parecia um bife ambulante. O Perly estava cheirando a carne assada, com o rosto todo queimado.
E nós fomos para tentar ver o Otaviano, o Otaviano sentado no carro. Aquela proteção que tem no volante do carro porque ela, no meio da batida, pegou fogo. O Otaviano não conseguiu abrir o cinto de segurança. Nós tentamos abrir a porta do carro com machadada. Não conseguimos abrir a porta e morreu dentro do carro, o Otaviano e a minha secretária Beth, que morava na cidade de Santos.
Aquele foi, possivelmente, um dos momentos mais tristes que eu vivi na minha vida e por isso que eu fiquei feliz de estar encontrando o companheiro Perly Cipriano, bonito, forte, rindo, sabe? E ainda com um boné vermelho na cabeça.
Agora, eu também tenho muitas alegrias aqui do Espírito Santo. Aqui eu construí muitos amigos, aqui, eu tenho certeza que, no mandato de 2003 a 2010, eu fui o presidente da República que mais investiu dinheiro nesse Estado.
Nenhum governador, de qualquer partido político que fosse, poderia dizer que um dia a gente o destratou, porque a gente sempre tratou todo mundo com respeito. O Gerson Camata era o companheiro que mais falava: "Presidente Lula, nunca um presidente do Brasil colocou tanto dinheiro aqui como o senhor colocou". E o Gerson Camata foi vítima também de uma desgraça, de um irresponsável que o matou.
Mas eu tenho recordações maravilhosas das quantas vezes eu vim aqui nesse Estado. Eu viajei. Na construção da quantidade de amigos que eu fiz aqui. Mas o que me deixa saudade mesmo é que aqui foi o Estado que a gente elegeu o companheiro Vitor Buaiz, prefeito da Capital, pela primeira vez. Em 2002, elegemos o primeiro governador do Estado, aqui, o companheiro Vitor Buaiz, um médico da maior competência, médico muito competente, que só cometeu um erro, Casagrande: ele acreditou demais no governo federal, que não o ajudava como a gente faz. Ele acreditou demais, e o Vitor Buaiz perdeu as eleições.
Depois, não tinha reeleição naquele tempo, e o Vitor Buaiz foi uma pessoa que eu guardo dele a melhor recordação de relação entre dois seres humanos. Eu sei que ele queria vir aqui, não pode vir, porque a mulher dele acho que teve um problema, mas vocês quando encontrarem com o Vitor Buaiz deem um abraço nele e digam que ele continua morando nesse coração velho aqui, que não sabe deixar nenhum amigo pra trás.
A segunda coisa é da minha relação com esse Estado aqui, da minha relação com as cidades do interior, da quantidade de coisa que a gente pôde vir aqui inaugurar. E fazia um tempo que eu não vinha aqui. Fazia um tempo.
E eu queria fazer uma pergunta pra vocês. O nosso país passou por um momento muito difícil, muito difícil. Eu queria fazer uma pergunta para vocês. Eu quero que vocês sejam honestos aqui. Não honesto comigo, honesto com vocês mesmos. Se algum de vocês se lembra de um metro de rodovia inaugurado pelo governo passado nesse Estado? Se alguém souber, me conte, porque em todos os Estados, Casagrande, em todos os Estados da federação que eu vou, em todos, eu pergunto pra todo mundo se alguém lembra uma obra que 'aquela coisa' inaugurou.
Eu vou dar um exemplo pra vocês. Eu vou dar um exemplo pra vocês. O companheiro Casagrande falou, o nosso prefeito falou e o nosso ministro do Transporte falou aqui. Olha, nós começamos a governar esse país, é uma situação inusitada. Nunca houve no mundo político uma situação dessa. Eu, faltavam dois meses para tomar posse, e nós tivemos que começar a governar esse país, porque esse país não tinha sequer orçamento para que a gente administrasse 2023.
E ainda colocamos na PEC de transição dinheiro pra pagar as contas dele, de um cidadão que não merecia nenhum respeito. Porque é verdade que ele não inaugurou nenhuma obra aqui, mas ele inaugurou ódio entre filhos, o ódio entre pais, a mentira, as mais deslavadas mentiras, as intrigas entre famílias. Tem família que não conversa mais, tem pai que não conversa com filho, tem filho que não conversa com mãe, tem irmão que não conversa com o irmão por causa de um facínora, Um facínora que pregou o ódio durante quatro anos neste país. Mentiu e pregou ódio.
Vê se alguém lembra quantas faculdades ele inaugurou? Vê se alguém lembra quantas escolas técnicas ele inaugurou? A verdade, Casagrande, é que eu vou contar uma novidade para você. Em quatro anos, em quatro anos que ele governou esse país, ele gastou nos transportes em quatro anos, gastou R$ 21 bilhões em quatro anos. Nós, em apenas um ano, de 2023, já colocamos R$ 23 bilhões no transporte.
Isso vale para o transporte, vale para a educação, isso vale para a saúde, isso tudo vale para qualquer coisa, inclusive, para financiamento. Para financiamento do pequeno e médio produtor rural. A política de crédito que nós estamos fazendo para o pequeno e médio empresário, para o pequeno e médio empreendedor individual, é quatro vezes neste ano o que ele fez em quatro anos. Este país saiu de um momento de tortura para voltar para o momento de paz, de tranquilidade, de crescimento econômico, de geração de emprego e distribuição de riqueza.
Se preparem, porque muita coisa boa vai acontecer neste país. Se preparem, se preparem porque o emprego vai crescer. Junto com o emprego, vai crescer o salário. Se preparem, porque nós vamos criar uma poupança para o ensino médio para que nenhuma menina e nenhum menino desista de fazer o ensino médio e ainda perdeu uma profissão. Se preparem, porque nós vamos fazer escola em tempo integral neste país para que a gente possa colocar as crianças o dia inteiro na escola.
Se preparem, porque eu estou com o compromisso de fazer mais 100 institutos federais nesse país e fazer mais universidades nesse país. Se preparem, porque a gente vai provar que o que resolve o problema de um povo não é a instigação do ódio, utilizando a boa-fé do povo evangélico, para mentir dizendo que a gente ia fechar igreja, dizendo que a gente ia fazer banheiro unissex, dizendo que a gente ia fazer isso ou aquilo.
Eles têm que saber de uma coisa: se tem um cara nesse país que acredita em Deus, é esse que está vos falando aqui, porque somente Deus é que poderia fazer um menino de cinco anos de Garanhuns, com sete irmãos, predestinados a morrer de fome, sair num pau-de-arara de Pernambuco, andar 13 dias até São Paulo.
Chegando lá, encontramos meu pai com outra família. A minha mãe se separou do meu pai, nós fomos morar sozinhos, e esse filho, que escapou da morte até os cinco anos de idade, que não teve diploma universitário, é o presidente da República mais eleito desse país. Isso só pode ser coisa de Deus. Não tem outra explicação. Não está escrito nos livros de História, não está escrito nos livros de Sociologia, não está escrito num livro de Filosofia.
Somente Deus é que poderia fazer que o filho de dona Lindu, semianalfabeto, que não morreu de fome, fosse eleito três vezes presidente da República desse país. E voltamos. Voltamos porque eu quero provar mais uma vez. É preciso provar. Eu quero provar mais uma vez que um metalúrgico, torneiro mecânico, pode fazer por esse país o que em 500 anos a elite brasileira não fez pelo povo brasileiro.
Porque o ódio contra nós é porque eles não gostam de trabalhador pobre. Eles não gostam de negros, eles não gostam de liberdade, autonomia das mulheres. A mulher tem que ser objeto. Não. A mulher é cidadã, é sujeito da história e ela não tem que pedir licença para ninguém. Ele não gosta de LGBT, não gosta de negro, não gosta de nada que não seja o tradicional nesse país.
E é tudo que eu gosto, é tudo o que eu gosto. Eu gosto de gente, eu gosto de ser humano, eu tenho sentimento, eu não sou algoritmo. Eu sou um ser humano com sentimento, eu governo com o coração. Eu estou aqui, mas eu estou sentindo o batimento do coração de vocês. É o nosso coração bate no mesmo ritmo por um Brasil mais justo, por um Brasil mais saudável, por um Brasil mais desenvolvido, por um Brasil que não tem que esperar 40 anos para fazer uma operação na artéria de transporte mais importante da Serra. Essa obra poderia ter sido feita em 2013, há 8 anos atrás, há dez anos atrás. Mas não fez e ela só foi sendo tocada.
E eu quero agradecer aos deputados, a bancada do Espírito Santo, que colocaram o dinheiro pra essa obra não parar. Por isso, gente, eu queria pedir para vocês uma coisa: quando a gente vem para um palanque como esse e a gente traz um deputado ou um senador de outro partido político, é importante que vocês não os tratem como adversário, porque nós precisamos trabalhar junto com eles dentro do Congresso Nacional.
A gente vai disputar na época da eleição, mas depois da eleição eu preciso governar. De 513 deputados, o PT só tem 70. Então nós precisamos conversar com muita gente. Nós precisamos tentar convencer pessoas, e é assim que a gente governa. É assim que o Casagrande governa. É assim que o Renan governou, é assim que o prefeito de Serra governa. E é assim que a gente vai recuperar esse país.
Ontem, eu participei da Conferência Nacional da Juventude. Mais de 3 mil jovens estavam lá, e a juventude é uma preocupação permanente minha, porque eu tive cinco filhos, eu tenho oito netos e tenho uma neta. E eu sei que no coração de cada mãe que está aqui, eu sei que no coração de cada pai que está aqui, a preocupação maior não é deixar fortuna para um filho, não. É deixar a educação para que um filho possa ter uma profissão, se formar, e ajudar a construir sua família e viver decentemente.
Eu sei que cada um de vocês quer ter o emprego de melhor qualidade, quer ter mais oportunidade e é isso que a gente vai fazer através de investimento em educação.
E vocês têm que ajudar. Cada mentira que você veem na internet, desmintam na hora. Não fique quieto, não deixe a mentira vencer a verdade. Não fique com medo dos desaforados, não fique com medo do "garganta", do cara que acha que pode, do cara que bate em mulher. Minha mãe era analfabeta e a minha mãe dizia para mim: "Meu filho, se um dia você tiver que levantar a mão para bater na sua mulher, é melhor que a sua mão caia".
E é assim que nós, homens, temos que nos comportar. Nunca levantar a mão para bater numa mulher, por mais errada que ela esteja. Porque se você desrespeitar a sua companheira, o seu filho e a sua filha vão crescer com isso na cabeça. E a gente tem que trabalhar a vida inteira para que o filho da gente e a filha da gente seja melhor do que a gente, tenha mais sorte do que a gente, ganhe mais do que a gente e viva melhor do que a gente.
Por isso, Casagrande, é um prazer. Eu tenho ainda três anos de mandato. Você tem três anos de mandato e você pode ficar certo que a gente vai resolver o problema da ferrovia que o Renan falou, que a gente vai resolver o problema das rodovias que ele falou. Mas a gente quer resolver de forma prioritária a garantia de que nesse país nunca mais uma criança vá dormir com fome por falta de um copo de leite.
A gente quer garantir que todas as pessoas tenham a oportunidade de um trabalho decente, digno. A gente quer garantir que qualquer criança, qualquer adolescente, independente da origem que ele nasceu, independente do bairro que ele mora, independente da casa que ele mora, tenha direito de disputar uma vaga na universidade com o filho do mais rico deste Estado.
Nós não queremos tirar nada de ninguém. Nós queremos apenas dar chance a quem nunca teve chance nesse país. Nós queremos comer comida de qualidade, vestir roupa de qualidade, usar sapato de qualidade, namorar no final de semana, comer uma moqueca capixaba, comer um churrasco e viver bem com nossa família. É esse mundo que nós temos que construir. E é esse mundo que eu prometo a vocês. E, junto com vocês, ninguém impedirá que a gente construa.
Um beijo no coração de cada uma de vocês, de cada um de vocês e até a próxima oportunidade. Se Deus quiser.
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