Pagar ou receber dinheiro em dez segundos, mais rápido do que abrir a carteira. Essa é a promessa do pagamento instantâneo que deve começar a partir de 2020 no Brasil. No novo modelo, as transações entre pessoas e empresas poderão ser feitas 24 horas por dia. O pagamento instantâneo promete mudar a maneira como os brasileiros lidam com a conta-corrente, o cartão físico e até, no longo prazo, reduzir o volume de cédulas e moedas em circulação.
Hoje, se você quer fazer uma transferência entre pessoas ou empresas que têm contas em bancos diferentes tem que fazer um TED ou um DOC, que só pode ser realizado em horário comercial e em dias de semana porque o sistema tem que passar pela câmara de custódia do Banco Central, que valida o pagamento, explica o professor da Fucape e PhD em Contabilidade e Finanças André Moura.
O Banco Central reuniu, pela primeira vez, em abril, representantes de dois grupos de trabalho formados para discutir negócios (produtos) e requisitos técnicos de funcionamento (segurança, padronização de serviços, redes de conectividade) do sistema brasileiro de pagamento instantâneo.
Segundo o especialista, a mudança, que deve começar a valer a partir do final do ano que vem, vai beneficiar as empresas e as pessoas físicas. Hoje a empresa que precisa fechar um contrato na sexta à noite tem que esperar até segunda-feira para receber o dinheiro. O pagamento instantâneo agilizaria muito o nosso ecossistema empresarial, diz.
Além disso, as transações entre pessoas físicas ficarão mais rápidas e mais baratas. Como hoje o sistema processa mais devagar, gera custo financeiro e também de tempo. O Banco Central vai adotar tecnologia utilizada pelas criptomoedas. Além de ter grau de segurança maior também é bem mais rápido, diz.
Moura afirma que esse tipo de sistema já é utilizado em outros países e, na China, praticamente substituiu todos os outros modos de pagamento. Lá, cada pessoa tem um código único que é ligado a um banco. Eu posso te dar meu QR Code e pagar através dele. Eles não pagam quase nada mais com dinheiro. E as transações nem são feitas pelos aplicativos do banco, mas sim por um outro app, parecido com o Whatsapp, explica.
Esse nível de adesão ao pagamento instantâneo, na avaliação do especialista, ainda deve demorar para vingar no Brasil por conta de questões culturais.
Segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), os grupos técnicos que estudam a questão no Banco Central também avaliam a viabilidade de uso de tecnologias para processo mais amigável para os clientes, com o uso de QR Code na identificação do destinatário, por exemplo.
Com essa identificação, será possível, por exemplo, cadastrar através de uma chave pessoal as pessoas, as empresas e os serviços para quem você deseja pagar e até colocar como favoritos aqueles mais frequentes, permitindo que o banco autorize transações mais altas para esses recebedores.
O usuário ainda precisará ter uma conta-corrente, que vai se conectar ao aplicativo utilizado no pagamento, mas o professor da Fucape acredita que o uso dela será modificado. Não é que vai deixar de existir. É que a conta-corrente está se tornando cada vez mais portátil. O app de pagamento ainda vai ter que estar vinculado a uma conta-corrente formal. Mas talvez no futuro isso seja diferente, prevê.
Uma consequência mais direta e mais urgente, segundo ele, é o fim das transações de TED e DOC. Já estava na hora de a gente se atualizar. Os bancos terão que se adequar, o que vai gerar certo custo e treinamento, mas a ideia é que no longo prazo isso favoreça a vida de todo mundo, inclusive a do próprio banco, avalia Moura.
Segundo a Febraban, as instituições financeiras já estão se preparando para aderir ao sistema e investem em infraestrutura, tecnologia e discussões técnicas para padronizar e organizar uma plataforma de pagamentos instantâneos. A Febraban é favorável a medidas que reduzam a necessidade de circulação de dinheiro em espécie e vê o novo produto como uma inovação que trará mais segurança e conveniência ao consumidor, afirmou a entidade por meio de nota.
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