Os setores de serviços e agronegócio têm puxado a economia capixaba, que, embora tenha apresentado resultado positivo pelo segundo ano seguido, registra uma trajetória de queda, em meio a um cenário global delicado.
Enquanto o PIB do Brasil cresceu 2,9% em 2022, a economia capixaba avançou somente 1% no período, invertendo as posições ocupadas em 2021, quando a economia nacional avançou 5%, e a do Espírito Santo saltou 9,2%, de acordo com as projeções do IAE-Findes.
Os setores de comércio e serviços e agricultura tiveram um incremento de 5% e 7,1%, respectivamente, ao longo de 2022, segundo dados do Indicador de Atividade Econômica (IAE) da Federação de Indústrias do Espírito Santo (Findes), divulgado nesta quinta-feira (16).
O setor de serviços, especificamente, responde por 56,5% da economia capixaba, englobando também as atividades de comércio, transporte, entre outras que também tiveram desempenho positivo no ano passado.
No agro, o crescimento foi impulsionado tanto pela agricultura (8,4%), com o aumento da produção das lavouras de café, arroz, milho e laranja, quanto pela pecuária (3,6%), com bons resultados na bovinocultura (leite e abate) e avicultura (ovos e abate). O avanço do setor foi na contramão do resultado nacional (-1,7%).
Também na direção contrária do desempenho brasileiro, a indústria, que, no país, apresentou crescimento de 1,6% em 2022, manteve a trajetória de queda no Estado, recuando 9,7%, na comparação com 2021, influenciada por acontecimentos do mercado nacional e internacional.
Trata-se do terceiro Estado com a maior participação da demanda externa em relação à sua demanda total, e, portanto, possui uma maior dependência do desempenho desses mercados.
Embora outros setores também tenham sido afetados em menor escala, foi a indústria que mais sentiu o peso de acontecimentos, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, que afetou o preço das commodities e reduziu o ritmo de normalização das cadeias globais de suprimento. Internamente, houve, entre outros fatores, desequilíbrio econômico e político, intensificado pelo ano eleitoral.
A economista-chefe da Findes e gerente-executiva do Observatório da Indústria, Marília Silva, reforçou que o ano trouxe algumas frustrações para o setor, que esperava melhora nos resultados.
“Esperava-se um processo de normalização das cadeias globais de suprimento, após dois anos de pandemia, além de expectativas quanto às mitigações da crise hidroenergética que aconteceu em 2021. Porém, o conflito na Ucrânia alterou as expectativas para o ano.”
Tanto a indústria extrativa quanto a indústria de transformação tiveram impacto no resultado geral do setor.
“Quando olhamos para a indústria extrativa vemos uma queda de 25,4%, que é explicada pela redução nas produções das duas atividades que compõem o setor no Estado: petróleo e gás natural (-35,2%) e pelotização do minério de ferro e outras atividades (-12,4%)”, explica Marília.
Já no segmento da transformação (-5,5%), apenas a fabricação de celulose, papel e produtos de papel (6,5%) foi positiva no ano, enquanto as demais atividades apresentaram retração: fabricação de produtos de minerais não-metálicos (-11%), fabricação de coque, de derivados do petróleo e de biocombustíveis (-8,1%), metalurgia (-5,5%) e fabricação de produtos alimentícios (-4,9%).
A indústria da construção (5,2%) e o segmento de energia e saneamento (1,3%), por outro lado, tiveram desempenho positivo em 2022.
Apesar dos percalços, a presidente da Findes, Cris Samorini, avalia que há boas perspectivas para o setor industrial e destaca que o fortalecimento da indústria de transformação é um ponto-chave, considerando que, nos últimos anos, a indústria extrativa tem desacelerado, devido à redução da produção de petróleo e gás e da extração de minério no Estado.
“De 2010 a 2020, a participação da indústria capixaba de transformação avançou 4,5 pontos percentuais no valor adicionado do setor, ao tempo em que a indústria extrativa reduzia. Além disso, quando olhamos para o futuro, teremos investimentos nesses setores como os do Parque das Baleias pela Petrobras e o início da produção de briquete verde pela Vale.”
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