Quem passou pela Covid-19 com um quadro leve não faz ideia do funcionamento dos hospitais durante a pandemia. Os cuidados essenciais para quem esteve ou está com estado grave da doença fica nas mãos dos profissionais da saúde. Esses trabalhadores estão todos os dias e horas do expediente correndo o risco de serem infectados e infectarem desconhecidos e pessoas que amam.
Médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, assistentes sociais, auxiliar de serviços gerais e outros tantos profissionais da saúde também têm se tornado vítimas da pandemia. Até agora, 20 deles morreram e 8.191 atestaram a contaminação para o vírus, segundo informações do Painel Covid-19, atualizadas no dia 02 de julho.
Os números poderiam ser menores, segundo o médico Otto Batista, presidente do sindicato da categoria que tem mais de 600 infectados. Ele afirmou que cinco médicos morreram em decorrência da infecção.
"Além da sobrecarga de trabalho, tendo que atender vários hospitais e prontos-socorro, a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) no começo contribuiu para esse número de contaminados. Quando regularizaram, vimos que eram de baixa qualidade. Essa situação gerou esse número alto de infectados", aponta Otto Batista.
Já a presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), que engloba ainda os profissionais técnicos e auxiliares de enfermagem, Andressa Barcellos, também soma às complicações dos profissionais de saúde o assédio moral. "O maior número de reclamações é sobre assédio moral. Os profissionais que questionam sobre a qualidade dos EPIs são constrangidos", pontuou.
Para o Sindicato da Saúde (Sindisaúde) a situação precisa de transparência urgente, como pontua a presidente, Geiza Pinheiro. "Precisamos saber onde estão os profissionais que positivaram para o novo coronavírus, se são da rede pública ou privada de saúde, municipal ou estadual, ou de atendimento inicial nos postos de saúde. Esses dados devem ser fornecidos pela Sesa para que tenhamos como ajudar aos profissionais na saúde", afirmou. A reclamação também é do Coren, que junto do Sindisaúde, entrou na Justiça para exigir dados sobre os profissionais contaminados.
"É uma situação de extrema dedicação, o tempo de descanso de um plantão para o outro é pouco e esses profissionais têm medo de contaminarem os familiares, retornam ansiosos", disse Geiza Pinheiros, do Sindisaúde que representa motoristas de ambulâncias, recepcionistas, nutricionistas e outros tantos que estão dentro de unidades de saúde.
O que é unanimidade entre os representantes de categoria é a necessidade de testagem obrigatória dos profissionais de saúde, com ou sem sintomas. "A testagem de pelo menos, de quinze em quinze dias, reduziria o número de contaminados pelos profissionais. Atualmente, a testagem é feita de forma pontual e depois de uma peneira feita junto ao médico do trabalho. É uma economia burra já que são as pessoas que estão lidando com a situação de frente", pontuou Otto Batista, presidente do Sindicato dos Médicos.
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) informou que do total de óbitos de profissionais de saúde registrados no Painel Covid-19, dois moravam em outros estados. A secretaria afirma que, neste mês, enviou um ofício para o Ministério da Saúde solicitando que coordene e providencie os meios para execução da decisão provisória do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A decisão determina a ampla testagem dos profissionais de saúde, em especial os de enfermagem, inclusive os que não apresentem sintomas clínicos da Covid-19. O ofício ainda não foi respondido.
Sobre a testagem atual, o órgão alega que os profissionais possuem garantia de testagem desde que apresentem sintomas gripais, como determina o protocolo. A Sesa diz que adota todos os cuidados necessários com os profissionais de saúde da rede. "Os hospitais, referenciados para Covid-19, tem atendimento exclusivo voltado aos profissionais que atuem no enfrentamento da doença, e, consultórios montados especificamente para o atendimento. Criou-se também uma política de notificação de todos os profissionais que apresentam qualquer sintoma de síndrome gripal, para avaliação e afastamento", descreveu a nota à imprensa.
A Sesa reforça ainda, que os profissionais possuem protocolos rigorosos de uso de EPIs, seguindo as recomendações das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), e que todos os critérios de segurança são adotados em todos os hospitais.
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