Para conseguir fazer passar pelo Congresso Nacional as reformas apontadas como cruciais para o controle das contas públicas e a retomada produtiva do país, o presidente Jair Bolsonaro precisa reinventar seu modo de governar. A avaliação é do sociólogo, doutor em ciências políticas e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Carlos Melo, que participou nesta quarta-feira (2) do evento Vitória Summit, promovido pela Rede Gazeta.
Segundo o especialista, Bolsonaro deixou passar seu "bom momento", de alta na popularidade por conta do auxílio emergencial, e de uma relação amistosa com os partidos do chamado "centrão", e não fez andar os projetos necessários que poderiam mitigar os efeitos da crise econômica e fiscal em que país se encontra, que foram agravados pela pandemia do coronavírus.
Há ainda uma dificuldade de articulação política para fazer os projetos avançarem, admitida pelo próprio vice-presidente Hamilton Mourão mais cedo, também no Vitória Summit. Para Melo, esse é um dos principais pontos em que o governo precisará se reinventar para conseguir enfrentar a crise do pós-pandemia.
A jornalista especializada em política Natuza Nery, que também participou do painel virtual, apontou que mesmo durante a pandemia o governo perdeu a oportunidade de fazer avançar pelos menos um dos 19 projetos do ministro Paulo Guedes. Entre eles estão as reformas (tributária e administrativa) e as PECs emergencial e dos fundos, que permitiriam que o governo tivesse pelo menos uma perspectiva de redução dos gastos públicos e do déficit fiscal no futuro.
Ela avalia que Bolsonaro está ficando sem tempo e sem capital político para "arrumar a casa" e resolver os problemas políticos e econômicos do país.
"É muito problema que não foi desfeito enquanto o presidente tem capital político pra isso. Se ele não correr, se a ficha não cair rápido, se o governo não tomar juízo em diferentes áreas, pode acumular tudo. Não sei se ele tem tanto tempo assim pra tentar arrumar a casa. Tem condição ainda, mas cada vez menos", avalia Natuza.
O cientista político acredita que essa tomada de consciência, contudo, não deve acontecer em 2021. Ele apontou como motivo principal a dificuldade do presidente de se afastar de sua base de apoiadores em assuntos com forte carga ideológica como a política externa, o meio ambiente e até a relação com a pandemia.
"O presidente pode negligenciar relação com o centrão, com o Congresso Nacional, mas a base ele não vai abandonar e não consegue se reinventar. Nem na política externa, nem na área ambiental, nem na sua comunicação, na sua relação com a sociedade. Não consegue se reinventar em relação com a pandemia. São problemas sérios. Sabemos qual a agenda econômica para o Brasil. O grande problema é que recuperar significa ter posturas políticas adequadas a essa agenda e isso significaria a reinvenção do governo e eu não consigo ver o governo se reinventando em 2021", declara.
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