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As lições de quem começou um negócio na pandemia e superou a crise

As lições de quem começou um negócio na pandemia e superou a crise

Lidar com as incertezas de mercado, saber gerir o tempo e o dinheiro foram os desafios enfrentados por empreendedores que constituíram uma empresa durante a turbulência causada pelo novo coronavírus

Publicado em 27 de dezembro de 2020 às 08:18

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Ana Cristina de Almeida Rodrigues, 52 anos, é contadora e investir na carreira de artesã durante a crise.
Ana Cristina de Almeida Rodrigues começou a produzir acessórios. (Vitor Jubini)

A pandemia do novo coronavírus não foi empecilho para quem enxergou oportunidades diante da crise. Muitos profissionais aproveitaram o momento para tirar ideias do papel e decidiram empreender mesmo em um cenário de incertezas.

Ana Cristina se descobriu artesã. Humberto foi incentivado por clientes a ter o próprio espaço. Lívia aproveitou o contrato suspenso para colocar a mão na massa e ter uma nova fonte de renda, enquanto que Rúbia estava com tudo pronto para abrir uma franquia de estética quando começou o período de quarentena. Já Danilo enxergou a oportunidade de vender móveis corporativos. 

Os cinco empreendedores têm em comum o sonho de ser o próprio patrão e de não se deixarem abater pelos reflexos negativos da Covid-19. Para eles, os maiores desafios foram a gestão do tempo e das finanças. Entre erros e acertos, eles se dizem satisfeitos com o que conquistaram durante esse período.

A necessidade de ter um plano B fez com que Ana Cristina de Almeida Rodrigues, de 52 anos, criasse a marca de acessórios Mania Dela. Antes da crise, ela trabalhava como correspondente bancária quando a procura pelo serviço diminuiu devido às regras de isolamento social.

Hoje, a artesã vende suas peças nas feiras de Jardim da Penha às sextas e sábados. Entretanto, Ana Cristina quer aumentar as possibilidades de comercialização de seus produtos e, para isso, mobiliza-se com outros micro empresários do bairro para criar um novo espaço alternativo de exposição. 

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Para mim, o maior aprendizado desse período é a necessidade de se renovar a todo momento. Acredito que é preciso ter coragem para empreender e sair na rua para vender as peças. A gente fica cheio de preconceito. Eu, por exemplo, trabalhava em escritório e virei artesã. Como empreendedora, eu preciso mostrar todo o meu potencial. É muito bom quando você se descobre

Ana Cristina de Almeida Rodrigues
Artesã
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A falta de planejamento foi um dos piores erros cometidos por Ana Cristina durante os primeiros meses como gestora do seu próprio negócio. “Percebi que gastava com coisas desnecessárias. À medida que as coisas vão evoluindo, a gente vai conseguindo ter segurança. Mesmo com pequenos recursos, é possível conseguir guardar dinheiro”, destaca a artesã.

Livia Covre Caliari investiu  no próprio negócio durante a pandemia
Livia Covre Caliari aproveitou para tirar do papel o sonho de ter o próprio negócio. (Livia Covre Caliari / Divulgação)

Há, pelo menos, 8 anos, o sonho da Lívia Covre Caliari, de 36 anos, é ter o próprio negócio. E com a chegada da pandemia, ela conseguiu finalmente tirar duas ideias do papel. Funcionária de um restaurante, ela teve o contrato suspenso durante o período em que o estabelecimento ficou fechado por causa das medidas restritivas.

Com as contas vencendo, Lívia identificou o momento como decisivo para aumentar a renda. Em maio, ela criou a Dilly’s, especializada em guloseimas caseiras, como doces, salgados, coxinhas sem massa, entre outros produtos.

“Antes disso, nunca tinha tido essa iniciativa. Tomei coragem, conversei com um amigo, que também é meu sócio, e começamos a batalhar pelo nosso espaço no mercado. Muita gente resolveu empreender e a nossa ideia era oferecer um diferencial, podendo atender pequenos eventos, como chá de bebê”, descreve.

Toda a produção é feita durante o dia na cozinha da casa de Lívia. À noite, ela desempenha as atividades no restaurante. O sócio dela, Diego Lorençoni da Costa, fica responsável pela divulgação dos trabalhos nas redes sociais. Desde outubro, a dupla voltou a trabalhar nos estabelecimentos e passou a conciliar as atividades profissionais com a empresa. Para ela, o maior desafio é respeitar o seu tempo.

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É preciso impor limites para não atropelar as coisas. Não adianta eu pegar um monte de encomendas, se não vou conseguir produzir e entregar com qualidade. Já fiquei de madrugada trabalhando e o dia seguinte ficou prejudicado porque estava cansada. É preciso ter cautela

Lívia Covre Caliari
Empresária
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Lívia também comenta que a maior lição que ela aprendeu como empreendedora foi dar conta de tudo. “É fácil se manter na zona de conforto e trabalhar para os outros. Ser dono do próprio negócio é cuidar da produção, da logística, das compras e das finanças. A sensação de terminar o dia e receber elogio do cliente é maravilhosa e isso não tem preço".

Humberto Alves da Silva, cabaleireiro
Humberto Alves da Silva, cabaleireiro. (Otávio Lucas / Divulgação)

A atividade profissional do cabeleireiro Humberto Alves da Silva, de 28 anos, também sofreu com a pandemia. Ele trabalhava em um outro salão, mas se sentia muito desvalorizado pelo proprietário. Com o apoio dos clientes, o jovem passou a atender em casa para conseguir juntar dinheiro e abrir seu próprio espaço.

