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Vitória decide vender lote ao lado da Pedra da Cebola; moradores criticam

Vitória decide vender lote ao lado da Pedra da Cebola; moradores criticam

Projeto de lei do prefeito Lorenzo Pazolini tramitou em regime de urgência urgentíssima e permite a venda de lote vizinho ao parque; comunidade reclama de falta de diálogo

Publicado em 18 de dezembro de 2024 às 18:01

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Área rochosa na Pedra da Cebola será vendida pela Prefeitura de Vitória
Área rochosa ao lado do Parque Pedra da Cebola será vendida pela Prefeitura de Vitória. (Fernando Madeira)
Julia Camim
Jornalista / [email protected]

O prefeito de VitóriaLorenzo Pazolini (Republicanos), sancionou lei que autoriza a venda, por meio de leilões, de três terrenos municipais na Capital, nos bairros Horto, Enseada do Suá e Mata da Praia. Este último fica ao lado do Parque Pedra da Cebola e levantou críticas de moradores. A comunidade alega que solicita há anos que o lote seja incorporado à area verde. 

A aprovação do texto, protocolado pelo próprio chefe do Executivo municipal na Câmara de Vereadores, se deu em regime de urgência urgentíssima, quando os trâmites são acelerados, apenas um dia após a apresentação do projeto.

De acordo com a proposta, a finalidade era promover a alienação dos três bens imóveis de natureza "dominical" — ou seja, que não têm uma destinação pública específica nem são vinculados a um serviço municipal. Segundo o texto, a venda em leilão promove a arrecadação de receita que pode ser “melhor alocada em novos investimentos para a cidade, beneficiando diretamente os cidadãos”. A prefeitura também argumenta que a “gestão imobiliária visa a buscar eficiência e otimizar o desempenho global dos ativos municipais”.

Os lotes do Horto, da Enseada do Suá e da Mata da Praia foram avaliados, em março deste ano, pela Gestto – Gestão, Engenharia, Tecnologia. Os valores sugeridos para a venda são de R$ 347 mil, R$ 2,5 milhões e R$ 1,7 milhão, respectivamente. No caso da Mata da Praia, o valor de mercado avaliado é de R$ 2,8 milhões, mas, por estar localizado em terreno rochoso, o valor de leilão sugerido é menor.

Vitória decide vender lote ao lado da Pedra da Cebola; moradores criticam

A inclusão do terreno da Mata da Praia no projeto, no entanto, desagradou quem mora no bairro.  De acordo com a associação de moradores, há um pedido antigo da comunidade para que o lote, localizado na Rua Vicente de Oliveira, que é sem saída, seja usado pela prefeitura para ampliar o acesso ao Parque Pedra da Cebola e melhorar a área de estacionamento.

Terreno ao lado do Parque Pedra da Cebola, na Mata da Praia, que será vendido pela Prefeitura de Vitória
Localização do terreno, na Mata da Praia, que será vendido pela Prefeitura de Vitória. (Arte: A Gazeta)

A população defende que o terreno está integrado ao parque, uma vez que “leva ao portão de entrada para a única área de estacionamento do local”, segundo Silvia Gomes de Morais, presidente do Conselho Diretor da associação. Além disso, ela explica que a manutenção do lote é feita pela própria equipe responsável pelos cuidados com o parque. "Inclusive, a cerca que divide o terreno da rua é a mesma que há no parque”, comenta.

A prefeitura, por outro lado, argumenta que o terreno “não faz parte do Parque Pedra da Cebola e foi desapropriado no início dos anos 2000. Ou seja, há quase duas décadas, não há qualquer projeto de uso para o local, gerando transtorno para os moradores da região e visitantes do parque”, declarou, em nota.

A comunidade – que afirma não ter sido procurada ou ouvida pela administração pública – alega que a venda do terreno vai trazer problemas para a região, que já tem um tráfego “bastante complicado”, visto que a via onde se localiza o lote é “uma tradicional rua interna e estreita da Mata da Praia, que foi projetada para o fluxo dos moradores. Por isso, o pedido para que o lote fosse integrado ao parque, para acomodar o fluxo de visitantes.

Aspas de citação

Os moradores temem que, com a venda do terreno para a iniciativa privada e a possibilidade de construção de outro prédio, o tráfego na via se torne ainda pior, impossível

Silvia Gomes de Morais
Presidente do Conselho Diretor da Associação dos Moradores da Mata da Praia
Aspas de citação

De acordo com Silvia, moradores criticam o que chamam de falta de diálogo com a comunidade. “A lei foi aprovada a toque de caixa. Fomos todos pegos de surpresa”, diz. 

Tramitação

O Projeto de Lei de Pazolini foi protocolado pela prefeitura no dia 26 de novembro. A tramitação regular exige a discussão da matéria durante cinco sessões ordinárias da Câmara.

No entanto, no dia seguinte, a Casa já aprovou um pedido de regime de urgência urgentíssima e aprovou também o texto. Em seguida, no dia 28, o projeto foi sancionado pelo prefeito. A Lei 10.135 foi publicada no Diário Oficial de Vitória no dia 3 deste mês.

À reportagem, a Câmara Municipal de Vitória afirma que “a urgência é uma dispensa de exigências regimentais” que pode ser requerida por diferentes atores políticos, como Mesa Diretora, comissão competente, um terço dos vereadores, líderes, autor da proposta e prefeito.

“Se o requerimento for aprovado pela maioria simples dos vereadores, o projeto será incluído na pauta da ordem do dia da próxima sessão ordinária. E se o requerimento de urgência for apresentado por um terço dos membros da Câmara e a votação atingir dois terços de votos favoráveis, a matéria será considerada urgentíssima, ocasião em que será apreciada e votada, imediatamente, na mesma sessão”. Foi o que aconteceu neste caso com o Projeto de Lei 188/2024.

Os moradores da rua, segundo Silvia, ainda acreditam que a prefeitura “vai ter sensibilidade de rever a decisão e manter o terreno integrado ao parque, como vem sendo há muitos anos”. Em nota, a prefeitura afirma, entretanto, que autorizou a venda para que a verba possa “ser destinada a projetos ambientais e sociais e também às áreas de saúde e educação no município”.

Mesmo assim, a gestão declara que “já recebeu o ofício da associação e vai dialogar sobre o mesmo com a sociedade civil, reforçando o seu compromisso em abrir as portas para as demandas dos moradores e promover bem-estar para a cidade”.

No documento citado, a população havia pedido ao prefeito o veto ao projeto e também a apresentação de uma nova proposta à Câmara. O objetivo seria integrar definitivamente o lote ao Parque Pedra da Cebola, “com posterior ampliação do acesso às vagas de estacionamento do local”.

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