Há quem diga que “crianças não têm responsabilidade”, mas no município da Serra, elas ajudam a manter uma tradição secular: o congo. Com o batuque dos tambores sincronizados, o som ritmado das casacas e o apito marcando o compasso, gerações de famílias tocam e cantam juntas, perpetuando a representação cultural típica do Espírito Santo.
O congo, segundo os registros da Câmara Municipal da Serra, é uma manifestação típica da cultura popular capixaba que expressa a mistura cultural ocorrida no Brasil desde o Período Colonial. A representação une o batuque do negro e do índio à religiosidade católica trazida pelos portugueses. O processo se deu dentro de um contexto misturando os imaginários mítico-culturais desses três povos.
E o congo se mantém vivo passando de geração a geração. É o que acontece na família de Lucas Barbosa, presidente da Associação de Bandas de Congo da Serra, influenciado desde os primeiros anos de vida por seus familiares.
"Mesmo eu tendo aprendido a ter mais 'gosto pela cultura' durante a época de escola, o congo passou de geração em geração na minha família, uma tradição que começou lá na época dos meus bisavós, seguindo para os meus avós, pais e até que fui atingido pela tradição", explica.
E, seguindo sua própria experiência, ele conta que está guiando, pelos mesmos passos, seu filho, o pequeno José Lucas, de 2 anos e oito meses: "A tradição corre no sangue, mas temos que dar continuidade, por isso ele sempre me acompanha nos eventos e festividades".
Para Lucas Barbosa, as crianças possuem uma grande e indispensável importância na perpetuação da tradição da cultura dos "congeiros". Desta forma, muitos participantes tentam, sempre que possível, demonstrar para os mais jovens a importância da manifestação.
Lucas também explica que, antes da pandemia do novo coronavírus, a perpetuação da tradição tinha como apoio o "Projeto congo na escola". Na ação, a imagem, memória e cultura eram transmitidas pelos mestres e integrantes da banda de congo aos jovens das comunidades por meio do espaço da educação. "Entretanto, por conta da pandemia, esse projeto teve que ser reduzido para grupos menores, de apenas de cinco integrantes. Mesmo assim, os estudantes não deixam de ter contato com a cultura do Estado", diz o presidente da Associação de Bandas de Congo da Serra.
Com a pandemia do novo coronavírus, muitos eventos que antes ocorriam com grandes festividades e presença do público passaram a ser virtuais, alterando a relação com o espaço físico e a tecnologia. E o congo não ficou de fora da alteração. "Já tivemos alguns eventos, como a Festa de São Benedito, que aconteceu em dezembro do ano passado com transmissão no YouTube", finaliza.
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