A moradora do bloco 13 do Residencial Vila Velha, no bairro Jabaeté, Deslaine de Jesus Maian disse que o prédio havia já passado por um estrondo, antes do episódio que levou à evacuação do edifício na noite da última quinta-feira (11). O empreendimento pertence ao programa Minha Casa Minha Vida, com finalidade social.
Em entrevista ao fotógrafo de A Gazeta, Ricardo Medeiros, ela relatou que após o barulho informou o problema à síndica do condomínio. Mas um segundo som forte foi escutado por moradores antes que algum especialista avaliasse a estrutura.
“Teve um estrondo [segundo barulho] e veio as rachaduras, o teto da sala deu uma cedida durante a noite. Hoje de manhã tinha uma rachadura no chão. Os azulejos do apartamento de cima subiram”, conta a moradora do primeiro andar. Ela está temporariamente hospedada na casa de uma amiga.
Segundo a síndica Mirian de Freitas, moradores evacuaram o prédio na noite de quinta-feira, após barulhos altos vindos da estrutura. Visualmente, teriam sido localizadas rachaduras em três apartamentos, mas a vistoria ainda é realizada nesta sexta-feira.
A maior parte dos moradores passou a noite fora de casa. Alguns dormiram em casa de parentes, vizinhos, outros ficaram na calçada do condomínio. Ainda segundo a síndica, pelo menos quatro moradores retornaram aos apartamentos no meio da noite, sem autorização, e lá dormiram.
No momento, estão se organizando para que, um a um, os moradores possam entrar, acompanhados de agentes da Defesa Civil, para tomar um banho ou buscar roupas. Os moradores, porém, seguem desabrigados.
A Defesa Civil de Vila Velha informou que esteve no local e orientou os moradores a deixarem os apartamentos. A área foi isolada e o órgão vai entrar em contato com a empresa responsável pela construção do prédio para que um engenheiro faça uma vistoria no bloco.
Moradora do segundo andar, Uzir Barreto disse que a síndica do condomínio a alertou de que o prédio poderia desabar. Ela falou que, agora, não tem onde dormir. "Ela (a síndica) falou pra mim 'desce que o prédio vai desabar' e eu pensei que fosse desabar mesmo. Agora vou ficar na rua, esperar o que a prefeitura e a Caixa vão fazer com a gente", disse.
Na manhã desta sexta-feira (12), a Defesa Civil municipal informou que foram constatadas trincas e rachaduras na estrutura. "Preventivamente, a Defesa orientou que os moradores deixassem o local. Ainda na manhã desta sexta-feira (12) será realizada nova vistoria técnica para laudo de engenharia”, disse em nova nota enviada à imprensa.
Segundo o conselho, o órgão tem adotado a prática de atuar com rigor e austeridade diante de condutas irregulares nas atividades que envolvem a área tecnológica, em especial a engenharia.
A reportagem de A Gazeta demandou a Caixa Econômica Federal, responsável pelo programa Minha Casa Minha Vida, para saber mais detalhes sobre a construção do prédio e as medidas adotadas em relação aos moradores, mas não obteve retorno. Assim que houver um posicionamento, este texto será atualizado.
Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar disse que a Defesa Civil Estadual esteve no imóvel na manhã desta sexta-feira (12), avaliando as condições da edificação, juntamente com representantes da Defesa Civil Municipal, da Caixa Econômica Federal e da Construtora.
A Defesa Civil Estadual autorizou a entrada controlada de moradores, um por vez, para a retirada de pertences pessoais, no entanto, a liberação ou não do imóvel para retorno dos moradores segue sob avaliação.
Além do prédio 13, moradores reclamam de falha generalizada do condomínio, como trincas, infiltrações e queda no teto. Cerca de 250 brigam na Justiça para serem indenizados. As empresas responsáveis pela construção - que foram três ao longo dos anos - já foram identificadas. Contudo, segundo a Caixa, todas elas já faliram. As obras foram entregues em 2016, sendo que o contrato de construção foi assinado em 2010.
A Prefeitura de Vila Velha informou que a Defesa Civil Municipal, em reunião com representantes da Defesa Civil Estadual, Bombeiros, Caixa e Crea, decidiu manter a orientação de interdição do prédio por mais 72 horas, até que seja dado novo parecer de engenharia da edificação.
A Caixa informou que encaminhou uma equipe técnica ao local e que, até os moradores poderem retornar às suas residências, eles serão colocados em hotéis. "A Caixa, na condição de representante do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), prestará a assistência necessária aos moradores do bloco interditado até que a segurança das unidades seja atestada."
O banco público ainda destacou que, conforme regras previstas no Minha Casa Minha Vida, o FAR se responsabilizará pelos reparos necessários e fará a contratação emergencial de uma empresa para execução das obras, o que ocorrerá nos próximos dias, após a conclusão do diagnóstico e monitoramento que serão efetuados no prédio.
A Caixa ainda frisou que as três empresas que atuaram nas obras (Construtora R Carvalho Construções e Empreendimentos Ltda, Decottignes Construção e Incorporação Ltda e Solare Construtora Incorporadora Ltda), bem como os sócios, estão impedidas de operar com a Caixa em novos projetos.
Com informações de Ricardo Medeiros, Daniel Past e Tiago Félix.
A reportagem foi atualizada com os posicionamentos da Caixa Econômica Federal e da Prefeitura de Vila Velha.
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