O sonho de uma vacina contra o novo coronavírus está cada vez mais próximo do brasileiro desde que a Coronavac, do Instituto Butantan, teve 78% de eficácia comprovada em casos leves e 100% em quadros moderados e graves da Covid-19. O Plano de Operacionalização da vacinação no Brasil, criado pelo Ministério da Saúde, não prevê a imunização de crianças, adolescentes e grávidas, ao menos por enquanto.
Um dos motivos para esses grupos ficarem no fim da fila para receber a vacina é não serem os mais afetados por casos graves ou mortes por Covid-19.
"O plano nacional de vacinação é feito de acordo com estudos epidemiológicos. Foi verificado que 52% de óbitos eram de idosos e adultos com comorbidades, que é quando tem outra doença associada. Crianças e jovens são os que menos morreram desta doença e ainda não há um perfil de segurança para grávidas", descreve o farmacêutico Antônio Júnior, que é professor dos cursos da área da saúde da Multivix.
Com mais de 200 milhões de habitantes no Brasil e com a grande possibilidade de serem necessárias duas doses da vacina, é inviável que haja a imunização de todos os brasileiros de uma só vez, portanto, há necessidade de priorizar grupos.
"Não é possível ter doses disponíveis para todos no mesmo momento, lembrando que o mundo todo quer essa vacina. Já do ponto de vista de logística, armazenamento, além das filas, que não podem gerar aglomerações, é imprescindível definir prioridades. Além de quem morre mais, também estão neste grupo algumas categorias de profissionais que estão mais expostos", pontuou o infectologista Alexandre Rodrigues.
Rodrigues também pontua que o impacto de crianças e adolescentes na transmissão é bem menor do que entre jovens adultos, que são os maiores responsáveis pela disseminação do vírus, em especial por promoverem aglomerações e festas.
Contudo, quando a vacinação alcançar a totalidade de adultos não significa que os pequenos serão os próximos a tomarem o imunizante. "As vacinas do mercado foram testadas em adultos, não em crianças, o que é uma prática para toda vacina nova. A eficácia é feita separadamente em grupos etários, pois a resposta imunológica não é a mesma. A imunidade de pessoas idosas respondem pior à doença. Já crianças ainda não tem um sistema imunológico ao ponto de produzir vacina apenas, por isso no calendário vacinal é repetida a aplicação, pois a imunidade está sendo construída", detalha o infectologista.
A vacinação visa evitar que o coronavírus se desenvolva no organismo, ou seja, impedir que a pessoa adoeça ou, se adoecer, que seja de forma não grave. Por isso, o fato de parte da população estar imunizada não impede que o vírus continue a circular.
"A vacina impede o desenvolvimento, não impede a transmissão. Não estamos falando de cura, mas sim de imunização. Quem está imune cria resistência e anticorpos, mas pode passar para outros, caso tenha contato com o vírus", observou Antônio Júnior.
Portanto, cuidados como uso de máscaras, higienização adequada e manutenção do distanciamento social devem continuar até que 100% da população seja imunizada.
"A vacina é um acréscimo, por enquanto. A redução na transmissão da doença pode demorar a ser observada. Só quando o impacto dessa vacinação causar redução de casos teremos segurança para mudar comportamento", completou o infectologista Alexandre Rodrigues.
O tempo também deverá mostrar, a partir da imunização de parte da população, se a imunidade gerada também é capaz de estimular a imunidade para todas as mutações do vírus. "Precisamos saber que como o coronavírus vai se comportar, talvez tenhamos que tomar todo ano a vacina", afirma Antônio Júnior, que também é coordenador do projeto Avaliações das Mutações no Gene Codificador da Proteína Spike do SarsCov2 da Multivix.
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