Há três anos, família, pacientes e amigos não têm notícias do médico Roberto Gomes, que desapareceu no dia 28 de novembro de 2014. O mistério sobre o paradeiro do oncologista, que foi a São Paulo lançar um livro sobre câncer e nunca mais apareceu, continua. Nesse período, muitos foram os boatos sobre o possível destino do especialista, mas ele não foi encontrado. Dentre as teorias, até uma abdução por um extraterrestre foi cogitada.
Em julho deste ano, quando familiares decidiram doar alguns dos pertences do médico para uma instituição social, a esposa dele, Nildete Gomes, conversou com a jornalista Fernanda Queiroz sobre os anos sem notícias do marido. Ela contou que a família recebeu ao menos quatro ligações de "pessoas oportunistas" com pedidos de resgate. Em uma delas, um motoboy disse ter encontrado o médico na rua e pediu dinheiro para informar o paradeiro do capixaba.
"Não existe nenhum indício de que ele possa estar vivo", disse esposa
"Tudo que a gente conseguiu descobrir com as investigações nos levou a nada. A única coisa que posso dizer, por todas as buscas que fizemos, não existe nenhum indício de que ele possa estar vivo. As hipóteses são várias, pode ter sido até um sequestro oportunista. Tentaram arrancar dinheiro da gente com isso. A polícia de São Paulo nos alertou quanto a isso e nos orientou a ter cuidado. Tivemos pelo menos umas quatro ligações - duas para clínica, outras para o sócio dele - , não sei se era a mesma pessoa, mas pediam resgate, diziam que estavam com ele e que liberariam se a gente desse dinheiro. Isso foi bem no começo, a gente ainda vasculhava os hospitais, então não demos tanta importância. Um motoboy ligou para o sócio dele uma vez, disse que tinha encontrado o Roberto, a gente pediu para entregá-lo na delegacia e nada. A gente não tem como descartar essa possibilidade. Numa situação daquela, de intensa busca pela polícia, pode até ter acontecido. Mas certeza a gente não tem nenhuma", comentou na entrevista de julho.
VÍDEO MOSTRA ÚLTIMO REGISTRO DO MÉDICO
TEORIAS
Ao longo dos anos, muitas teorias sobre o desaparecimento surgiram. A família chegou a ouvir histórias que considera "absurdas" e, para seguir com a vida, Nildete buscou ajuda profissional e tratou de se manter sempre ocupada.
"Há pouco tempo achei na internet uma matéria levantando a hipótese de um sequestro por questões de que a pessoa (o médico) era estudiosa de câncer, e que tinha sido sequestrada porque os laboratórios não queriam que os estudos fossem divulgados. Umas coisas totalmente fantasiosas, falaram até em abdução por extraterrestre. A gente teve que ouvir de tudo. Na medida do possível estamos bem, mas é impossível ficar bem demais numa situação dessas. É uma situação que não progride. Quando morre, você enterra a pessoa e com o tempo a dor vai diminuindo e fica uma saudade. No caso do desaparecimento é um processo mais doloroso, porque é mais prolongado do que a morte. Gera muita ansiedade, muita expectativa, angústia em determinados momentos, é muito triste. A gente chegou em um ponto que não temos mais tantas esperanças, mas na emoção você sempre fica com aquela micro-esperança de algum dia aparecer, ter alguma notícia. Eu procurei me ocupar muito, foi a maneira que eu encontrei de sobreviver", falou.
O DESAPARECIMENTO
Roberto Gomes é um dos principais especialistas brasileiros em oncologia e seu desaparecimento chamou a atenção de jornais de todo o país.
O médico viajou de Vitória para São Paulo no dia 26 de novembro para participar do lançamento da segunda edição de um livro do qual ele é coautor. O evento aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Na ocasião, ele deu entrevista para a TV Assembleia sobre câncer de mama. Na sexta-feira, dia 28, Roberto ligou para a mulher e disse que a passagem de volta para Vitória estava marcada para o dia 29 à noite, mas que ele anteciparia para a manhã. Desde então, ele nunca mais manteve contato. A única pista é de que o médico sumiu após deixar o hotel onde estava, em São Paulo.
RASTREIO NAS CONTAS BANCÁRIAS
A esposa de Roberto, quando completava um ano do desaparecimento, afirmou que uma auditoria foi feita nas contas bancárias do médico, mas nos últimos meses ele não fez nenhuma retirada de dinheiro, nem transferência para conta de outra pessoa. Não existe nenhuma evidência, por mais que tenhamos procurado, de que ele tivesse algum desvio de dinheiro mensal, seja para a conta de outra pessoa, seja para a compra de uma moeda estrangeira, declarou na ocasião.
LIVRO
O desaparecimento do médico serviu de inspiração para um livro, lançado em 2016. O cirurgião otorrinolaringologista, Dan Ferreira de Mendonça, publicou um romance policial chamado "Mistério em Sampa, que conta a história de um médico capixaba, que vai lançar um livro em São Paulo e desaparece misteriosamente, sem deixar pistas. A história pode parecer familiar, e é seu ponto de partida foi o desaparecimento do oncologista Roberto Gomes.
Na ficção de Dan, o oncologista ganha o nome de Arnaldo Santos e também apresenta uma pesquisa na terra da garoa, mas o resto é ficção. A narrativa se desenvolve do ponto de vista do desaparecido, dos envolvidos nas circunstâncias que levaram ao desaparecimento, da família, da polícia e de um investigador muito peculiar.
Comecei a escrever o livro efetivamente no final de novembro de 2014. Levei um mês escrevendo num trabalho bastante intenso. Só que nesse tempo ocorreu do doutor Roberto sumir. Como o conheci, fui aluno dele na faculdade, aquilo não me saía da cabeça, por isso, mergulhei na história à miúde, até o ponto em que ele some, explica Dan.
INVESTIGAÇÕES
Por meio de nota, a Polícia Civil do Espírito Santo informou que o desaparecimento do médico foi em São Paulo, portanto, as investigações são de competência da Polícia Civil de lá.
Questionada sobre o caso, a Polícia Civil de São Paulo informa que o desaparecimento de Roberto Gomes é investigado pela 4ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Pessoas Desaparecidas do DHPP.
Policiais da unidade realizam constantemente buscas em diversas fontes, como bancos de dados de IMLs e hospitais para localizar o médico, concluiu a nota.
Nesta sexta-feira (1°), a equipe do Gazeta Online tentou contato com a esposa do médico, mas ela não atendeu as ligações.
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