O número de pessoas que ficavam ao menos um dia por semana sem comer no Espírito Santo mostra como muitas famílias não eram alcançadas pelos programas de transferência de renda e de apoio ao emprego. Pelo menos 47,3 mil famílias estão nessa condição de insegurança alimentar. Em todo o Brasil, são 3,1 milhões de famílias passando fome por falta de dinheiro.
Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados entre 2017 e 2018, últimos disponíveis, mostram ainda o total de lares que precisaram reduzir a quantidade de alimentos entre adultos - situação que, na grande maioria das vezes, ocorre porque os pais limitam sua alimentação para não faltar comida para os filhos.
O auxílio emergencial que chegou a ser pago a mais de 1,2 milhão de pessoas no ES foi essencial para reduzir os dados da fome. A preocupação agora é que muitos acabem voltando para a condição de vulnerabilidade alimentar ao não ter acesso à assistência social nem a programas de inclusão no mercado de trabalho.
Mais de 85,2 mil lares capixabas estão em situação moderada de insegurança alimentar. Em todo o país são quase 5,6 milhões de famílias.
De acordo com o diretor do Centro de Excelência contra a Fome do WFP, programa mundial de alimentação da ONU ganhador do Nobel da Paz 2020, Daniel Balaban, o número de pessoas que vivem com escassez de alimento tem aumentado por conta do desemprego e do avanço tecnológico.
Muitas pessoas buscam seus recursos diretamente nas ruas, vendendo algo, por exemplo. com a pandemia tiveram que parar de vender e, com isso, o dinheiro reduziu, explica.
A perspectiva não é nada animadora para os próximos anos. De acordo com o Balaban, sem o apoio de políticas públicas de transferência de renda para essas famílias, os números vão crescer ainda mais após a pandemia, já que a retomada dos empregos não ocorrerá na velocidade que a população precisa.
O quadro de fome pode ser agravado com a queda do valor do auxílio emergencial e mais ainda com o seu fim. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em julho, sobre o mercado de trabalho nacional, apresenta o efeito marginal de dois cenários de valores do benefício emergencial (R$ 600 e R$ 300) implementados pelo governo federal.
De acordo com a pesquisa, os impactos sobre a pobreza e a desigualdade são expressivos e, sem a ajuda do Estado, essas pessoas devem voltar a passar dificuldades financeiras.
Para esse estudo foram considerados como pobres os indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a um terço do salário mínimo vigente em 2020 (R$ 1.045,00), o equivalente a R$ 348,33. Com o pagamento de R$ 300 durante três meses, a pobreza cairia 9,7 pontos percentuais (p.p.). Já no valor de R$ 600, a redução seria ainda maior, 16,5 p.p.
Outro importante índice que seria reduzido é o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres. Quanto mais próximo de 0, menos desigual um país é. Atualmente, o Brasil tem o índice 0,543.
O estudo do Ipea mostrou que, com o valor de R$ 600 por três meses, o índice de Gini cairia de 0,543 para 0,463 uma queda de, aproximadamente, 14,5%. Já para o valor de R$ 300, essa redução seria de 7,4% e o coeficiente de Gini atingiria a casa dos 0,503.
Isso evidencia que o foco nos mais pobres e informais têm um efeito nivelador da hierarquia de rendimentos. Na ausência de qualquer benefício dessa natureza, a desigualdade teria aumentado de modo constante e rápido. A renda domiciliar per capita teria caído cerca de R$ 95,00, o coeficiente de Gini subiria para 0,560 e a pobreza teria crescido aproximadamente 3,2 p.p., atingindo 22% da população, explica o estudo.
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