Nesta semana, muitas crianças já voltaram às salas de aulas e, nesta quinta-feira (3), é a vez dos alunos da rede estadual do Espírito Santo. O início do ano letivo em meio à quarta onda da pandemia e aos patamares de infecções jamais vistos no Estado faz com que o assunto divida opiniões, principalmente no que diz respeito à forma como a retomada está sendo feita.
Em 2022, por exemplo, não há previsão de revezamento ou rodízio entre os estudantes. Ou seja, todos retornam ao mesmo tempo às escolas. O uso da máscara será obrigatório, diferentemente do que acontece, em geral, com o comprovante de vacinação para crianças a partir de cinco anos e adolescentes – faixas etárias para as quais já há vacinas contra a Covid-19 disponíveis.
Na última semana, o governo do Estado apresentou uma série de novidades para a educação e garantiu que os protocolos adotados garantem um ambiente seguro aos alunos. O governador Renato Casagrande até mencionou que as crianças já vêm frequentando ambientes menos resguardados que as escolas. Mas, afinal, o que pensam os especialistas sobre tudo isso?
A reportagem de A Gazeta entrevistou a pós-doutora em epidemiologia Ethel Maciel e os médicos infectologistas Lauro Ferreira Pinto e Rúbia Miossi. Todos concordaram em relação à importância da educação e como ela acabou sendo prejudicada ao longo dos últimos dois anos pelas medidas necessárias em função da pandemia. No entanto, os três divergem em alguns outros pontos. Confira a opinião deles:
Ethel: "Existe a previsão de que até a segunda semana de fevereiro, estaremos passando o pico de casos gerados pela variante Ômicon. Duas semanas não fazem diferença do ponto de vista pedagógico, mas pode fazer do ponto de vista da saúde. Poderíamos retomar, primeiro, com os alunos que estão completamente vacinados (12 anos ou mais). Depois dessas duas semanas, retornamos gradativamente aquelas turmas que não estão vacinadas."
Lauro: "As aulas devem ser as últimas a serem prejudicadas. As pessoas muito idosas e com comorbidades graves, que podem evoluir a óbito com mais facilidade, já estão expostas pela circulação das pessoas em praias e bares. As pessoas voltaram ao normal. Seria melhor se os alunos estivessem vacinados, mas prefiro que se trabalhe com protocolos do que atrasar ainda mais a educação."
Rúbia: "As crianças já foram muito penalizadas com a suspensão das aulas regulares por dois anos. Então, este é um momento em que não retornar seria mais pesado do que a eventual contaminação. Seria muito mais tranquilo voltar se o Governo Federal não tivesse atrasado a possibilidade das crianças serem vacinadas. Porém, em breve, a maioria delas já estará com a primeira dose tomada, e os riscos da infecção diminuirão gradativamente."
Lauro: "Eu acho que a vacina foi politizada de forma indevida. Eu sempre acredito que é melhor convencer do que obrigar, mas também acho que as pessoas não têm direito de expor as outras ao risco. A liberdade de uma pessoa acaba quando interfere no direito da outra. Vejo com bons olhos o passaporte vacinal nas escolas."
Rúbia: "Acho complicado exigir o comprovante para a matrícula ou para frequentar a escola. Entretanto, é bom lembrar que a vacina é uma proteção e é uma responsabilidade dos pais. Quem é responsável por um menor tem o dever de protegê-lo e vacinar está incluído nessas obrigações. Por outro lado, não devemos, nunca, colocar dificuldades para uma criança acessar a escola."
Ethel: "Diante do atual cenário, a única coisa que nos resta é reduzir os danos, diminuir as chances de adoecimento e óbito. Como podemos fazer isso? Escalonando a volta às aulas. Podíamos fazer um rodízio de alunos neste mês de fevereiro. Em meados de março, poderíamos avaliar e voltar de forma mais definitiva, dependendo do cenário. Nesse período, aceleramos a vacinação para que as crianças a partir de cinco anos terem, pelo menos, uma dose tomada."
Lauro: "Neste momento, o ideal é deixar distância entre os alunos e evitar as aglomerações. Assim, se a escola não tem condições de manter o distanciamento, deveria fazer um rodízio nessas duas primeiras semanas."
Ethel: "Acho que poderíamos esperar até a segunda semana de fevereiro para conversar com as famílias, ver quem tem pessoas com maior vulnerabilidade em casa, como imunossuprimidos. Nesses casos, avaliar se a criança pode fazer algum dever de forma remota ou estudar no modelo híbrido (com aulas presenciais e on-line). A ideia é diminuir o número de contato, pelo menos, até o início de março. Não vejo tanto prejuízo. Tudo isso, principalmente, para as crianças de quatro anos, que já existe uma obrigatoriedade de ir à escola, mas que não há vacina aprovada."
Lauro: "Na vida real, vamos ser sinceros, as aglomerações não estão sendo evitadas nem o distanciamento social respeitado. Quem é muito idoso ou tem comorbidades sérias precisa evitar contato com qualquer pessoa, independentemente de ser filho, neto ou bisneto. Acho que as escolas devem manter o distanciamento ou fazer rodízio. O mesmo vale no caso das crianças que ainda não podem se vacinar."
Rúbia: "O retorno precisa ser o mais uniforme possível, tanto para crianças, quanto para adolescentes. Agora, é uma corrida contra o tempo perdido de aulas. Infelizmente, até que vacinas sejam aprovadas e estejam disponíveis para crianças de até quatro anos, os serviços educacionais serão necessários. Os pais ou responsáveis por essas crianças já estão trabalhando. Quem vai ficar com elas?"
Ethel: "Sobre o tempo de isolamento, eu penso o seguinte: aqueles alunos que estão vacinados, de 12 anos ou mais, podem retomar depois de sete dias sem sintomas. Já aqueles que não estão vacinados – e que por isso podem estar produzindo mais carga viral – devem esperar os dez dias do primeiro sintoma para saírem do isolamento."
Lauro: "A criança contamina por mais tempo e tem mais dificuldade de adesão ao uso de máscara. Então, vejo com mais simpatia o isolamento por dez dias. No caso dos adolescentes, poderia tentar encurtar para sete dias, mas vale ressaltar que, em uma situação de trabalho, em que você precisa da mão de obra, esse retorno mais cedo faz diferença. Já na escola, entre os alunos, essa diminuição não afeta tanto o funcionamento e o ensino."
Rúbia: "Atualmente, a estratégia é de vigilância de sintomas e afastamento dos sintomáticos e positivados. Como os retornos com sete dias pedem o uso obrigatório e adequado da máscara, acredito que, no caso das crianças, o afastamento por dez dias seria mais adequado, visto que elas têm maior restrição ao uso da máscara."
À frente da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o secretário Nésio Fernandes admitiu que o tema "volta às aulas" é polêmico. No entanto, ele defendeu que "o retorno é uma medida fundamental para poder garantir o direito das crianças e adolescentes, dada a centralidade da educação".
"As escolas deverão ser as últimas a fecharem e as primeiras a abrirem diante de qualquer possibilidade de abertura ou necessidade de fechamento."
No pronunciamento dessa terça-feira (1º), ele também afirmou que existe um "desafio grande de convencer a família a vacinar os filhos e vencer mentiras que fragilizam a segurança das vacinas" e que o objetivo é ter 95% da população capixaba vacinada com duas doses até o dia 15 de março, incluindo crianças e adolescentes.
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