Na gôndola do supermercados e açougues do Estado, olhar para o preço da carne bovina e não se espantar com o valor se tornou um desafio. Com o preço nas alturas, o quilo dessa proteína animal tem feito os consumidores repensarem se vale ou não a pena levar algumas gramas para casa. O dólar em alta e o apetite chinês aquecido fez a indústria exportadora de carnes apostar mais no mercado externo e deixar de lado o interno. O resultado dessa equação é que a carne vem se tornando um luxo e pode ficar mais cara neste mês.
A arroba (equivale a 15 quilos) da carne bovina comercializada na B3 passou de R$ 149 para R$ 231,35, de janeiro a novembro deste ano, uma alta de 55,2% entre os meses. Apesar dos dados não serem sobre a venda em supermercados e açougues, eles já sinalizam o movimento de elevação de preços que vem ocorrendo no setor e que já foi repassado ao consumidor.
Ainda de acordo com histórico de preços do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, a maior tendência de alta começou no dia 4 de novembro, quando a arroba estava em R$ 167,95, o que representou uma alta de 37,7% até o dia 29 de novembro.
A maior variação de preços ocorreu no dia 21 do último mês, quando a arroba bovina disparou em 11,85%, passando de R$ 203,30 no dia anterior para R$ 227,40.
De janeiro a outubro deste ano o Estado exportou aproximadamente 4,5 mil toneladas de carne bovina congelada, fresca ou refrigerada. O equivalente a quase US$ 17,6 milhões. Os dados de novembro ainda não foram divulgados pelo Ministério da Economia.
Esse fluxo vem aumentando junto com o preço do dólar comercial que já está cotado em R$ 4,24. Essa valorização do dólar tornou mais vantajoso para os produtores exportar do que vender ao mercado interno.
O presidente da Federação da Agricultura (Faes), Júlio Rocha, afirma que o preço da carne bovina deve sofrer uma queda, mas apenas depois do verão. Porém, ainda avalia que mesmo assim ele não deve voltar ao patamar do início do ano. Os preços da pecuária estão congelados há quase três anos, com isso muitos produtores reduziram seus rebanhos, já que o custo de produção crescia, mas a remuneração deles não, aponta.
De acordo com os dados do Cepea, entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018, a cotação da arroba bovina na B3 subiu apenas 3%, percentual bem diferente do acumulado de 2019 (55,2%).
O mês de novembro também coincidiu com o aumento da demanda da Ásia. A venda de carne bovina do Brasil para o continente vem crescendo devido ao surto de peste suína africana. Devido a doença, o mercado,principalmente da China e da Arábia Saudita, ficou desabastecido e as indústrias brasileiras viram ali uma oportunidade de ter melhores preços.
Em novembro, o Brasil habilitou mais 13 frigoríficos para exportar para a China (cinco de produção de carne bovina e três de aves), além de oito de carne bovina e produtos derivados para a Arábia Saudita, aumentando assim a exportação da proteína.
O presidente do Sindicato da Indústria do Frio do Estado do Espírito Santo (Sindifrio), Evaldo Lievore, explica que cada país tem um costume de compras diferente. Israel só compra a parte dianteira do boi, já a China leva quase todos os cortes bovinos. O corte que cada país vai levar depende do contrato, da cultura dele e do seu nível econômico. No momento não está faltando cortes no mercado capixaba e ele está abastecido, comenta.
A escalada de preços do quilo da carne de boi está fazendo com que muita gente troque a proteína bovina, pela suína, por exemplo. Por chegar a custar, às vezes, menos de um terço do quilo da carne suína. Segundo dados do Cepea, em janeiro deste ano, o quilo do suíno custava R$ 3,09 (RS). Em novembro, chegou a R$ 5,07.
Segundo o Evaldo, quando a carne bovina sobe, a suína, as aves e peixes acompanham a tendência de alta. Isso ocorre porque há uma migração de consumo. Se aumenta a procura por um determinado tipo de mercadoria e a produção continua a mesma, logo o preço vai aumentar.
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