'As pessoas serão prioridade', diz Casagrande sobre acordo de Mariana
Documento assinado na manhã desta sexta-feira (25) prevê R$ 40 bilhões para o Espírito Santo para projetos na área da saúde, do saneamento, para o fundo ambiental e relacionados a enchentes
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirmou que “as pessoas serão a prioridade” na aplicação dos recursos destinados para o Estado, referentes ao acordo de repactuação da tragédia de Mariana. Na manhã desta sexta-feira (25), o governador esteve em Brasília e acompanhou, de perto, o detalhamento da distribuição dos R$ 170 bilhões previstos no termo.
Para o Espírito Santo, que teve 11 cidades afetadas pelo desastre ocorrido em 2015, estão previstos R$ 40 bilhões para projetos na área da saúde, do saneamento, no fundo ambiental e no de enchentes. Do montante, R$ 17 bilhões serão geridos diretamente pelo Executivo estadual.
Apesar de afirmar que o acordo não foi “ideal para todos os envolvidos”, Casagrande frisou que a assinatura é mais benéfica do que mais anos de brigas judiciais.
“São nove anos do desastre e quase 30 anos para que possamos recuperar parte do que foi perdido. A vida das pessoas que morreram não se recupera, mas podemos recuperar o ambiente das pessoas nos locais atingidos. Temos que assumir responsabilidades nos variados níveis de gestão para que não sejam vistos novos desastres como o de 2015”, afirmou o governador.
Com os recursos em mãos, que começam a ser pagos em 30 dias após a assinatura do acordo, Casagrande sinaliza que as prioridades são voltadas para as pessoas e suas indenizações, recuperações ambientais e melhorias na infraestrutura capixaba. No âmbito da infraestrutura, o principal ponto destacado por Casagrande foi a destinação de R$ 2,3 bilhões para duplicações e melhorias na BR 262.
Ao mesmo tempo, poderemos definir outros investimentos importantes para o desenvolvimento dos municípios da Bacia do Rio Doce. As cidades do litoral também poderão ser beneficiadas, de Serra até Conceição da Barra, com medidas que vão atender os pescadores, as comunidades e obras de infraestrutra com a geração de oportunidade para essas pessoas
Renato Casagrande
•Governador do Espírito Santo
A BR 262 cruza o Espírito Santo por 195 quilômetros e liga Vitória até Belo Horizonte, capital mineira e, apesar de não estar na área atingida pela tragédia, constantemente é alvo de tratativas para ampliação de trechos duplicados para melhoria da mobilidade entre os estados.
Os recursos no Espírito Santo
No Estado, R$ 450 milhões serão aplicados no Plano de Reestruturação da Gestão da Pesca e Aquicultura; R$ 1 bilhão em ações de resposta a enchentes, desastres naturais e recuperação ambiental; R$ 2,3 bilhões na duplicação da BR-262; e R$ 3,46 bilhões em saneamento.
Segundo Casagrande, em termos de reparação ambiental, serão R$ 3 bilhões destinados a ações estaduais para a melhoria da qualidade ambiental e fortalecimento dos serviços públicos na Bacia do Rio Doce e no litoral norte capixaba.
“O acordo também reserva R$ 6,5 bilhões para novos projetos e outros recursos para iniciativas destinadas principalmente aos atingidos, ao meio ambiente e à retomada econômica. O nosso principal objetivo nesse acordo é o de reparar uma injustiça de quase nove anos com os atingidos no Espírito Santo e o nosso meio ambiente. Foi um desastre ambiental com graves consequências socioeconômicas e socioambientais”, ponderou.
Valores totais envolvidos
O acordo: R$ 170 bilhões;
R$ 100 bilhões a serem repassados para o poder público usar em políticas de reparação R$ 32 bilhões em provisionamento para obrigações das empresas R$ 38 bilhões em valores já pagos, por meio da fundação Renova
Distribuição dos recursos em nível nacional
TRANSFERÊNCIA DE RENDA – Sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), o Programa de Transferência de Renda (PTR) prevê R$ 3,75 bilhões para um auxílio mensal a pescadores e agricultores atingidos no valor de 1,5 salários-mínimos por até quatro anos, com pagamento realizado com cartão do Governo Federal (Caixa Econômica Federal).
RETOMADA ECONÔMICA – Outros R$ 6,5 bilhões serão destinados a investimentos em Programas de Retomada Econômica (PRE), que está amparado em três eixos. O primeiro é o fomento produtivo, destinado à promoção de negócios geradores de emprego e renda, de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Há também o Eixo Rural, coordenado pelo MDA e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), voltado a impulsionar atividades produtivas e sustentáveis de agricultores, famílias, produtores rurais, assentados da reforma agrária, quilombolas, e povos e comunidades tradicionais, entre outros.
Nesta frente ainda estão previstos R$ 5 bilhões para serem aplicados no Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, para investimentos em projetos e programas de retomada econômica e produtiva por deliberação direta das comunidades atingidas, em áreas que elas consideram prioritárias, atrelado ao Conselho Federal de Participação Social.
Tanto o Fundo, quanto o Conselho, foram construídos em uma articulação da Secretaria Geral com a sociedade civil. O Fundo prevê ainda o ressarcimento à União por gastos extraordinários com Previdência Social, ações acidentárias e manutenção da condição de segurado especial dos pescadores que ficaram impedidos de exercer suas atividades; e para a manutenção da Assessoria Técnica Independente por 30 meses após a assinatura do acordo.
MULHERES E POVOS TRADICIONAIS – Um total de R$ 8 bilhões estão destinados à realização de um modelo de autogestão dos próprios Indígenas, Povos e Comunidades Tradicionais, acompanhados pela União. Esses recursos devem, entre outros, assegurar o direito ao recebimento de auxílio financeiro e verbas reparatórias, bem como a implementação de políticas públicas pelo Governo Federal a outros povos e comunidades não reconhecidas. Já sob a responsabilidade do Ministério das Mulheres, Ministério Públicos e Defensorias, estão previstos R$ 1 bilhão para o pagamento de auxílio financeiro às mulheres vítimas de discriminação de gênero durante o processo reparatório.
MEIO AMBIENTE E PESCA – Recursos da ordem de R$ 14,13 bilhões estarão sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo para serem aplicados em dois fundos voltados ao meio ambiente. O Fundo Ambiental da União tem previsão de R$ 8,13 bilhões e aplicação em projetos de recuperação e compensação ambiental coordenados pela União. Já o Fundo Ambiental dos Estados, no valor de R$ 6 bilhões e voltado ao mesmo objetivo, fica sob responsabilidade dos governos de Minas Gerais e Espírito Santo. Outros R$ 17,65 bilhões deverão ser empregados em projetos socioambientais dos estados voltados aos danos decorrentes do rompimento da barragem relativos à Bacia do Rio Doce. Desse total, apenas 20% poderão ser aplicados em projetos fora da Bacia.
Também estão previstos no acordo R$ 2,44 bilhões para viabilizar a liberação gradual da pesca na região atingida pela tragédia, hoje suspensa por decisão judicial. O Plano de Reestruturação da Gestão da Pesca e Aquicultura (Propesca) trabalhará em ações desenvolvidas pela União e pelos estados com o objetivo de promover a reestruturação das cadeias produtivas de pesca e aquicultura afetadas.
SAÚDE – O acordo prevê R$ 12 bilhões para aplicação em saúde coletiva na Bacia do Rio Doce. Deste total, R$ 3,6 bilhões serão investidos em infraestrutura e equipamentos e R$ 8,4 bilhões na constituição de um Fundo Perpétuo que utilizará os rendimentos em custeio adicional do SUS na Bacia.
SANEAMENTO E ENCHENTES – O saneamento básico nos municípios da Bacia do Rio Doce deverá contar com R$ 11 bilhões, a serem aplicados com o propósito de assegurar e antecipar as metas de universalização, com redução de tarifas.
Outros R$ 2 bilhões serão destinados a um fundo perpétuo, com rendimentos aplicados no enfrentamento às consequências das enchentes (retirada da lama, recuperação do solo e melhorias na infraestrutura, entre outros).
RODOVIAS, MUNICÍPIOS E ANM – O acordo prevê ainda investimentos na duplicação e melhorias nas rodovias federais da Bacia do Rio Doce: BR 262 e BR 356 da ordem de R$ 4,3 bilhões. Estão previstos repasses de R$ 6,1 bilhões aos 49 municípios da calha do Rio Doce e outros R$ 1,56 bilhão para encerramento da Ação Civil Pública de Mariana. Por fim, o R$ 1 bilhão deverá ser empregado no fortalecimento institucional da Agência Nacional de Mineração (ANM), de modo a melhorar sua capacidade de fiscalização de barragens.