Dos quase 80 trabalhadores encontrados vivendo em condições análogas à escravidão na colheita de café em uma fazenda na cidade de Vila Valério, no Noroeste do Espírito Santo, 21 testaram positivo para a Covid-19 e ficarão isolados em um hotel até se recuperarem.
Os trabalhadores foram resgatados na última sexta-feira (7) por auditores fiscais do trabalho em uma operação com a Polícia Federal. Os auditores retornaram à propriedade nesta segunda-feira (10) e testaram todos que estavam no local.
O procedimento foi realizado porque, além das condições inadequadas de trabalho e moradia, muitos trabalhadores estavam com Covid-19 quando chegaram e foram colocados junto com os outros para seguirem no trabalho.
De acordo com informações da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Espírito Santo (SRTE-ES), que está à frente das investigações, os trabalhadores que testaram positivo para a doença serão encaminhados para um hotel, onde todos os protocolos devem ser seguidos.
Após esse período eles serão liberados para voltar para a casa. Todos os custos serão de responsabilidade dos proprietários da fazenda.
Os trabalhadores que tiveram o resultado negativo para a Covid-19 serão liberados para voltar para casa nesta terça-feira (11). Segundo a SRTE-ES, a advogada do dono da propriedade está providenciando os trâmites rescisórios dos trabalhadores.
Os auditores ainda não chegaram ao valor final, mas a produção média dos trabalhadores é de R$ 3,5 mil. Além desse valor, ainda tem o décimo terceiro, férias e o aviso prévio indenizado. Com isso, cada um dos trabalhadores deve receber até R$ 6 mil.
Os trabalhadores vindos de Minas Gerais foram encontrados em condições análogas à escravidão na Fazenda Vargem Alegre, que fica na localidade de Jurama, interior do município de Vila Valério. Eles foram ao local para trabalhar na colheita do café e, após denúncias, foram resgatados na última sexta.
Além do fato de que parte deles testou positivo para Covid-19 e mesmo assim eles eram mantidos no local sem tratamento de saúde ou isolamento, a operação verificou que todos tinham péssimas condições de trabalho e moradia e que não recebiam salários e outros direitos trabalhistas.
Os trabalhadores encontrados em Vila Valério são de cidades do Vale do Jequitinhonha, em Minas. A região é uma das mais pobres do estado vizinho. Eles saíram de casa no dia 17 de abril e teriam sido agenciados por um homem que trabalha trazendo essas pessoas para atuar na colheita do café no Espírito Santo. Esse tipo de agenciador é popularmente conhecido como "gato".
Ao chegarem em Vila Valério, os trabalhadores foram divididos em pequenos alojamentos que não tinham a estrutura adequada para abrigar os moradores. Os banheiros não tinham água quente e em um único quarto ficavam 10 mulheres. Além disso, três adolescentes de 16 e 17 anos estavam trabalhando no local.
Além disso, os trabalhadores tiveram a carteira de trabalho retida pelos empregadores. Segundo Alcimar, além de não receberem salários, eles eram ameaçados pelo proprietário, que dizia que eles teriam que trabalhar para pagar o dinheiro gasto com suas passagens.
A alimentação também seria descontada deles no fim da colheita. Além disso, no local tinha uma venda onde as compras também seriam descontadas dos valores a serem recebidos. Em função disso, eles eram impedidos de deixar a propriedade.
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