O bitcoin, considerado a principal criptomoeda do mercado, atingiu a marca recorde de US$ 48 mil nesta semana após o investimento bilionário anunciado pela Tesla. Com esse movimento, o ativo teve valorização de 72% nos últimos 90 dias. Para se ter uma ideia, neste período o índice de referência de ações americano, o S&P 500, avançou 16% e o Euro, 6%.
Tanta rentabilidade fez crescer os olhos dos investidores, principalmente pessoas físicas, que buscam ganhos maiores diante de uma taxa de juros básica tão baixa. Com a Selic em 2%, a rentabilidade de ativos mais tradicionais, de renda fixa, fica menos atrativa.
Contudo, especialistas apontam que é preciso atenção redobrada. Além de extremamente volátil - com preços que variam rapidamente -, o Bitcoin não é regulamentado. Isso significa que não há qualquer proteção sobre o recurso investido. Ademais, as exchanges, que são as casas de câmbio de criptomoedas, não têm registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que regula o mercado de capitais no Brasil.
Meses antes de a companhia de Elon Musk aplicar R$ 1,5 bilhão no dinheiro digital, o Bitcoin já era procurado por fundos de investimento. Segundo o assessor de investimentos da Valor e investidor em criptomoedas Paulo Luivez, tratam-se de fundos multiestratégia que investem uma pequena parte dos recursos nesses ativos, ou fundos específicos para criptomoedas e bitcoins.
"Esses fatores criaram uma expectativa de que outras empresas possam aderir a esse movimento e isso traz uma chancela pro bitcoin, que é um ativo que as pessoas ainda têm muita dúvida", diz.
Para Luivez, essa alta histórica deve ser percebida com cuidado. Ele aconselha aos investidores que estudem bastante sobre o mercado de criptomoedas antes de se comprometer com o investimento.
"É óbvio que quando o ativo bate uma máxima histórica, é sempre preocupante querer investir nesse exato momento. O melhor é sempre investir quando esta barato. Com o bitcoin, é difícil traçar se está barato ou não. Acho que o primeiro ponto é a pessoa entender o que tem ali e não comprar só porque está subindo", afirma.
O alerta também vem do assessor de investimentos da Golden Pedro Mutzig. Ele conta que, em 2018, o ativo também teve um alta importante, que foi seguida de uma queda igualmente acentuada. Por isso, a dica é analisar o momento e não comprometer mais do que 5% da carteira com criptomoedas.
"Se for investir agora, vai com calma, porque está na máxima histórica. Claro que pode continuar subindo, mas, pelo que eu analiso, logo depois da alta, houveram quedas muito grandes no passado", aponta.
Para quem está disposto a começar a investir em criptomoedas os especialistas indicam os fundos de investimentos disponíveis nas corretoras de valores tradicionais. Eles permitirão um primeiro contato com as moedas digitais e suas oscilações de preço, porém mantendo as transações relativamente seguras, já que essas corretoras são cadastradas na CVM.
"É uma maneira do investidor de varejo investir com mais segurança, porque você tem o CNPJ da gestora (do fundo), e o fundo está em uma corretora de investimentos. É um ativo extremamente volátil e é preciso entender como ele funciona, a dinâmica dele, como é a questão do blockchain. Senão, quando cair 30% ou 50%, a pessoa não vai entender e vai se desesperar", avalia.
Quem se "graduar" nessa etapa, pode começar - sempre com parcimônia - a investir através das exchanges. Nesse caso, é imprescindível pesquisar bem a empresa para garantir que não é um golpe, pois o mercado não é regulado e muitas dessas corretoras são sediadas fora do país.
"Para escolher tem que olhar a avaliação da exchange, a presença no mercado, avaliar os sócios. É preciso atenção redobrada", diz Pedro Mutzig.
Como garantia extra, o investidor pode, ainda, guardar o bitcoin (ou a parte dele que você comprou) em um meio físico, como um HD externo ou até um pendrive. O lado negativo é que se o esse objeto se perde, é roubado ou destruído de alguma forma, o bitcoin também se vai e, com ele, o dinheiro investido.
Outra dica para fugir das fraudes é sempre desconfiar de quem promete uma rentabilidade fixa ou mínima por mês com criptomoedas. Em um ativo tão volátil, é praticamente impossível ter esse tipo de garantia.
Criado em 2008 por alguém que assinava Satoshi Nakamoto, mas cuja real identidade é, até hoje, ignorada, o BTC (sigla para bitcoin) só registrou suas primeiras transações em 2009. Em sua primeira década (2010-2020), a criptomoeda se valorizou 6.000.000%. No ano passado, o crescimento foi de 300%.
O bitcoin não é regulamentado por nenhuma autoridade monetária, nem pode ser rastreada graças à tecnologia blockchain. A mesma tecnologia, estruturada de forma descentralizada, ou seja, sem uma entidade administradora central, impede que governos ou outros órgãos oficiais manipulem a emissão da moeda ou seu valor, como ocorre com o câmbio tradicional.
Contudo, nada impede que haja manipulação nos preços por parte dos próprios investidores. "Nenhum órgão regulador vai proteger se um investidor muito grande quiser aumentar ou reduzir o preço de propósito e prejudicar os menores", diz Mutzig.
O bitcoin é considerado um investimento alternativo e vem sedo utilizado como reserva de valor, como o ouro. Da mesma forma, há uma quantidade limite de bitcoins no mercado. "Cerca de 20% estão perdidos por aí. Porque, no começo, as pessoas guardavam muito em carteiras físicas, como um HD externo, por exemplo, e hoje não se sabe onde estão", conta Paulo Luivez.
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