Não é de hoje que histórias se propagam sobre a possibilidade de existir ouro sob as águas do Rio Itapemirim, no Sul do Espírito Santo. A busca pelo minério, com alto valor de mercado, incentiva aventureiros há tempos e, nos últimos anos, garimpos ilegais foram flagrados na região pela Polícia Militar Ambiental.
O ouro é um dos metais mais procurados e apreciados do mundo, mas no Sul do Estado, mais precisamente no fundo do Rio Itapemirim, a chance de enriquecer encontrando fragmentos do minério é quase zero.
Quem dá o banho de água fria sobre as especulações é o presidente do comitê das bacias hidrográficas do Espírito Santo e vice-presidente da bacia do Rio Itapemirim, Paulo Breda. “Segundo a Ufes, que faz estudos de pesquisa na área de geologia, a bacia não tem caraterísticas para o mineral. Pode existir alguma coisa, mas não necessariamente quantidades como em outros Estados, pois não tem característica para o mineral”, explica.
O professor de Engenharia de Minas do Ifes no campus de Cachoeiro de Itapemirim, Gleicon Maior, concorda com Breda. “As pessoas dizem que existe, até mesmo na localidade de Bateia, em Castelo, mas pela estrutura geológica da região, pela ausência de minerais farejadores (como a turmalina), não há presença de ouro. Em certo número, esses minerais indicadores apontam que haja outros, como o ouro. Se alguém achar, será em quantidades muito pequenas, que não valeria tempo e investimento, e buscar em qualquer ponto é como dar um tiro na água”, brinca.
Após encontrar indicativos em um mapeamento geológico, os especialistas precisam ainda de outras análises para encontrar o raro metal em uma jazida, como amostras de rochas, solo e sedimentos para analisar as áreas que podem ter o metal.
Cachoeiro de Itapemirim, polo de extração e beneficiamento de rochas, já passou por estudos geológicos e nenhum indicativo de ouro foi apresentado até o momento, apenas pedras ornamentais que ganham o mundo com sua beleza. Diferente do Espírito Santo, Estados como Goiás, Minas Gerais, Pará, Bahia e outros são áreas de ocorrências de extração do minério.
No dia 30 de junho, um homem foi preso após ser flagrado com uma balsa e equipamentos de mergulho na localidade de Santa Maria do Norte, que fica em Jerônimo Monteiro, no limite entre o município e Cachoeiro de Itapemirim. Outros homens estavam com ele na exploração em busca de ouro, mas fugiram.
Capitão da Polícia Militar Ambiental, Reinaldo Faria lembra que o fato não foi isolado e diz que, no passado, casos parecidos já foram denunciados. Em 2017, por exemplo, no mesmo local quatro homens conseguiram fugir e deixaram a embarcação usada para a prática ilegal para trás quando foram flagrados.
Em 2018, no município vizinho de Alegre, mais quatro homens foram flagrados tentando extrair ouro no rio.
Em todos os casos, tinham roupas de mergulho, uma balsa e material utilizado para separar o metal da lama. “Eles se submetem a mergulhos de até 30 metros embaixo d’água, correndo até risco de morte. Esse último preso contou que veio de Manhuaçu por conta do boato de que as águas do Itapemirim escondem ouro. Disse que não conseguiu encontrar nenhum ouro e nunca encontramos ninguém que tenha encontrado o minério por aqui”, afirma o capitão.
Um dos grandes problemas no garimpo manual nos rios é a poluição das águas. Para encontrar o ouro em meio ao cascalho é utilizado o elemento químico mercúrio. Ele funciona como um ímã, que gruda nos pedaços menores de ouro e assim podem ser vistos e separados.
O mercúrio é um elemento tóxico e sua ingestão pode causar a má formação de fetos e dificuldade na coordenação motora em adultos e crianças.
Segundo a Polícia Militar Ambiental, a extração de recursos minerais sem autorização do poder público pode resultar na prática de dois crimes distintos. O primeiro é o crime de extração irregular de recursos minerais, previsto no artigo 55 da Lei de Crimes Ambientais e o segundo é em usurpação de bem federal, previsto no artigo 2º, “caput” da Lei 8176/91.
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