Nos últimos cinco anos o consumo de bebidas alcoólicas em Vitória aumentou cerca de 159%, conforme apontam dados do Ministério da Saúde. Em 2021, inclusive, a cidade foi a segunda capital do País com maior incidência de ingestão abusiva de álcool, o que representa 23,3% da população adulta.
Os dados são da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2017 a 2021. O estudo considera os moradores das capitais brasileiras que consumiram quatro ou mais doses de bebidas alcoólicas no caso das mulheres, e cinco ou mais doses no caso dos homens, em uma mesma ocasião.
Segundo o último levantamento realizado, Vitória só ficou atrás de Belo Horizonte, onde 25,20% dos moradores ingeriram vinho, cerveja, cachaça, uísque ou qualquer outra bebida alcoólica. Em terceiro lugar no ranking, aparece Cuiabá, com 23,2%.
Além disso, a porcentagem de homens que fizeram o uso da bebida na Capital Capixaba no ano passado foi de 32,6%, enquanto o índice das mulheres ficou em 15,3%.
Embora os números de 2021 tenham chamado a atenção pelo alto índice, esse crescimento já é observado há anos. Vitória, que em 2017 ficou classificada em 10º lugar no mesmo ranking, também esteve no segundo lugar em 2018. Em 2017, 19,7% dos capixabas ingeriram bebida em excesso. No ano seguinte, o número pulou para 22,4%, segundo maior do País, junto a Belo Horizonte.
Já em 2019, esse valor sofreu uma queda de cerca de 3,17%, mas permaneceu na média estipulada. A ingestão voltou a crescer pouco tempo depois, em 2020, quando foi registrado 21,1% de consumidores de álcool na Capital.
A psiquiatra Letícia Mameri aponta que um dos principais fatores para esse valor acumulado foi a pandemia. Isoladas em casa, as pessoas passaram a exagerar na ingestão da bebida, com o intuito de aproveitar o tempo livre e suprir as angústias provocadas pelo período.
Porém, conforme ela explica, é preciso ficar atento aos prejuízos que essa prática abusiva traz, já que existe uma relação cientificamente comprovada entre a bebida e a piora da saúde mental da população — assim como do agravamento das situações de violência urbana.
"Socialmente, o álcool tem um impacto negativo muito grande. Quase todos os problemas urbanos, como violência doméstica, acidente de trânsito e abusos, possuem o envolvimento da bebida alcóolica. E esse consumo está associado à condição psíquica das pessoas. Quanto mais bebemos, maior a chance de desenvolvermos um quadro depressivo e se tornar uma dependência. Antes da pandemia, já éramos o povo mais ansioso do mundo. Essa situação vai se tornando crônica", avalia.
Para o nefrologista e PhD em Dependência Química João Chequer, além dos riscos psiquiátricos, o álcool também é um dos responsáveis pelo surgimento de cânceres, cirrose, diabetes, entre outras doenças. "Por ser muito tóxico, o álcool mexe no corpo inteiro. Não tem uma parte que não fique lesada com o seu uso prolongado. Ele atinge vários órgãos vitais para as pessoas", alerta.
"Estatisticamente, cerca de 20% da população faz uso de álcool, mas socialmente. Desse total, cerca de 10% vai se tornar bebedor abusivo em algum momento da vida, o que representa a metade. Isso é preocupante", completa.
De acordo com Chequer, o crescimento do consumo de álcool especificamente na Capital se deve a três principais motivos: o trânsito de turistas ao longo do ano, a movimentação de estudantes universitários e, agora, o surgimento da Covid-19.
"Vitória é uma cidade universitária que tem uma grande quantidade de faculdades e universidades. Os estudantes, de um modo geral, consomem um percentual mais elevado de álcool, o que pode ter contribuído para esse aumento. Além disso, é uma ilha frequentada por muitos turistas, principalmente no verão e em feriados. Durante esse vai e vem de pessoas, pode ser que ocorra alguns picos de consumo", afirma.
Percentual anual de adultos que consumiram quatro ou mais doses (mulher) ou cinco ou mais doses (homem) de bebida alcoólica em uma mesma ocasião:
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