Pouco mais de um mês após iniciar suas operações comerciais, a Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), nova companhia aérea brasileira criada pelo Grupo Itapemirim, já está revisando seus investimentos e enfrentando dificuldades com reclamações de passageiros e até dos próprios tripulantes, que reclamam de atrasos nos pagamentos.
A aérea já tem feito alterações diversas no cronograma de abertura de rotas, postergando a incorporação de novos destinos que já deveriam começar a receber os aviões amarelinhos no próximo mês. Previstos para acontecer a partir de 1º de setembro, os voos saindo de Vitória, por exemplo, foram adiados mais uma vez, agora para 2022.
Também foram canceladas as viagens iniciais para outros destinos. A empresa aérea informou, em nota, que realizou uma readequação em sua malha aérea para o segundo semestre de 2021 e que, por este motivo, adiou o início de suas operações no Aeroporto de Vitória. Apesar de afirmar que os voos terão início no próximo ano, a companhia não firmou uma nova data.
“Cabe destacar, ainda, que a companhia está prestando toda a assistência necessária aos clientes que já adquiriram passagens, conforme prevê a Resolução 400 da Anac, e que seu Serviço de Atendimento ao Cliente está à disposição para solucionar quaisquer dúvidas por meio do 0800-723-2121”, destacou.
Esta não é a primeira vez em que um problema do tipo acontece com a ITA. No final de junho, dias antes da estreia da companhia, alguns dos voos para os quais as passagens já haviam sido vendidas foram cancelados sem explicações. Outras pessoas se queixaram de terem tido os bilhetes remarcados sem aviso, conforme mostrou reportagem de A Gazeta.
Clientes que tinham adquirido as passagens mostraram insatisfação em relação à postura da empresa, que, apenas um mês antes, havia recebido a autorização final da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para começar a operar voos comerciais regulares no país.
Em abril, a companhia havia chegado a confirmar um cronograma com 35 destinos previstos até junho de 2022. O voo inaugural foi realizado em 29 de junho, entre os aeroportos de Guarulhos (SP) e Brasília (DF), com a renda revertida para instituições beneficentes. E, a partir do dia 30, os voos comerciais tiveram início.
Viagens a partindo e chegando de Vitória seriam liberadas somente em 1º de setembro. A data já contradizia os planos iniciais da companhia que, no ano passado, havia afirmado que o voo inaugural sairia do Espírito Santo, com destino a São Paulo, o que não ocorreu.
À época, a ITA esclareceu que novos destinos seriam incorporados a malha da empresa a cada mês, a medida que mais aeronaves estivessem disponíveis. Entretanto, ao final de junho, a companhia área também informou a realização de uma readequação da malha para o mês seguinte, o que exigiu o cancelamento de alguns voos.
As mudanças, ainda segundo a empresa, faziam parte do processo estrutural para o lançamento da companhia aérea no mercado nacional.
De acordo com profissionais ouvidos sob condição de anonimato, o pagamento do vale-alimentação e das diárias chegavam a três meses de atraso, mas, na terça-feira (10), os valores foram quitados. Já o pagamento dos salários também tem sido feito com atrasos de dois a cinco dias.
Segundo a empresa, no entanto, houve problema apenas neste mês, em decorrência de uma dificuldade técnica para centralizar os pagamentos em um único banco. O atraso do pagamento do salário e de benefícios levou o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) a programar uma reunião para a tarde desta sexta-feira (13).
A intenção da ITA era ter frota de dez aviões neste ano, mas, por enquanto, apenas quatro aeronaves estão voando. Com isso, grande parte dos tripulantes contratados nos primeiros dias do ano ainda está em casa. Sem voar, eles não recebem a parcela variável do salário, que costuma ficar entre 40% e 70% da remuneração total.
Há relatos de que os profissionais não sabem ainda nem qual é a remuneração variável. No contrato de trabalho, há apenas uma referência de que a parcela variável seguirá a política de remuneração da empresa.
Outro fato que causa estranheza entre os trabalhadores é que, algumas vezes, os pagamentos são feitos por PIX de empresas que fazem parte do grupo, como Viação Itapemirim e Viação Caiçara, mas não pela ITA. Segundo a diretora de marketing, Daniela Rocha Silva, todas essas transações são devidamente registradas no balanço da holding Itapemirim.
Daniela diz ainda que o descontentamento dos funcionários decorre do fato de muitos não estarem voando. Ela destaca que, assim que as aeronaves previstas chegarem, esses trabalhadores vão começar a operar e que a empresa decidiu mantê-los para não perdê-los para a concorrência.
A ITA foi criada no ano passado para ser um braço do Grupo Itapemirim no transporte aéreo. O novo negócio surgiu sob desconfiança do mercado, tendo em vista o processo de recuperação judicial enfrentado desde 2016 pelo conglomerado fundado por Camilo Cola em 1953 e vendido para o empresário paulista Sidnei Piva em 2016.
Entretanto, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), esses acontecimentos não influenciaram a certificação da empresa como operadora aérea. "A análise da ANAC é estritamente técnica e considera o cumprimento das normas de aviação vigentes na agência", esclareceu.
Além do turbulento processo de recuperação judicial, a companhia nasce em meio à maior crise do setor aéreo de todos os tempos, em função da pandemia do coronavírus, que, no último ano, reduziu a demanda por voos no mundo inteiro.
A criação e a operação da companhia aérea já consumiram R$ 42,5 milhões do grupo Itapemirim, de acordo com um documento publicado pela empresa que acompanha o processo de recuperação judicial, a EXM Partners. Esse gasto também gera polêmicas no mercado. Um relatório de julho feito pela EXM afirma que, "apesar da insistência desta administradora judicial, alegando sigilo de mercado, o grupo Itapemirim não forneceu maiores detalhes sobre tais investimentos".
* Com informações das agências Estado e Folhapress
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