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47,3 mil famílias ficam ao menos um dia sem comer no ES

47,3 mil famílias ficam ao menos um dia sem comer no ES

Em todo o Brasil, são 3,1 milhões de lares com moradores passando fome por falta de dinheiro. O número de pessoas que vivem com escassez de alimento tem aumentado

Publicado em 21 de outubro de 2020 às 11:02

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Panela vazia: 20,8% dos capixabas vivem abaixo da linha da pobreza
Panela vazia: capixabas vivem abaixo da linha da pobreza. (Fernando Madeira - 19/07/2019)

O número de pessoas que ficavam ao menos um dia por semana sem comer no Espírito Santo mostra como muitas famílias não eram alcançadas pelos programas de transferência de renda e de apoio ao emprego. Pelo menos 47,3 mil famílias estão nessa condição de insegurança alimentar. Em todo o Brasil, são 3,1 milhões de famílias passando fome por falta de dinheiro.

Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados entre 2017 e 2018, últimos disponíveis, mostram ainda o total de lares que precisaram reduzir a quantidade de alimentos entre adultos - situação que, na grande maioria das vezes, ocorre porque os pais limitam sua alimentação para não faltar comida para os filhos.

47,3 mil famílias ficam ao menos um dia sem comer no ES

O auxílio emergencial que chegou a ser pago a mais de 1,2 milhão de pessoas no ES foi essencial para reduzir os dados da fome. A preocupação agora é que muitos acabem voltando para a condição de vulnerabilidade alimentar ao não ter acesso à assistência social nem a programas de inclusão no mercado de trabalho.

82,5 MIL
FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO MODERADA DE INSEGURANÇA ALIMENTAR

Mais de 85,2 mil lares capixabas estão em situação moderada de insegurança alimentar. Em todo o país são quase 5,6 milhões de famílias.

De acordo com o diretor do Centro de Excelência contra a Fome do WFP, programa mundial de alimentação da ONU ganhador do Nobel da Paz 2020, Daniel Balaban, o número de pessoas que vivem com escassez de alimento tem aumentado por conta do desemprego e do avanço tecnológico.

“Muitas pessoas buscam seus recursos diretamente nas ruas, vendendo algo, por exemplo. com a pandemia tiveram que parar de vender e, com isso, o dinheiro reduziu”, explica.

A perspectiva não é nada animadora para os próximos anos. De acordo com o Balaban, sem o apoio de políticas públicas de transferência de renda para essas famílias, os números vão crescer ainda mais após a pandemia, já que a retomada dos empregos não ocorrerá na velocidade que a população precisa.

O quadro de fome pode ser agravado com a queda do valor do auxílio emergencial e mais ainda com o seu fim. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em julho, sobre o mercado de trabalho nacional, apresenta o efeito marginal de dois cenários de valores do benefício emergencial (R$ 600 e R$ 300) implementados pelo governo federal.

De acordo com a pesquisa, os impactos sobre a pobreza e a desigualdade são expressivos e, sem a ajuda do Estado, essas pessoas devem voltar a passar dificuldades financeiras.

R$ 348,33
RENDA MENSAL LIMITE DE PESSOAS QUE VIVEM NA POBREZA

Para esse estudo foram considerados como pobres os indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a um terço do salário mínimo vigente em 2020 (R$ 1.045,00), o equivalente a R$ 348,33. Com o pagamento de R$ 300 durante três meses, a pobreza cairia 9,7 pontos percentuais (p.p.). Já no valor de R$ 600, a redução seria ainda maior, 16,5 p.p.

Outro importante índice que seria reduzido é o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres. Quanto mais próximo de 0, menos desigual um país é. Atualmente, o Brasil tem o índice 0,543.

O estudo do Ipea mostrou que, com o valor de R$ 600 por três meses, o índice de Gini cairia de 0,543 para 0,463 – uma queda de, aproximadamente, 14,5%. Já para o valor de R$ 300, essa redução seria de 7,4% e o coeficiente de Gini atingiria a casa dos 0,503.

“Isso evidencia que o foco nos mais pobres e informais têm um efeito nivelador da hierarquia de rendimentos. Na ausência de qualquer benefício dessa natureza, a desigualdade teria aumentado de modo constante e rápido. A renda domiciliar per capita teria caído cerca de R$ 95,00, o coeficiente de Gini subiria para 0,560 e a pobreza teria crescido aproximadamente 3,2 p.p., atingindo 22% da população”, explica o estudo.

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