Não é de hoje que os carismáticos e inteligentes golfinhos dão as caras nas praias do Espírito Santo, especialmente na Grande Vitória. No caso dos botos-cinzas, ou Sotalia guianensis, é bem fácil de ver, já que eles têm hábitos costeiros e são muito comuns no Estado. A manhã desta quinta-feira (20) foi um desses momentos de sorte para um grupo de canoa havaiana, o Maui Vaa (vídeo acima).
Já o lobo-marinho, que vem sendo alvo de relatos na última semana por quem frequenta o mar capixaba para a prática de esportes, parece surpreender até mesmo os biólogos, já que são incomuns no Estado. Mas, aparentemente, esses bichinhos diferentes também estão querendo se exibir neste verão.
Quanto aos golfinhos, Thiago Ferrari, ambientalista e coordenador-geral do Projeto Golfinhos do Brasil, explica que a espécie dos botos-cinzas é residente na plataforma da Grande Vitória. Ao contrário das baleias-jubartes, que também aparecem de tempos em tempos no litoral do Espírito Santo, os botos nascem, se reproduzem e se alimentam por aqui, realizando apenas pequenos deslocamentos apenas.
Segundo a bióloga marinha e cetóloga Amanda Di Giacomo, coordenadora científica do projeto, por ser uma espécie muito costeira, ela sofre com possíveis emalhes em redes de pesca. "Além disso, também são problemas a poluição das cidades, a partir dos contaminantes dos rios e do lixo sólido, e as embarcações. Sobre isso, estamos fazendo estudos para avaliar melhor os impactos. Mas são animais que utilizam ondas sonoras para se comunicar e isso pode ter interferência, de certa forma, com o barulho das embarcações", alertou.
A preocupação com a pesca é digna de nota, de acordo com Thiago Ferrari, já que os botos caçam cardumes que se aproximam do litoral e esses peixes são alvo das redes dos pescadores locais. Nessa interação, também os golfinhos podem ficar presos de forma não intencional.
"Esse emalhamento não intencional vem provocando o óbito dos animais por afogamento ou inanição. E isso é preocupante. É necessário o cuidado na utilização desses petrechos, principalmente as 'redes de espera', que acabam matando vários animais marinhos que não são alvos da pesca. Apesar de serem animais extremamente inteligentes e ágeis, o atropelamento por lanchas rápidas também pode acontecer. Então é necessário redobrar a atenção nas áreas próximas às praias e ilhas do litoral capixaba", afirmou o ambientalista.
Segundo ele, com as coletas e apuração dos dados que vêm sendo desenvolvidas pelo projeto, a intenção é propor medidas mitigadoras dos riscos que essas espécies correm e trabalhar junto aos empreendimentos como os portos para favorecer o bem estar destes animais presentes no litoral capixaba.
A respeito dos divertidos lobos-marinhos (Arctocephalus australis), a bióloga Amanda Di Giacomo afirma que não é uma espécie comum aqui no mar do Espírito Santo. "Apesar disso, já ocorreram outros registros em anos anteriores. Ela é mais comum no sul do Brasil, bem como no Uruguai, na Argentina e no Peru. Ela vem para as águas brasileiras para alimentação", iniciou.
As colônias de reprodução são mais concentradas nos outros países, de acordo com explicação da especialista. "Eles têm como característica o focinho fino e alongado e duas camadas de pelo, variando de cor negra a marrom nos adultos, e cinza prateado nos filhotes, com ventre de coloração mais clara: a primeira camada é curta, fina e clara, e a segunda possui pelos escuros e grossos. Além disso, eles têm as orelhas aparentes. Acabam aparecendo aqui pois estão em busca de alimento. Então seguem as correntes marinhas e acabam aparecendo", finalizou.
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