O Espírito Santo ultrapassava, há uma semana, a marca de 500 pessoas mortas por Covid-19. Em um ritmo cada vez mais acelerado de disseminação da doença, nesta quarta-feira (3) já há o registro de 698 óbitos decorrentes da infecção pelo coronavírus, ou seja, foram confirmadas quase 200 mortes no intervalo de sete dias. O número de infectados também deu um salto no período: de 11.484 para 16.121.
Caso a velocidade de contágio não diminua, em 15 dias o Estado pode dobrar o número atual de mortes, alcançando algo em torno de 1,4 mil pessoas, isso ainda se o sistema de saúde não entrar em colapso. Do contrário, a quantidade de óbitos será ainda maior.
A projeção é de Etereldes Gonçalves Júnior, professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e um dos representantes da instituição no núcleo de assessoramento técnico ao governo do Estado nos assuntos relacionados à Covid-19.
A estimativa do professor leva em consideração a taxa de transmissão da doença que, no espaço de 15 dias entre as duas etapas do inquérito sorológico realizado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), passou de 1,71 para 1,85. Estes indicadores representam a quantidade de pessoas infectadas por cada doente.
Em uma análise dos dados feita pela equipe em que Etereldes atua, até o dia 15 de junho o Espírito Santo poderá superar os 1,4 mil mortos. "Estamos num momento de ascensão acelerada. Temos uma taxa muito alta e, a cada décimo que sobe, são mais casos e morte", aponta.
E, mesmo com uma projeção tão ruim, ainda não se trata do pior cenário. O professor explica que o número de mortes estimado considera que todas as pessoas que eventualmente precisem de atendimento médico, vão recebê-lo. Contudo, se a pressão sobre o sistema de saúde for elevada a ponto de não haver mais leitos para internação, os óbitos vão aumentar.
"Podemos ter duas semanas pela frente bastante duras. As pessoas que estão morrendo hoje não é por falta de atendimento. As previsões não consideram o colapso do sistema, o que elevaria consideravelmente a quantidade de óbitos", ressalta Etereldes.
O número de casos e mortes registrados só vai começar a reduzir quando a taxa de transmissão for abaixo de 1, quer dizer, quando cada doente infectar o equivalente a menos de uma pessoa. Para tanto, segundo o professor Etereldes, são duas as opções disponíveis atualmente: distanciamento social e imunidade de rebanho.
O isolamento é um recurso que todos os organismos de Saúde recomendam, bem como o governo do Estado tem insistido para que a população adote esse comportamento a fim de desacelerar a transmissão da Covid-19 e evitar medidas mais rigorosas para o controle da doença.
Já a imunidade rebanho é aquela alcançada quando boa parte da população já contraiu determinada doença e, assim, diminui a circulação do vírus. Contudo, aponta Etereldes, para a Covid-19 ainda não há um percentual definido para conseguir essa imunização, embora alguns locais tenham obtido resultado a partir da contaminação de 30% dos habitantes. O problema é que, caso o Estado tenha que alcançar 1,2 milhão de infectados (30%) para começar a reduzir a transmissão, o número de mortes também vai crescer.
Pelas análises do professor, o distanciamento é o que possibilitará a redução sem tantas perdas. Por esse motivo, em sua opinião, a adoção do lockdown (bloqueio total de atividades) não deve demorar mais, sob risco de a medida se tornar inócua. Para justificar sua avaliação, Etereldes usa uma metáfora.
"Não adianta tentar frear a epidemia agora, se não houver espaço suficiente para frear porque vai bater. O freio é de ação lenta e, no caso da Covid, só vai fazer efeito daqui a 12, 14 dias. O que vemos agora, não é resultado de medidas que acabaram de ser tomadas, mas que tomamos há duas semanas. Quando freio agora, só daqui a duas semanas também vamos sentir os efeitos. Pode ser que o espaço que temos não seja o suficiente para frear e, assim, vamos colapsar. O freio e o tempo dele são muito importantes. Na verdade, acho o lockdown inevitável", conclui.
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