Estabilizada, mas longe de estar controlada. Este é o cenário atual da pandemia do novo coronavírus na Grande Vitória, segundo a pós-doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel. Embora o ritmo de contágio e mortes apresente sinais de estabilização na Região Metropolitana do Estado, o momento não permite uma flexibilização ainda maior, como o retorno das aulas presenciais, por exemplo.
A pós-doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel, explicou, em entrevista à Rádio CBN Vitória na manhã desta segunda-feira (6), que os riscos ainda são elevados.
"Podemos dizer que temos uma tendência de estabilização, mas controlada eu não diria. Só quando tivermos um percentual de mortes menor poderemos afirmar isso", disse.
"Ainda estamos perdendo muitas pessoas. Chegamos a mais de 800 mortes. Estabilizamos, porém, na parte alta da curva. Não começamos a descer, é o que chamamos de platô, ainda estamos lá em cima. Não dá para dizer que está controlado, apenas estabilizado", disse Ethel, complementando que permitir que mais pessoas sejam expostas pode rapidamente alterar o quadro estável. Nesse sentido, o ambiente escolar tradicional deve ser mantido em desuso.
"Temos uma parcela importante da população que ainda está em isolamento das atividades (estudantes, professores, servidores). Se contarmos todas elas, temos mais de um milhão de pessoas que estão em casa e não precisam se deslocar, pegar ônibus. Vamos ter de pensar muito bem, pois se você as coloca na rua, muda toda a curva epidêmica e também a tendência de estabilização. São mais pessoas que não tiveram contato com o vírus. Vão surgir os surtos em escolas e outros locais, por exemplo. Tudo tem que ser muito planejado a partir de agora. Infelizmente ainda não temos controle da doença, apenas uma estabilização na Grande Vitória", destacou.
O cenário de estabilização observado na Grande Vitória, ainda está longe de ocorrer no interior do Estado. Para a pós-doutora em epidemiologia, o cenário, em muitas cidades, é de pouca rede de assistência às pessoas. E como a Covid-19 está em processo de interiorização, a soma de mais casos com uma estrutura precária de atendimento pode, inclusive, sobrecarregar o sistema de saúde da Região Metropolitana ou municípios maiores, para onde esses pacientes são transferidos.
"No interior a doença vem com uma aceleração e alguns municípios não possuem sequer hospitais. Há uma preocupação enorme de como vai se dado esse manejo dos casos nesses locais, se a atenção primária de saúde vai conseguir atender esses casos. Será muito grave se esses pacientes precisarem ser transportadas para locais que tenham hospitais. Uma coisa é estar a 15 minutos de um hospital, outra é estar a 2, 3 horas com um paciente em estado grave e entubado. Paciente grave tendo de ser locomovido é preocupante e delicado. No trajeto pode haver mudança rápida do quadro clínico. Locomover um paciente em estado grave já é arriscado até mesmo dentro do hospital. Colocando-o na estrada, ainda que em uma ambulância equipada é muito arriscado", salientou Ethel.
Como se já bastasse o avanço da Covid-19 para o interior, a chegada da estação mais fria do ano pode sobrecarregar ainda mais à rede de atendimento e elevar o número de doenças respiratórias, além do próprio coronavírus. Para evitar que o percentual de casos aumente, Ethel Maciel orienta que as pessoas busquem pelas vacinas já existentes.
"Nosso inverno não é tão rigoroso, mas algumas cidades do Estado têm temperaturas mais baixas. No inverno, já há uma tendência das pessoas ficarem em ambientes mais fechados e as doenças respiratórias aumentam naturalmente na estação. Por isso chamo a atenção para a vacinação. Teremos morte pelo H1n1, não existe só a Covid-19, há outras doenças respiratórias. A Influenza, por exemplo, causou muitos óbitos também em anos anteriores. Por isso é muito importante que não se vacinou, corra atrás da vacina. Ela existe é preciso que se aplique no maior número de pessoas", analisou a professora da Universidade Federal do Espírito Santo."
"Estamos no campo das incertezas ainda. Olhando para o passado, podemos fazer algumas projeções. Temos movimentação grande no transporte coletivo, que é comprovado ser um local de grande contaminação, inclusive o inquérito sorológico feito no Estado indicou isso. Sabemos que um contingente enorme de estudante usam esse serviço, principalmente, na educação básica. Colocaríamos muitas pessoas em risco, não temos medidas protetivas para garantir segurança. É o que ocorreu com os profissionais da saúde, por exemplo", disse.
Ethel acrescentou ainda que "não conseguimos nem resolver a questão dos profissionais que estão em flexibilização. Os motoristas, por exemplo, estão sob risco, ficam horas expostos. Tinham que ter a garantia de EPIs, teriam de ter testes se estão ou não infectados. Hoje só é testado quem apresenta sintoma. A OMS tem protocolos com testagem de 7 em 7 ou de 15 em 15 dias, dependendo do grau de exposição. As escolas são locais naturais de aglomerações, precisaríamos de ter protocolos como ocorre em outros países. A Espanha planeja só em setembro, e lá a situação está muito mais controlada. Na nossa realidade, seria mais difícil de colocar. A França, que reabriu quando a curva estava caindo, teve de voltar atrás e fechou 70 escolas porque surgiram muitos casos novos", explicou.
Para Ethel, só haverá segurança epidemiológica para o retorno das aulas presenciais e das demais atividades com o advento da vacina, além da ampla aplicação da mesma na população.
"A volta segura deveria ser quando tivermos a vacina. As duas mais avançadas, a chinesa e a inglesa, são esperanças concretas. Elas apresentaram resultados bons nas fases anteriores. Acredito que no início do ano que vem já tenhamos. Temos de planejar tudo isso. As questões não são triviais, precisam ser bem pensadas e elaboradas para que não coloquemos a vida de mais pessoas em risco", salientou a especialista.
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