A moradora da Serra, Fernanda Garschagen Bastos, de 42 anos, conta o que tem presenciado a partir da janela do próprio apartamento ao longo da pandemia do novo coronavírus. Ela, que é vizinha do Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, tem visto cerca de 7 ou 8 ambulâncias chegando ao mesmo tempo na emergência da unidade e consegue ouvir, devido à proximidade do centro hospitalar, a angústia das famílias dos pacientes e até as notícias de falecimento. Antes do aumento de casos da Covid-19 na região metropolitana do Estado, o normal, segundo ela, era ver, no máximo, duas ambulâncias juntas no local.
Segundo a bacharel em Direito, acompanhar o movimento do hospital tem sido uma verdadeira tragédia. "Meu apartamento fica de frente para a emergência e o movimento agora acontece de 7h da manhã às 23h, o dia inteiro. O que mais assusta é que tudo é feito aqui na parte de fora: vejo famílias recebendo notícias de falecimento, acompanhamos o sofrimento, a gente escuta tudo, tudo mudou. É paciente chegando, sendo transferido e tem aumentado bastante. Tem hora que param 7 ou 8 ambulâncias, isso nunca aconteceu, agora esperam vaga, fazem fila", iniciou.
Comovida com a situação observada, Fernanda decidiu homenagear os profissionais da saúde que trabalham no combate ao novo vírus. "Estendi uma faixa feita com um lençol, dizendo 'Força a todos, tudo vai passar'. Isso foi logo no auge, no mês passado. Tive pena dos enfermeiros e técnicos, usando todo aquele EPI, dá uma angústia enorme, eles trabalham à exaustão. E o número de funcionários reduziu, então o trabalho ficou sobrecarregado. Deixei a faixa por 3 dias e alguns deles fizeram postagens no Facebook, gritaram da grade, me chamam de vizinha. Eu disse que aquilo era o mínimo, mas o gesto foi bem reconhecido", disse.
Para Fernanda, ver as consequências da pandemia de perto tem sido um desafio constante e, diante dele, ser otimista é difícil. "Tento ser otimista, mas não consigo, até mesmo pelo que vejo. As pessoas não colaboram, não acreditam no que está acontecendo. Eu tive sintomas bem leves, testei positivo para a Covid, imagino o quanto é difícil para quem está grave. Em Laranjeiras as pessoas não param, o comércio está cheio, as praias também. Mesmo querendo ser otimista, não consigo, por ver isso de perto", afirmou.
Por fim, Fernanda diz que não é fácil para ninguém ter que ficar em casa, mas que a sociedade deve se esforçar. "É uma contradição ver as pessoas na rua e o hospital cheio. Aí acabo pensando que só se as pessoas na praia passassem por isso, entenderiam de fato. Está todo mundo cansado, mas falta empatia. Eu também não posso descer com meu neném para passear no condomínio, mas tem gente indo para a rua em um momento desses", finalizou lamentando.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta