Cerca de 70 funcionários da empresa Suzano ficaram retidos em ônibus por cerca de 6 horas durante um protesto realizado na manhã desta quarta-feira (12), na BR 101, no trevo de acesso à Conceição da Barra, Norte do Espírito Santo. Paralelamente, a empresa vem sofrendo uma série de ataques nos últimos meses, que incluem incêndios em suas florestas, carros depredados e incendiados e até ameaças a funcionários.
Situações, como relata André Brito, gerente de Relações Corporativas da empresa, que levaram até à paralisação das atividades nas frentes operacionais na região Norte. “Atividades como colheita, baldeio e carregamento foram paralisadas diante das ameaças de violência física e de incêndio ao patrimônio, o que gera muita insegurança aos trabalhadores”, relata.
No último final de semana, dois carros da empresa foram alvo de ataques. Um deles foi incendiado e outro, depredado. Os funcionários foram afugentados a tiros.
Em 2021 foram registrados quase 7 mil hectares (1 hectare é equivalente a 10 mil metros quadrados) de área queimada em plantações de eucalipto da Suzano. Os dados são da empresa, que possui grandes áreas para o plantio de eucalipto no Norte capixaba, matéria-prima para a produção de celulose.
Tanto os ataques contra funcionários da Suzano quanto os incêndios nas plantações da empresa estão sendo investigados pela Polícia Civil. Em setembro do ano passado, a Delegacia de Conceição da Barra disse que há várias linhas de investigação quanto a autoria desse eventos, mas ainda não havia conclusão do inquérito nem responsabilização de possíveis suspeitos.
Os protestos que ocorreram nesta quarta-feira (12) foram iniciados na última sexta-feira (07), no mesmo ponto da BR 101, após a apreensão de dois caminhões das associações das comunidades quilombolas da região.
Um deles foi apreendido em Conceição da Barra, durante operação realizada pela Polícia Civil e Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz). Estava sendo recolhida madeira empilhada em uma área da empresa que havia sido incendiada.
Segundo André Brito, a empresa permite a coleta autorizada de resíduos (pontas e galhos dos eucaliptos) em suas áreas, o que gerou cerca de R$ 4 milhões de renda para mais de 20 associações quilombolas do Norte do Espírito Santo no ano de 2021. “Mas só é permitido a retirada de resíduos de áreas não incendiadas”, explica.
O outro caminhão foi apreendido em Linhares, em operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) por irregularidades administrativas, como multas e problemas técnicos. “Os manifestantes querem que a Suzano intervenha para liberar os veículos, mas essa é uma ação que foge da competência da empresa”, explicou Brito.
No protesto de sexta, relata Brito, os caminhoneiros que estavam na região, mas em pontos afastados, foram obrigados a levar seus veículos ao local do protesto. Na terça-feira (11) os protestos foram retomados. “Houve atitudes violentas. Os manifestantes saquearam as refeições que iriam alimentar trabalhadores no campo, tomaram um carro da empresa e o utilizaram para bloquear a passagem”, explicou André Brito.
Nesta quarta-feira (12), além de voltarem a barrar os caminhões, também impediram que os funcionários que seguiam de São Mateus para Mucuri, na Bahia, para as frentes de trabalho, seguissem viagem. Eles ficaram retidos no local das 7h até às 13h.
“Não permitiram que saíssem dos veículos. Depois, com a ajuda da Polícia Militar, conseguimos liberar 30 funcionários. Por volta das 13h os outros 40 foram liberados. Todos seguiram em carros e vans para suas casas. Não permitiram que os ônibus deixassem o local do protesto”, explicou Brito.
A Suzano informa que “preza pelo diálogo buscando sempre fortalecer o relacionamento com todas as partes interessadas presentes em seus territórios de atuação e repudia práticas como manifestações dessa natureza, que em nada contribuem para esse diálogo”.
Membro da comissão das comunidades quilombolas, Altiane Brandino dos Santos (conhecido como Pipi Paraíso), informou que cerca de 300 a 400 pessoas, de mais de 20 comunidades quilombolas do Norte, participam do protesto.
Explica que na última sexta-feira (07), faziam a extração do material de resíduo em área da Suzano, autorizado pela empresa, quando ocorreu uma operação da Polícia Civil.
“Nos acusaram de roubar a madeira e apreenderam o nosso caminhão com parte da madeira. Mas a retirada tinha sido autorizada pelo gerente local. Agora querem que a gente vá à delegacia prestar depoimento de que roubamos o material, quando não é verdade. Não fizemos isto. Só vamos sair daqui com a verdade esclarecida”, disse Brandino. Segundo ele, um segundo caminhão acabou sendo apreendido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) por falta de nota fiscal.
Disse ainda que as comunidades não participaram dos ataques a carros da empresa no final de semana. “Nunca fizemos isto. O motorista do carro é da minha família e mesmo que não fosse, não faríamos isto”, destacou, acrescentando que os protestos vão continuar. “Vamos dormir no local até resolver”, disse.
Negou ainda que no protesto de hoje os funcionários tenham sido retidos e impedidos de ter acesso a água, alimentação ou ir embora. "Isto não é verdade. Eles poderiam ir embora, mas a empresa os manteve no local, querendo que trabalhassem", disse Brandino.
Por nota, a Polícia Militar informou que atuou no protesto para auxiliar no desbloqueio do acesso à empresa e na liberação dos funcionários. Veja a nota na íntegra:
"A Polícia Militar informa que foi acionada pela empresa de celulose para prestar apoio em uma situação de protesto realizado pela comunidade Quilombola, em frente ao centro de operações, em Conceição da Barra, com impedimento de saída e entrada de veículos. As equipes estão no local e, pelas informações, a manifestação ocorre de forma pacífica, sendo negociado constantemente o desbloqueio das passagens dos funcionários da empresa. Na parte da manhã, ônibus com funcionários foram impedidos de circular por determinado período, mas as pessoas foram colocadas em veículos e retiradas por outras vias. Não há informação de ninguém retido pelos manifestantes no momento. Em relação a apreensões, as ações de fiscalização são pontuais. O transporte da madeira deve conter todas as documentações previstas. Caso não seja apresentado, o material, assim como o veículo, são retidos."
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta