Após registrar queda de 0,7% em março, as vendas do comércio do Espírito Santo ficaram estáveis em abril na comparação com o mês anterior. Contudo, o patamar ainda é mais baixo que no primeiro trimestre, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta terça-feira (08) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No país, foi registrado avanço de 1,8%.
Enquanto o estudo mais recente mostra uma leve desaceleração das vendas do Estado, sob efeito das restrições impostas em função da segunda onda da pandemia, nas demais bases de comparação, o desempenho do varejo capixaba é positivo, e aponta, inclusive, para a recuperação de setores duramente prejudicados pela crise no último ano.
Entre janeiro e abril, por exemplo, as vendas do comércio no Estado acumularam crescimento de 9,8%. Já no acumulado em 12 meses, a alta foi de 8,7%. O avanço em relação a abril de 2020, por sua vez, foi de 27,6%, com destaque para o segmento de tecidos, vestuário e calçados, cujas vendas tiveram um salto de 713,6% na comparação interanual.
Especialistas explicam o forte crescimento pode ser atribuído, principalmente, à base de comparação, que estava muito baixa em função da pandemia de Covid-19 ter estourado no final do primeiro trimestre do ano passado.
Em abril de 2020, somente em parte do Estado os estabelecimentos puderam atender clientes de forma presencial. Ainda assim, o horário de funcionamento era reduzido e o comércio trabalhava em regime de revezamento. Em algumas regiões, inclusive na Grande Vitória, as lojas puderam funcionar somente com delivery e retiradas.
Como o foco dos consumidores estava nos itens essenciais, naquele mês, as vendas do setor de tecidos, vestuário e calçados despencaram 87,7% em relação ao mesmo período de 2019, isto é, no ano pré-pandemia. O avanço de mais 700% em abril deste ano aponta não apenas um recuperação, mas para um leve crescimento apesar da crise.
“Os primeiros meses de pandemia foram muito complicados. Houve queda nas vendas, até por causa das restrições, mas, quando a economia começou a reaquecer, foi mais rápido do que se pensava. Houve um aumento da demanda, mas como tínhamos dificuldade de importação, houve um olhar para o mercado interno”, observou o vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES) e empresário do ramo de confecções, José Carlos Bergamin.
Ele explica que, quando isso acontece, há um aumento de vendas considerável porque compra-se, por exemplo, o fio, o tecido, e a peça confeccionada. Ou seja, criam-se três faturamentos diferentes, e todo o setor é beneficiado.
“Abril ainda foi um mês de transição, mas maio foi bem melhor até do que 2019, pré-pandemia. E junho deve ir nessa onda. No final de ano passado, tivemos complicações por falta de matéria-prima, que afetou a produção. Ainda estamos tentando organizar o mercado. Mas houve um aquecimento. Hoje estamos com falta de mão de obra, falta de matéria-prima, e alta de pedidos.”
Além do segmento de tecidos, vestuário e calçados, outras áreas se destacaram. As vendas de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, por exemplo, aumentaram 123,8% na comparação com abril do ano passado. As vendas do setor moveleiro, por sua vez, tiveram incremento de 105,2%.
Com aumento de demanda em função da retomada das aulas em diversos municípios, as vendas de livros, jornais, revistas e papelarias apresentaram aumento de 90,8% em comparação a abril de 2020. A comercialização de artigos de uso pessoal e doméstico cresceu 87,2%.
Já os combustíveis, que foram motivo de queixas constantes durante a crise sanitária, tendo puxado a inflação no Estado em diversos meses, tiveram aumento de 49,5% nas vendas.
Também houve aumento de vendas nos segmentos de artigos farmacêuticos e médicos (35,7%) e eletrodomésticos (25,3%).
No varejo ampliado, que compreende também as vendas de veículos, motocicletas, partes e peças (120,3%), e materiais de construção (62,6%), o desempenho também foi positivo, com crescimento geral de 58,3% em abril, se comparado ao mesmo período do ano passado.
O segmento de construção, particularmente, tem se mantido na liderança desde o início da pandemia, tendo quase dobrado receitas e operações em alguns momentos.
Na visão do coordenador de Estudos Econômicos do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Antonio Ricardo Freislebem da Rocha, o desempenho mensal do varejo (de estabilização), em comparação ao mês anterior, só não é melhor por causa das restrições que ainda perduravam no mês de abril deste ano.
Nos primeiros quatro dias daquele mês, o Estado ainda enfrentava uma quarentena por conta do recrudescimento da pandemia, e mesmo depois, diversos municípios permaneceram com limitações de atividades, por conta da classificação de risco alta para a contaminação pelo coronavírus.
Enquanto setores como vestuário e tecidos, livros e papelaria, e, em algum nível, até segmentos como o de combustíveis e lubrificantes, em função das restrições de mobilidade, saíram de patamares muito baixos, outros setores cujo desempenho não foi tão afetado pela crise apresentam agora um crescimento mais modesto, se comparados aos demais.
“Quanto maior a queda anteriormente, maior tem sido a recuperação. Os setores que apresentaram crescimento mais modesto, foi porque não foram muito prejudicados no ano passado. Na verdade, no caso do setor de supermercados, por exemplo, houve até um crescimento da demanda, por temor de falta de gêneros alimentícios logo no início da pandemia.”
Embora ache improvável que os mesmos percentuais de crescimento se repitam nos próximos meses, tendo em vista que abril de 2020 foi justamente o mês mais crítico da pandemia para a economia, Rocha pontua que, nos próximos meses, indicadores podem sinalizar recuperação sustentada do varejo.
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