A inflação no Brasil tem apresentado recuo, principalmente por conta da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) cobrado da energia elétrica, da gasolina e dos serviços de telecomunicações. No entanto, apesar desse desconto no tributo, o Espírito Santo segue na contramão da tendência nacional, com os preços pressionando os indicadores e também o bolso das famílias.
O impacto das altas de alguns produtos, sobretudo dos alimentos, é tanto que, na Capital capixaba, por exemplo, o Auxílio Brasil de R$ 600 não paga uma cesta básica, hoje cotada em R$ 697,39, segundo o Dieese.
O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostrou que, em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na Grande Vitória, avançou 0,46%, após queda de 1,3% em julho, enquanto que, no Brasil, o indicador (considerado o principal para medir a inflação) foi de -0,36%. No ano, a Região Metropolitana do Espírito Santo acumula variação de 3,46%.
Dados do IPCA mostram que o grupo de alimentos e bebidas tem se portado como o vilão da inflação capixaba. Desde janeiro, os itens acumulam as maiores altas, com avanço geral de 9,67% nos preços — quase três vezes mais do que a inflação geral.
O grande culpado pelo aumento do custo de vida no período é o leite longa vida, que ficou, em média, 63,37% mais caro. Na sequência, vem o queijo, com alta de 42,56% no ano.
Outros produtos com menor peso no IPCA, mas que, por estarem presentes no dia a dia das pessoas, acabam também arrochando o orçamento doméstico, são a cebola (41,25%) e a cenoura (34,35%), que, em alguns momentos, chegou a registrar alta de mais 300% nos preços.
Entre o segundo e o terceiro trimestres do ano, é comum o preço do leite e seus derivados ficarem mais altos no Espírito Santo. O motivo é a entressafra, período em que há uma queda na produção por conta do período de estiagem. O problema é que a seca que cortou o Espírito Santo neste ano acabou sendo mais severa que o normal, principalmente no Sul do Estado, onde se concentra a cultura de gado leiteiro.
Conforme foi noticiado por A Gazeta, o tempo seco e mais quente acabou levando não apenas a pastos com menos alimentos para as vacas como também a incêndios que destruíram várias áreas de pastagem. As questões climáticas, inclusive, levaram à desnutrição e também à morte de animais. O reflexo disso é uma alta considerável nos preços, com o litro do leite longa vida sendo vendido a mais de R$ 10.
Uma outra explicação, além da seca, foi o abate de vacas leiteiras para atender ao mercado de exportações de carne.
Além de fatores climáticos, a guerra entre Rússia e Ucrânia também contribuiu para que os preços se mantivessem elevados. A Rússia é um dos principais exportadores de fertilizantes do mundo, e o Brasil depende fortemente daquele país para o fornecimento de matérias-primas para fertilizantes utilizados nas lavouras.
O conflito na Europa também impacta no aumento do preço do trigo no mercado global, uma vez que os países são grandes exportadores do produto, como já mostrou reportagem de A Gazeta.
Na Grande Vitória, a farinha de trigo já acumula alta de 31,91% no ano — o terceiro maior percentual entre as regiões pesquisadas pelo IBGE. O pão de forma, por exemplo, foi o que mais encareceu no Brasil (28,56%). Já o macarrão ficou 25,17% mais caro.
Quando as carnes de boi, porco e frango ficam mais caras no mercado, a solução para muitos é comer mais ovo. Antes considerado alimento gorduroso, o item passou a ser queridinho das dietas por ser um alimento completo, ficando atrás apenas do leite materno.
A busca por uma vida mais saudável e a opção de gastar menos nas refeições levaram a um crescimento na procura. Mas isso tudo aconteceu justamente quando o preço desse alimento também começou a subir.
Um dos motivos foi o preço da soja, a principal proteína que alimenta as aves, que atingiu a maior alta em uma década. Essa aceleração tem relação com fatores climáticos e também com a guerra na Ucrânia, que deixou fertilizantes usados nessa cultura mais caros.
Mas não foi somente a alimentação que ficou mais cara. Despesas com vestuário avançaram 8,87%. O setor de confecções, aliás, tinha sido um dos mais prejudicados pela pandemia em 2020, devido às restrições ao comércio de rua, que precisou fechar em diversos momentos.
Com as flexibilizações, as vendas voltaram a subir. E também os preços. Além disso, a escassez de recursos de materiais e o preço alto do diesel para o transporte de mercadorias também contribuíram para o encarecimento.
Além disso, o IPCA mostrou que artigos de residência também aumentaram 6,92%. Já os gastos com saúde e cuidados pessoais subiram, em média, 6,61%. Educação (5,28%), despesas pessoais (4,84%), transportes (2,22%) e comunicação (0,66%) também ficaram mais caros.
Apenas os gastos com habitação diminuíram no acumulado do ano, ficando, em média, 6,26% mais baratos. Apesar disso, apresentaram o maior avanço de preços em agosto, com alta de 2,94%, sob efeito do encarecimento da energia elétrica (11,2%).
A energia elétrica foi um dos serviços contemplados com a redução da alíquota do ICMS. No Espírito Santo, a medida derrubou de 25% para 17% o percentual cobrado sobre a tarifa. Só que o preço do serviço acabou subindo mesmo com esse desconto. Uma das causas é o reajuste anual, que ocorreu no início de agosto nas cidades atendidas pela EDP. Em outros Estados, no entanto, o reajuste já havia acontecido ou ainda vai ocorrer.
O gás de cozinha tem sido um problema para muitas famílias no Espírito Santo. No ano, o produto teve a segunda maior alta do país na Grande Vitória. Apesar de ser um produto derivado do petróleo, assim como a gasolina, o GLP não acabou se beneficiando tanto com a redução de ICMS. No Estado, a alíquota já era 15%. Acabou que a nova lei que mudou as cobranças dos combustíveis e da energia deixou tudo elas por elas em território capixaba.
Sem qualquer vantagem em relação ao imposto, o produto continua sofrendo com as influências do preço do petróleo no mercado internacional e também do dólar. Há uma expectativa de que, nos próximos meses, haja uma contração, após a Petrobras anunciar duas vezes seguidas a redução no preço de venda às distribuidoras.
Mas, por enquanto, conforme mostrou a Agência Nacional de Petróleo (ANP), esse novo valor ainda não foi repassado aos consumidores. Os revendedores alegam que o desconto vai servir para pagar os reajustes salariais dos trabalhadores, não sendo possível colocar um preço menor para o comprador.
O preço da gasolina começou 2022 bem acelerado por conta da valorização do barril de petróleo no mercado internacional e devido ao dólar. O valor cobrado nas bombas, que chegou a ser de R$ 8 no Estado, começou a cair após a sanção de lei aprovada no Congresso Nacional, que reduziu de 27% para 15% a alíquota de ICMS. Painel de preços da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) traz que o preço médio do produto nas bombas é agora de R$ 5,12.
Após a mudança e de reajustes para baixo divulgados pela Petrobras, a gasolina teve deflação de 18% entre janeiro e agosto deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, conforme mostra o IPCA.
Após um longo período de preços só subindo, a carne começou a ficar mais barata nos açougues e supermercados com o aumento da disponibilidade no mercado de abate. Mesmo com as exportações em alta, houve maior produção também por causa da entressafra do leite. Com menor produtividade da bebida, algumas vacas foram usadas abatidas para atender à demanda local.
Entre as peças que tiveram maior retração no ano está o chão de dentro (-2,88%); o contrafilé (-1,11%); e o patinho (-0,99%). Carne de porco também apresentou recuo de 4,22% entre janeiro e agosto.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta