Atuando na linha de frente da Covid-19, uma fisioterapeuta intensivista, de 38 anos, decidiu fazer um pouco mais para tentar combater o novo coronavírus. Natural de São Paulo, Alice Vieira é uma das profissionais da saúde que aceitou ser voluntária para tomar a CoronaVac, vacina contra a doença que está sendo testada no Brasil. Ela conversou com A Gazeta e detalhou como tem sido essa experiência.
A vacina chinesa está na última fase de testes, que teve início em setembro. Ela é desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan. Se o imunizante atingir os índices necessários de eficácia e segurança, poderá ser submetido à avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa ) para registro e posterior uso na população. Mas a vacina também foi alvo de polêmica recentemente, após o presidente Jair Bolsonaro dizer que vai vetar sua compra pelo governo federal.
Como fisioterapeuta intensivista, Alice é uma das profissionais responsáveis pela parte respiratória do paciente, atuando diretamente na ventilação mecânica. Trabalhando no Hospital Municipal Dr. Francisco Moran, referência no atendimento de Covid-19 em São Paulo, ela conta que em alguns dias viu mais de 20 pacientes chegando com dificuldades para respirar.
"Pouca gente sabe, mas os fisioterapeutas trabalharam muito nesta pandemia. Somos nós que decidimos, junto aos médicos, se o paciente será intubado ou não. Teve época em que trabalhamos dia e noite porque não parava de chegar gente. Nos momentos mais críticos da doença, foi desesperador. Parecia cenário de guerra. Vimos gente chegando e não encontrando vaga, pacientes sendo intubados às pressas, tudo no contexto de uma doença desconhecida", lembra.
A profissional acrescenta que, dentre tantos pacientes que atendeu, uma em especial a marcou: uma senhora que chegou com falta de ar e conversou com Alice antes de ser intubada.
"Ela me disse que não estava aguentando de tanta falta de ar. Então, eu disse que ela seria intubada. Ela pegou meu braço e perguntou olhando meus olhos: 'Eu vou conseguir sair dessa? Eu posso ter esperança?' Eu respondi que ela ia sair. Mas, infelizmente, ela não resistiu", lamenta a fisioterapeuta, sem conseguir conter o choro.
Alice diz que, mesmo trabalhando na linha de frente do enfrentamento à Covid-19, não foi contaminada pelo novo coronavírus. Ela soube que estavam procurando profissionais da área da saúde para os testes da CoronaVac, fez a inscrição e foi chamada para tomar a primeira dose em setembro.
"Praticamente todos os meus colegas de trabalho foram infectados. Senti como se Deus tivesse me guardado do vírus para eu poder participar. Pensei: 'Já passei por tanta coisa nesta pandemia, por que não me doar um pouco mais?' Em outubro, já tomei a segunda dose e não senti nada."
Um médico capixaba também já tomou a vacina chinesa Coronavac. O cardiologista Oslan Francischetto é natural de Castelo, mas reside em São Paulo há sete anos. Ele faz parte de um grupo de voluntários que recebeu a vacina no Estado paulista.
"São duas doses. A primeira dose eu senti uma dor no braço, muito leve, por um dia. E na segunda dose eu senti a mesma dor, mas por um período de quatro dias, relata.
Segundo Oslan, as doses foram aplicadas há cerca de dois meses, e os voluntários que receberam a vacina passam por um acompanhamento presencial e on-line. As doses foram aplicadas em setembro, no início e no final do mês. O acompanhamento é feito em visitas presenciais, foram duas até agora com um intervalo de 30 dias. E também fazem contato telefônico para saber de reações."
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