Quem sempre gosta de ter chocolate no carrinho de compras deve ficar atento. No período que antecede a Páscoa e ao longo de 2024, a previsão é que o preço mais 'salgado' se contraponha ao doce sabor da guloseima.
O motivo do chocolate ficar mais caro pode ser explicado pela alta no custo da amêndoa do cacau, principal matéria-prima, ao longo de 2023 e neste início de 2024. O custo da amêndoa está mais elevado devido a variações climáticas que ocorreram na África e reduziram a produtividade dos dois países protagonistas — Costa do Marfim e Gana — no fornecimento do produto para as fábricas de chocolate.
Isso fez a commodity atingir alta recorde, a maior das últimas décadas, segundo analistas de mercado. A Bolsa de Valores de Nova York, que é a referência para precificação no Brasil, negocia o cacau atualmente em torno dos 6,5 mil dólares a tonelada, enquanto há um ano estava abaixo de 3 mil dólares, segundo explica Leonardo Rossetti, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Para Anna Paula Losi, presidente executiva da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), mesmo tendo produção de cacau, o Brasil acaba sendo impactado pelas variações internacionais por não ser autossuficiente na produção das amêndoas. A incerteza acaba trazendo a alta dos preços e isso impacta no Brasil e no mundo globalizado.
"Estamos batendo todos os recordes de preço dos últimos 40 anos. A perspectiva é que essa alta ainda perdure por um tempo. O que pode vir segurar a alta vai depender da questão climática e da retração da demanda. Se isso acontecer, aí o preço pode voltar a ter maior equilíbrio. Mas, por enquanto, a expectativa do mercado é de alta durante o ano de 2024", frisa.
Rosetti explica que a alta no preço também tem impacto nos produtores derivados do cacau, como a manteiga e o cacau em pó, visto que os preços são vinculados ao valor que o fruto é negociado na bolsa. Dessa forma, a expectativa é de alta no preço do produto final — o chocolate.
"Além do cacau e derivados, o açúcar também subiu bastante. Mas a alta nunca é repassada totalmente para o consumidor final; os preços são repassados aos poucos. Entre as alternativas está o aumento de preço ou diminuição do tamanho dos produtos", avalia o analista.
Entre os motivos para a alta da commodity estão impactos climáticos na região dos maiores produtores de cacau, Costa do Marfim e Gana, que respondem por mais de 60% da produção mundial. Um deles é o harmatã, fenômenos de ventos secos e poeirentos que sopram do Saara deixando o clima mais seco nos países africanos. Isso acaba afetando a produtividade e os índices de umidade da planta. O El Niño também aumentou as temperatura e diminuiu a chuva em algumas regiões, o que também afeta a produtividade.
Além disso, segundo Rossetti, doenças têm atingido os cacaueiros dos países africanos e há um quadro de trabalhadores migrando para outras culturas, como a borracha. A safra na Costa do Marfim começa em outubro e termina em setembro.
Uma das características desse momento de alta do cacau considerada curiosa por especialistas é a demanda resiliente dos chocolates. Historicamente, num momento de queda de renda das famílias, o consumo de chocolate costuma cair por não ser um item essencial.
"A tendência histórica de queda no consumo não está se refletindo agora. Uma das explicações pode ser a mudança de hábitos que a pandemia trouxe. A população que ficou mais dentro de casa acabou optando por pequenos luxos, como o consumo de chocolate, o que acabou sendo mantido", explica Rosetti.
As empresas não têm se pronunciado sobre o assunto. A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) foi procurada, mas afirma que não se manifesta sobre preços praticados por seus associados, no comércio ou no varejo.
"Esse aumento do cacau ocorreu depois da seca provocada pelo El Niño, nos dois maiores produtores do mundo. Gana e Costa do Marfim respondem por 60% da produção. Além desse fenômeno climático, houve praga nas lavouras. A indústria do chocolate tem planos de longo prazo, análises mensais de comportamento do mercado, e absorve o impacto maior. Está, portanto, preparada para essas oscilações", diz a entidade, em nota.
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