Após um dia de pânico na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, o Ibovespa opera em alta na manhã desta terça-feira (23), em menos de uma hora após a abertura do pregão. O índice sobe 1,54%, aos 114.406 pontos, após ter fechado em queda de 4,87% na segunda-feira (22).
A Petrobras que viu o preço de seus papéis derreter mais de 20% na data anterior, tem avançado nesta manhã, com alta acima de 7% nas ações ordinárias, chegando a R$ 23,04, e com expansão acima de 8% nas preferenciais, com valor acima de R$ 23,15.
Mas o cenário para o investidor ainda pode ser volátil, já que neste dia o conselho de administração da companhia define o futuro do comando da empresa, dizendo se vai acatar ou não a demissão do presidente Roberto Castello Branco, ordenada por Jair Bolsonaro na última sexta-feira (18).
Além disso, o BNDES vende nesta terça as ações da Vale, confirmando não ter mais participação na mineradora.
A intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras, com o anúncio, na sexta-feira (19), de que iria trocar o presidente da estatal, trouxe forte impacto para o mercado financeiro nesta segunda-feira (22). A repercussão negativa levou à venda das ações da Petrobras, fazendo o preço do papel mergulhar e contaminar negativamente ações de empresas brasileiras de modo geral, mas especialmente as de estatais.
O cenário foi de pânico, com os investidores e agentes financeiros enxergando aumento relevante do risco de ingerência governamental. As ações da petroleira, claro, foram as mais afetadas.
As ações ordinárias da Petrobras (PETR3), que são as mais negociadas, despencaram 20,48%, a R$ 21,55. Já os papeis preferenciais (PETR4) sofreram uma baixa ainda maior, de 21,51%, a R$ 21,45.
Como a Petrobras tem peso de 10,27% no Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores do Brasil também sofreu um tombo. O Ibovespa caiu 4,87%, a 112.667 pontos. Na mínima do dia, o índice foi a 111.650 pontos.
Os papéis de outras estatais também tiveram forte retração: as ações do Banco do Brasil caíram 11,06%, e as da Eletrobrás, cerca de 0,69%, após cair mais de 7% no começo do pregão.
O câmbio também foi afetado pela pressão interna causada pela interferência na Petrobrás. O dólar fechou hoje em alta de 1,27%, cotado a R$ 5,4539, em resposta ao leilão de US$ 1 bilhão de dólares feito pelo Banco Central, após bater em R$ 5,53 na máxima do dia.
Na Bolsa de Nova York, as ADRs (certificados de ações negociados nos Estados Unidos) da Petrobras fecharam em queda de 21%, fechando a US$ 7,94.
Com a reação do mercado nesta segunda, perdeu R$ 74,246 bilhões em valor de mercado. Somado aos cerca de R$ 28,209 bilhões de desvalorização na última sexta (19), a queda da estatal com a intervenção de Bolsonaro já soma R$ 102,5 bilhões.
Com a desvalorização, a capitalização da estatal foi de R$ 354,79 bilhões na sexta para R$ 280,55 bilhões nesta segunda.
"A interferência política na empresa terá efeitos de longo prazo na percepção do investidor estrangeiro em relação ao ambiente de negócios do país", afirma Erminio Lucci, presidente da corretora BGC Liquidez.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), anunciou que abriu um processo para investigar a troca no comando da estatal. Alguns escritórios também já preparam ações coletivas contra a Petrobras nos Estados Unidos após o anúncio.
Pelo menos seis bancos e casas de investimento cortaram a recomendação dos papéis da Petrobrás - XP, Guide, Safra, BTG Pactual, Credit Suisse e Bradesco BBI -, apontando os riscos à política de preços da empresa pode com a mudança na presidência e também a nebulosidade que isso traz para outras iniciativas da empresa, como a venda de ativos.
O imbróglio do governo com a Petrobras teve início na noite de quinta (18), quando Bolsonaro afirmou que a fala do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, de que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da empresa, teria consequências.
Naquela semana, a companhia anunciou nova alta no preço do diesel e da gasolina, para acompanhar a valorização do petróleo. Bolsonaro disse que "não tem quem não ficou chateado com o reajuste". As falas de Bolsonaro incomodaram o mercado, que viu uma iminente interferência na empresa.
Na sexta (19), Bolsonaro indicou o general Joaquim Silva e Luna como novo presidente da petroleira. Se confirmado pelo conselho de administração da companhia, ele substituirá Roberto Castello Branco, alvo de críticas do presidente.
No sábado (20), Bolsonaro disse que vai "meter o dedo na energia elétrica", e que, "se a imprensa está preocupada com a troca de ontem, na semana que vem teremos mais".
"A expectativa é de ingerência em outras estatais. A expectativa do mercado é que André Brandão [presidente do Banco do Brasil] seja demitido", diz André Machado, sócio-fundador da escola de traders Projeto os 10%.
Assim como Castello Branco, Brandão também foi alvo de críticas do presidente. Em janeiro deste ano, ele foi ameaçado de demissão por Bolsonaro após atritos com relação à reestruturação do banco.
AÇÕES DE OUTRAS ESTATAIS
As afirmações do governo de que haverá intervenções em mais áreas e empresas também derrubou as ações de outras estatais, como Eletrobras e Banco do Brasil. A primeira perdeu seu presidente recentemente, diante dos entraves à sua privatização. O BB também já foi alvo de críticas de Bolsonaro.
QUEDA DO IBOVESPA
Como essas ações têm participação significativa no índice Ibovespa, que reúne o conjunto de ações mais negociadas, contribuiu para a queda do principal indicador do mercado acionário brasileiro.
DÓLAR E RISCO-PAÍS
A percepção de que o governo poderá manipular outros preços de mercado ou adotar soluções que gerem prejuízos para o Tesouro Nacional também ajudam a contaminar outros indicadores, como dólar e risco-país.
IMPACTO NA INFLAÇÃO E NOVOS JUROS
As altas do dólar e do risco Brasil, por sua vez, também ajudam a alimentar as expectativas de inflação e de necessidade de altas maiores de juros no futuro para conter os índices de preços e a fuga de recursos do país.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta