"É muito difícil viver sem mobilidade, em especial para os animais, que não têm como usar uma bengala. E é inconcebível viver com dor", disse o médico veterinário cirurgião, especialista em ortopedia e neurocirurgia, Diogo Garnica, que atua no Estado de São Paulo. Ele veio, voluntariamente, ao Espírito Santo realizar uma cirurgia complexa na tíbia de um gavião. O procedimento, que terá início às 9h30 desta quarta-feira (23), será realizado em um centro médico veterinário da Praia do Canto, em Vitória, com duração prevista de uma hora e meia.
De acordo com o especialista, o animal estava sendo reabilitado pelo Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (Ipram), que também resgata e cuida de animais da fauna exótica. "O Espírito Santo é muito rico em espécies silvestres. E este gavião estava morando lá no Ipram. Ele tinha um problema na asa, já estava ficando bem, mas, com uma ventania muito grande, algo colidiu e fez fratura na perna dele. Então eles me procuraram. Já costumo vir para cá com frequência, quase semanalmente, para realizar cirurgias de alta complexidade na área", contou.
Para cuidar do gavião Garnica disponibilizou tempo e arcou com todos os custos, inclusive os da prótese necessária para o procedimento. "O instituto vive de doações, então me disponibilizei. O pessoal da clínica disponibilizou anestesista. Colocaremos um implante, um pino ou placa na perninha, foi uma fratura bem feia. Quanto mais a gente invade as áreas desses animais, mais eles acabam vindo para a área mais urbana e colidindo. Não é minha primeira vez aqui com cirurgias assim, houve um ouriço pouco tempo atrás. A primeira vez aqui no Estado foi com um bulldog, há mais de 6 anos, desde então me chamam", relatou.
A recuperação da ave deve levar de 60 a 120 dias, em função das características da fratura. "Creio que ela havia parado de voar; como já estava sendo reabilitada de luxação. Depois de reabilitada, terá condições de voar e ter vida próxima ao normal. Dependendo de como for, o material implantado ficará para o resto da vida e a ave poderá ser devolvida para a natureza. Tudo vai depender da recuperação do paciente, se ficar com alguma sequela, acaba ficando em cativeiro para ser cuidado adequadamente", frisou.
Ao ser questionado sobre o motivo de vir de longe realizar a cirurgia, Diogo Garnica afirmou que é necessário ajudar os mais frágeis dentro das possibilidades de tempo e disponibilidade de recursos. "Não só nesse como em outros casos. Mas este gavião não tem um tutor, é um indivíduo que está na natureza, que foi resgatado, que tentaram reabilitar, mas que não tinham profissionais para fazer cirurgia complexa. Eu já recebo o meu dinheiro com pacientes que têm tutor, então não custaria nada para mim vir fazer isso. Antes de ser ortopedista, sou amante dos animais e sei que não tem ninguém que olhe por eles. Assim como os cães de rua, por exemplo. Quem resgata faz isso de boa vontade, às vezes não têm nem recursos", refletiu.
Para ele, o sentimento que fica com a possibilidade de salvar uma vida tão frágil é algo impagável. "Não tem preço, é uma satisfação inenarrável. Saber que podemos devolver a funcionalidade de um indivíduo, que vai ter de volta a qualidade de vida, não tem preço", concluiu.
Em 31 de agosto de 2017, A Gazeta contou o caso do aposentado Elias Alves Barcelos, de 61 anos, que foi atropelado junto com a cadela Chiara, da raça Pastor Alemão. Na ocasião os dois passaram por cirurgias. Quem operou a cadelinha foi justamente o veterinário Diogo Garnica. "Eu estava chegando em Vitória à época, estava descendo do avião e já me ligaram. Foi um caso complicado. A cadela fraturou e o dono ficou inconsciente no hospital por dias. A cachorra ficou ótima, graças a Deus. Também foi uma doação que eu fiz, eu não sabia nem quem eram os envolvidos", relatou.
O acidente aconteceu quando os dois estavam atravessando a BR 101, na Serra, para ir ao Parque de Laranjeiras, onde praticavam exercícios. "A Chiara é minha amiga, e eu quando acordei no hospital, de verdade, era dela que eu queria saber", disse Elias à época.
A cadela foi resgatada por um homem que estava no local e foi levada a uma clínica veterinária na Praia do Canto. Ela também chegou a ficar 15 dias internada e foi submetida a procedimentos que somaram uma conta de R$ 2.430.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta