As chuvas que assolam o Rio Grande do Sul desde o fim de abril podem trazer impactos à economia do Espírito Santo, principalmente ao mercado varejista de alimentos. Com mais de 400 de suas 497 cidades afetadas por inundações, o Estado gaúcho acumula danos à produção agrícola e tem dificuldade para distribuir seus produtos.
Entre os alimentos vindos do Rio Grande Sul para o Espírito Santo estão arroz, soja, milho, carne bovina, frango, maçãs e batatas. Segundo a Central de Abastecimento do Estado (Ceasa-ES), os itens continuam chegando, mas, se houver uma menor quantidade de produtos oriundos de terras gaúchas, os preços poderão aumentar.
“Apesar do atraso na chegada de alguns produtos, os caminhões têm passado por rotas alternativas para chegar à Ceasa”, divulgou a Central de Abastecimento capixaba, por meio de nota.
De acordo com o economista Felipe Storch Damasceno, o Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção de arroz no Brasil. Na safra atual, 30% dos grãos ainda não haviam sido colhidos.
“Isso traz problemas para a produção nacional. Além da possível perda dessa colheita, há também a dificuldade de escoamento dos produtos. No caso do arroz, havia previsão de um decréscimo de 5% no preço, ainda neste ano. Porém, com o cenário atual, isso já está sendo invertido”, diz Damasceno, que também é doutor em Contabilidade e Administração.
Para sanar o problema da possível falta de arroz, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foi autorizada, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a comprar um milhão de toneladas de arroz, importados de países da América do Sul.
Segundo Felipe Storch, é possível haver, também, um impacto em produtos derivados do trigo. "Logo, produtos como pão, macarrão e outros que dependam do grão podem ser afetados", salienta o economista.
De acordo com o especialista, com as inundações no Rio Grande do Sul, grandes empresas de transporte, energia e logística paralisaram suas operações, o que também traz reflexos aos preços das prateleiras. Já no caso de produtos derivados do leite, preocupação em outras regiões do Brasil, Felipe explica que o Espírito Santo não depende do envio do Sul.
"Nossos lacticínios costumam ser capixabas e mineiros. Minas Gerais é muito forte em pecuária de leite e acredito ser capaz de suprir a necessidade de oferta que tenhamos. É possível que tenhamos um impacto de preço, mas falta de produtos é um cenário mais improvável", conclui o economista.
Segundo a Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), ainda não há falta de produtos, já que os estabelecimentos capixabas possuem estoques para reposição. Ainda assim, o órgão não descarta impactos.
“A enchente no Rio Grande do Sul trará impactos não somente para o Espírito Santo, mas para muitos outros Estados, devido às dificuldades logísticas pontuais relacionadas a produtos como aves e suínos, que dependem em boa parte da soja e do milho do Rio Grande do Sul”, divulgou a Acaps, por meio de nota enviada à reportagem.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal, dez unidades produtoras de carne de aves e de suínos estão paralisadas ou com dificuldades para operar. De acordo com o portal UOL, a associação relata a impossibilidade de processar insumos e de transportar funcionários em meio às inundações.
O economista Eduardo Araújo observa que o Rio Grande do Sul tem um montante significativo de endividamento com o governo federal. Em decorrência do desastre, o Estado gaúcho e a União podem negociar algum tipo de perdão ou abatimento da dívida pública.
"Isso pode repercutir, de forma indireta, nas finanças públicas do país. Além de o governo federal ter que fazer os investimentos na reconstrução do Rio Grande do Sul, esse aspecto, de que a União possa oferecer algum perdão de dívida, gera um custo que pode, eventualmente, ser repassado aos outros Estados", analisa Eduardo.
Ainda segundo o economista, isso leva a uma tendência de aumento de impostos e escassez de recursos federais para fazer investimentos em outros Estados, incluindo o Espírito Santo.
Atingido por fortes chuvas desde fim de abril, o Estado do Rio Grande do Sul vive um cenário de destruição, com alagamentos que já deixaram pelo menos 107 mortos, 128 desaparecidos e milhares de desabrigados e desalojados. Dos 497 municípios, mais de 400 foram afetados e, segundo o boletim da Defesa Civil local, mais de 370 pessoas foram encontradas com ferimentos e mais de 1,3 milhão foram diretamente afetadas.
Segundo o governador Eduardo Leite, o estado vai precisar de R$ 19 bilhões para sua reconstrução.
Em meio à tragédia, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de "grande perigo" para o extremo sudeste do Rio Grande do Sul. Segundo a previsão, a região pode ser atingida por chuva de granizo e ventos acima de 100 km/h.
Escolas, rodovias e outras estruturas também sofrem com os impactos dos alagamentos, assim como o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, que está inundado e não tem previsão para retorno de suas operações.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta