O anúncio da retomada de voos diários diretos para Guarapari, ainda que de forma temporária durante o verão, pegou muitos capixabas de surpresa nesta terça-feira (17). E não sem motivo: o aeroporto do município não recebe voos comerciais há 18 anos.
Até 2002, a TAM operava o trecho que ligava Belo Horizonte (MG) à Guarapari e Vitória. O balneário, entretanto, deixou de figurar entre os trechos prioritários. Uma das explicações seria a proximidade do Aeroporto de Vitória, com maior demanda, conectividade e capacidade para atender muito mais viajantes.
Essa proximidade entre os terminais, aliás, já rendeu algumas situações inusitadas. Uma delas ocorreu em 1998 quando um piloto da Tam confundiu a cidade e desembarcou 108 passageiros muito confusos no aeroporto de Guarapari, quando, na realidade, o destino final do voo seria o Aeroporto Eurico de Aguiar Salles. O voo, que havia saído do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, estava repleto de engenheiros que participariam de um processo de licitação da Vale.
Atualmente, o aeroporto regional de Guarapari, que é administrado pela prefeitura do município, recebe apenas voos executivos e aeronaves de pequeno porte em operação que não são regulares.
Nesta terça-feira (17), a Azul Linhas Áreas informou que irá comercializar voos diretos entre Guarapari e BH entre 17 de dezembro e 31 de janeiro de 2021, período de alta temporada. Um comunicado preliminar havia sido feito pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, no Twitter.
Anualmente, durante o verão, a cidade capixaba recebe milhares de turistas, principalmente mineiros. De acordo com a empresa, a novidade faz parte de uma malha exclusiva para a alta temporada, que contempla nove destinos nacionais muito procurados.
Nove também é a capacidade máxima de passageiros permitidos nos voos, que serão feitos em aeronaves modelo Cessna Gran Caravan, e operados pela Azul Conecta, empresa sub-regional da Azul Linhas Aéreas. O modelo escolhido permite a operação em pistas curtas e faz pequenas distâncias, como a rota Guarapari-BH, que terá viagem de 1h40.
A capacidade de transporte, evidentemente, é bem menor em comparação aos voos comerciais rotineiros. Mas o próprio aeroporto de Guarapari também tem espaço reduzido, e não comporta grandes aviões, que exigem grandes pistas de pousos e decolagens.
A pista do aeroporto de Guarapari tem apenas 940 metros de comprimento. Para se ter uma ideia, a estrutura tem menos da metade do tamanho da pista principal do Aeroporto de Vitória (a mais nova), que tem 2.058 metros, e também é bem menor que a mais antiga, que ainda é usada e tem 1.750 metros.
Para mudar esse cenário e atrair voos regulares, a secretária Municipal de Turismo, Empreendedorismo e Cultura de Guarapari, Letícia Regina Souza, explica que será necessário investir na construção de um novo aeroporto na cidade. Segundo ela, isso está nos planos da atual gestão municipal, que continuará à frente da prefeitura entre 2021 e 2024, visando ampliar a capacidade aeroportuária.
Queremos receber voos maiores. Mas não é uma questão imediata. Temos ainda quatro anos pela frente, e estamos definindo qual a melhor forma de fazer isso. Mas já consigo adiantar que será em outro local do município. O atual aeroporto não tem condições de receber grandes aeronaves, destaca.
Enquanto isso não ocorre, a prefeitura irá realizar modificações pontuais no atual aeroporto para que seja possível a operação dos voos programados. A secretária explica que são, sobretudo, obras de revitalização, como melhorias nos banheiros e no saguão de embarque.
Uma reunião entre a Secretaria Municipal de Turismo, Empreendedorismo e Cultura (Setec) e a Secretaria Municipal de Obras Públicas e Serviços Urbanos (Semop) foi realizada nesta tarde para definir todas as alterações necessárias. Uma visita técnica ao local foi marcada para avaliação.
No ano passado, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) chegou a proibir temporariamente operações de pousos no aeroporto de Guarapari devido a inconformidades na estrutura na pista. Entre elas, a necessidade do reforço na sinalização, novas pinturas nas pistas e a manutenção nas telas de contenção da via. Os problemas foram corrigidos na época e os pousos novamente liberados semanas depois.
Segundo Letícia, dessa vez, esse tipo de reparo não será necessário. Serão algumas obras de revitalização. Não precisaremos fazer alterações nas pistas. Elas já são utilizadas para alguns voos pequenos e está tudo certo. A própria Azul vistoriou antes de confirmar os voos".
Hoje, o único aeroporto regional do Estado com perspectiva de receber voos comerciais regulares é o de Linhares, que está com obras em andamento para ampliação da pista e ainda vai ganhar um novo terminal. O investimento é feito pelo governo federal em parceria com o governo do Estado. A Azul já confirmou que quer abrir um voo para a cidade assim que for possível, também para Belo Horizonte.
Em 2019, durante as discussões sobre a concessão do Aeroporto de Vitória, o governo do Espírito Santo e o Ministério da Infraestrutura fecharam um acordo para que, além de Linhares, também fossem feitos investimentos no Aeroporto de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, mas nenhum projeto foi apresentando até agora.
A secretária de Turismo de Guarapari frisou que a volta das rotas comerciais, ainda que somente durante a alta temporada, são uma boa notícia para o município, e que deverá ajudar não apenas a fortalecer o turismo, mas também atrair empresários, e, possivelmente, novos negócios.
O ponto também foi reforçado pelo secretário de Estado de Turismo, Dorval Uliana, em entrevista à CBN Vitória nesta terça. Para ele, faz sentido que o voo ligue a cidade diretamente a Belo Horizonte, pois cerca de 46% dos turistas de Guarapari vêm de Minas Gerais.
Ele destacou ainda que, muito embora o voo tenha uma capacidade limitada de passageiros, a alternativa tende a ser buscada por pessoas que buscam não apenas conforto na hora da viagem, mas também tem poder aquisitivo mais alto, o que ajuda a movimentar a economia capixaba.
É um avião menor, então em termos de quantidades de fluxo turístico não é tão significativo, mas é importante pela qualificação do turista que vem para o Espírito Santo. Cerca de metade dos turistas que vêm de Minas tem entre 31 e 60 anos, ou seja, são pessoas em plena capacidade econômica, e que tem capacidade de investir, disse Dorval.
A expansão de turismo de negócios, aliás, é um dos motivos que têm levado o governo estadual a se articular também com a Zurich, empresa suíça que administra o Aeroporto de Vitória, para buscar voos com destinos como o Sul da Bahia, Leste de Minas, e Norte do Rio de Janeiro, conforme declarou o secretário à CBN.
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