A onda de frio e a seca registrada no Espírito Santo e em todo o Brasil tem pressionado o preço de muitos alimentos básicos do dia a dia, fazendo com que a conta do supermercado fique ainda mais cara. O açúcar é um dos produtos cujos mais avançaram nos últimos meses.
De acordo com os dados mais recentes do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço desse adoçante já apresenta alta de 40,51% em 12 meses na Grande Vitória, sendo que a maior parte do aumento (21,71%) ocorreu entre janeiro e julho deste ano.
Somente no mês passado, o avanço foi de 3,05% - a maior expansão mensal de preços desde abril (6,29%), quando a cotação mais alta do petróleo beneficiou os preços do etanol, levando as usinas de açúcar do país a destinarem mais moagem de cana para a produção do combustível, no lugar de açúcar, reduzindo a oferta do adoçante.
Agora, é a combinação de seca e geadas que afeta a produção. De acordo com o 2º Levantamento da Safra 2021/22, divulgado na quinta-feira (19) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de cana-de-açúcar no Brasil deve ter uma queda 9,5% na atual safra em relação à temporada anterior.
A expectativa é que sejam colhidos 592 milhões de toneladas, representando um volume de cerca de 62 milhões de toneladas a menos em relação à safra anterior (2020/2021).
Segundo o órgão, os efeitos climáticos adversos da estiagem durante o ciclo produtivo das lavouras e as baixas temperaturas registradas em junho e julho estão entre as causas da redução, que incluem ainda episódios de geadas em algumas áreas de produção, sobretudo nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, onde as temperaturas chegaram a ficar negativas recentemente.
Com a diminuição da oferta da matéria prima, haverá impacto também nos derivados. A Conab aponta que o volume de açúcar previsto para a safra, estimado em 36,9 milhões de toneladas, é 10,5% menor que o produzido na temporada anterior.
O diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, comenta que tanto a produtividade da lavoura, quanto a qualidade da matéria-prima cultivada, sofreram com as geadas observadas nas últimas semanas na região Centro-Sul.
“A necessidade de colher as áreas atingidas pela geada exigiu alterações significativas no cronograma de colheita em várias unidades produtoras, com impacto estimado na produtividade de julho de superior a 5 toneladas por hectares e piora da qualidade da cana-de-açúcar processada no mês.”
Diante do cenário de aumento das incertezas sobre a oferta futura, o preço médio do açúcar disparou. A alta, entretanto, ainda não está sendo totalmente repassada pelos supermercados. Quem tem estoque anterior, ainda não elevou o valor do produto.
Uma rede de supermercados da Grande Vitória, entretanto, decidiu limitar a compra de pacotes de açúcar pelos consumidores, para não ter que adquirir o produto mais caro e repassar os aumentos de imediato.
O superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider, aponta, porém, que o aumento de preços é inevitável e não deve demorar a chegar às gôndulas dos mercados.
"O açúcar, especialmente, é um alimento de alto consumo e a reposição é muito rápida. Acaba o estoque e o supermercado já tem que reabastecer. Infelizmente, é uma notícia que não agrada a ninguém, nem ao supermercadista, nem ao consumidor. Já estamos com um efeito muito ruim da falta de chuva em algumas áreas do país, agravando o preço do arroz, do milho, da soja. A energia subindo cada vez mais, afetando o preço de outros tantos produtos, e agora mais essa situação."
No ano passado, a venda de produtos como arroz e óleo de soja também foi limitada. Mas, na atual situação, são os fatores climáticos, e não o aumento de exportações que tem causado o desequilíbrio entre oferta e demanda.
Segundo relatório publicado no último dia 12 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o açúcar foi o segundo produto (depois do milho) que apresentou maior queda na quantidade exportada (25%) em julho deste ano frente a 2020. O órgão destacou que as estimativas das safras estão sendo impactadas pela redução da área plantada e por conta de incertezas em relação ao clima (stress hídrico).
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