Há anos moradores da Grande Vitória sofrem com os constantes furtos de fios de cobre, que danificam a iluminação pública, interrompem semáforos e serviços de internet, além do prejuízo financeiro às prefeituras, que somam milhões em anos. Na Capital, a administração da cidade começa a mudar esse cenário com a substituição do cobre, que chega a custar R$ 40 o quilo e por isso é tão visado, por alumínio, material oito vezes mais barato.
Aos poucos a escuridão observada em muitos pontos da Capital vai dando lugar à claridade. Pontos antes às escuras, como boa parte do calçadão de Camburi, já estão com a iluminação reparada, o que traz segurança para quem transita pelo local. A substituição da fiação de cobre pela de alumínio vem sendo feita pela Prefeitura de Vitória nesses e em outros locais da cidade onde ocorrem os furtos.
A substituição do metal tem uma estratégia pela administração pública: impedir a ação de criminosos que furtavam os fios de cobre para revendê-los no mercado paralelo. A capital capixaba sofre há anos com ações do tipo, mas nos últimos meses houve crescimento considerável de ocorrências pela cidade, especialmente nos trechos de orla, segundo o secretário de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória, Alex Mariano.
"Acreditamos que com esta estratégia vamos desestimular essa prática criminosa. Enquanto o quilo do cobre chega a R$ 40 reais, o alumínio custa cerca de 10% disso, algo em torno de R$ 5. Tem ainda o fato do alumínio ser cerca de 30% mais leve do que o cobre, então o criminoso teria de conseguir pegar muito mais do metal para obter um quilo", conta o secretário.
Os reparos com o cabeamento em alumínio começaram a ser realizados na primeira quinzena de março deste ano e, de acordo com o secretário da pasta, a quantidade de tentativas e furtos de materiais já caiu. Um exemplo é na Avenida Adalberto Simão Nader.
"Esse trecho foi praticamente todo refeito em alumínio. Observamos apenas duas tentativas de furtos recentemente e a ação não foi exitosa. Além de o cabo não ser de cobre, também reforçamos o isolamento. Então o criminoso apenas danificou, mas não levou o material. Isso reforça o que já esperávamos que fosse ocorrer", pondera Mariano.
Além de uma cidade mais clara e segura, a substituição vai gerar economia aos cofres públicos. Segundo a assessoria da Setran, de janeiro até o início de maio deste ano mais de 850 kg de fios foram apreendidos nas prisões e operações em diversos pontos da Capital, totalizando 30 pessoas detidas por furto ou receptação pela Guarda Municipal.
A fiação de cobre é amplamente utilizada nas ligações e conexões de iluminação pública por ser um metal altamente confiável e durável, mas o valor atrativo de revenda dele também faz com que seja muito visado. Na opinião de um especialista da área, o engenheiro eletricista Fernando Adnet, a troca pelo alumínio em nada afeta a qualidade ou segurança da utilização.
"Na ótica da engenharia elétrica, a substituição do material condutor não tem diferença alguma. A condutividade é muito parecida e não haverá diferença na iluminação. O que de fato diferencia é a bitola (espessura) do fio. No caso do alumínio, usa-se um mais grosso, enquanto que com o cobre o utilizado é um mais fino. Por exemplo: se o padrão é utilizar um fio de cobre 6, o de alumínio precisará ser um 10 (quanto maior o número, maior o diâmetro)", explica Adnet.
Respeitando essa especificação simples, Adnet acredita que as ações de furtos de materiais elétricos devem cair consideravelmente, visto que a simples troca de cobre por alumínio muda o cenário para quem ganha dinheiro revendendo irregularmente esses metais.
"O alumínio tem um preço muito baixo, praticamente sem valor comercial. Já o cobre não, ele é muito visado porque tem mercado e pode ser empregado em muitas áreas. Fatalmente vai desestimular quem pratica furtos, já que é preciso uma grande quantidade de alumínio para se chegar a um quilo, por exemplo. Quando o criminoso se deparar com o alumínio na fiação, vai ser uma decepção", comenta o engenheiro.
O engenheiro eletricista disse ainda que o ideal seria concretar também os cabos para dificultar a ação de criminosos, além de fazer o que é conhecido como "sifão" na ponta dos cabos, para evitar que os fios sejam puxados. Isto, entretanto, é praticamente inviável em uma área tão extensa como na orla da Capital e encareceria a obra. Adnet aponta ainda que outra sugestão é que seja feito um isolamento dos fios de alumínio de qualidade, pois o contato com a água é altamente prejudicial ao material, que pode se deteriorar e perder eficiência condutiva.
A Prefeitura de Vitória mantém o cronograma para solucionar o primeiro estágio da iluminação pública de Vitória. Com cerca de 90% das intervenções já refeitas, as três frentes de trabalho contratadas para o serviço devem iniciar em breve o segundo estágio.
"A maior parte das ações são na orla. Toda a iluminação do calçadão de Jardim Camburi até a região da Praia do Canto já foi religada. O foco neste estágio é a área de trânsito de pessoas. Já nos próximos dias devemos iniciar a iluminação da parte voltada para a areia das praias. Neste caso é um pouco mais trabalhoso porque há o aterramento dos cabos, mas o prazo segue inalterado. Acreditamos que em até 45 dias a cidade esteja com a iluminação praticamente toda refeita e com um custo menor do que os R$ 400 mil que estimávamos", disse o secretário.
Além dos trechos na orla, onde ocorre a maior parte das ações de furto, outros pontos nos quais se observaram ações do tipo foram na Avenida Adalberto Simão Nader, Praça do Papa, calçadão da Beira-Mar (Marechal Mascarenhas de Moraes), Praça dos Namorados, Escadaria do Forte São João e Viaduto Caramuru. Em breve, os serviços também devem chegar a esses locais para que a iluminação seja normalizada.
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