“Trabalhei assim por três meses nos piores meses de quarentena. Por um lado, foi complicado porque tinha medo de gastar minhas economias, mas aos poucos as oportunidades foram surgindo e há quatro meses consegui inaugurar o meu salão”, conta.

Humberto é especialista em doenças do couro cabeludo, como queda e dermatite. No entanto, anos antes de se tornar um profissional de beleza ele trabalhou como pedreiro, quando ainda morava em Minas Gerais. Ele conta que fez um curso pelo Pronatec, programa do governo federal de qualificação gratuita, e que se esforçou muito para se tornar o profissional que é hoje. Para ele, o maior erro como empreendedor foi não separar o dinheiro que recebia.

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Tive que aprender que o dinheiro do meu salão não é o meu, administrava tudo como sendo uma coisa só. Além disso, aprendi que a gente pode tudo profissionalmente desde que sejamos honestos com o cliente e com a gente mesmo. Acredito que, para ter sucesso nos negócios, é preciso acreditar no nosso potencial. Quando a gente acredita passamos essa confiança para os outros

Humberto Alves da Silva
Cabeleireiro
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Como forma de agradecer pelo sucesso que conquistou, o cabeleireiro troca seus serviços por alimento pelo menos duas vezes por mês. Os itens arrecadados são doados para uma creche em Terra Vermelha, Vila Velha.

“Corte e hidratação, por exemplo, são trocados por um quilo de arroz e feijão. Só quem passou fome sabe o tamanho que ela tem. A maneira que tenho de ajudar outras famílias que passam por necessidade é por meio do meu trabalho”, conta.

Rubia Tannure abriu duas clínicas de estética . (Cloves Louzada / Divulgação)

A empresária Rubia Tannure, 37 anos, estava se programando para abrir duas unidades da franquia da clínica de estética Botoclínic, especializada em harmonização facial, quando veio a pandemia. Os estabelecimentos, que hoje funcionam em dois shopping centers da Grande Vitória, precisaram ter as inaugurações adiadas por conta do fechamento dos centros de compras.

Os investimentos foram inspirados em membros da família que já tinham aberto o mesmo negócio na Bahia e no Mato Grosso. “Enxerguei a oportunidade de abrir meu próprio negócio porque, no Estado, não havia nenhuma prestação de serviço semelhante. Em março, estávamos com tudo pronto quando a pandemia começou. As lojas estavam montadas e não pudemos inaugurá-las”, relata.

Mesmo com as medidas de segurança e as regras de isolamento social, os meses têm sido muito desafiadores para a empresária. 

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Estamos com metade do faturamento que tínhamos planejado. Agora, o desafio é trabalhar para manter o negócio funcionando e pagar as contas. A expectativa é de que as coisas voltem à normalidade para conquistarmos as oportunidades que traçamos

Rubia Tannure
Empresária no ramo de estética
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Ela acredita que, se o cenário fosse outro, as coisas seriam bem diferentes. “Tínhamos feito todo o investimento e tivemos que encarar o desafio de abrir as unidades sem medo da pandemia e com muito otimismo. O melhor é olhar para frente e não dar ouvidos ao negativismo”, afirma.

Para Rúbia, a maior dificuldade enfrentada nos negócios é o momento de instabilidade provocada pela doença. Muitos clientes agendam os serviços, mas acabam desmarcando porque apresentam algum sintoma do coronavírus. “A nossa maior lição foi começar o negócio em um momento tão difícil e delicado. Acredito que este foi um dos fatores determinantes para nos tornarmos mais fortes”.

A primeira unidade da Botoclinic foi inaugurada em junho, na Serra, e a segunda em novembro, em Vila Velha. A ideia inicial era abrir quatro lojas, mas a empresária decidiu adiar os planos. “Pela situação atual, o plano mais prudente é esperar as coisas melhorarem”.

Danilo Urbano investiu no segmento de móveis de escritório. (Cloves Louzada / Divulgação)

Com muitos profissionais trabalhando em home office, aumentou a procura por móveis de escritório. Este é o ramo de negócio do diretor geral da Workline Soluções, Danilo Urbano, 37 anos. Ele é o representante da marca Marelli, empresa de mobiliário corporativo. Durante os meses de isolamento social, ele viu as vendas aumentarem no segmento. 

O showroom da marca foi inaugurado no início de dezembro. Todos os atendimentos são agendados e o cliente vai até o escritório para conhecer o projeto desenvolvido para ele.

"Temos que enxergar as oportunidades. As encomendas aumentaram e essa demanda vem de empresas que estão comprando o mobiliário para que os profissionais trabalhem em casa. Há muita gente trabalhando em home office que querem ter um móvel mais adequado, com foco na ergonomia, sem perder o designer", afirma.

Para ele, o segredo do sucesso é fazer um estudo de mercado. Ele ressalta que isso ajuda a estar mais preparado para investir. 

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Uma outra dica é ter recursos financeiros para iniciar com capital de giro e não ficar dependendo de empréstimos bancários. Este é o segredo de uma empresa rica

Danilo Urbano
Empresário do setor de móveis corportativos. 
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