O país caminha para um ano de eleições com economia fragilizada e um cenário de muita incerteza para investidores e para a população geral. Foi esta a avaliação feita pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, durante participação em painel do Vitória Summit - Encontro de Lideranças 2021, evento organizado pela Rede Gazeta, nesta quarta-feira (24). Ele pondera, entretanto, que o país ainda não alcançou um ponto em que não há retorno e que pode crescer, caso decida fazer diferente.
Fraga fez um breve retrospecto da conjuntura econômica brasileira nas últimas décadas, destacando que o desempenho do país, apesar dos avanços desde a criação do Plano Real, foi, no máximo modesto, sendo que, desde 2014, a situação vem se agravando criticamente, contribuindo para queda na confiança dos investidores, aumento do desemprego e redução na renda média da população.
“Apesar de momentos vitoriosos e grandes avanços em nossa economia nos últimos 30 anos, sobretudo a partir do Plano Real, quando olhamos o resultado final, eu diria que foi modesto. Muita coisa boa aconteceu, mas o fato é que o país cresceu pouco e infelizmente, durante esse período, seguiu com uma 'rotina' de crises econômico-financeiras que prejudicam o bom funcionamento da economia.”
Hoje, Fraga observa, o país enfrenta uma “combinação extremamente perversa” de inflação alta, já alcançando dois dígitos, com uma situação de recessão. Aliado a isto, existe ainda receio em relação ao que acontece na área fiscal.
Ele pondera que a pandemia exigiu que o governo gastasse mais, sobretudo com saúde e programas sociais, como foi o caso do auxílio emergencial, que beneficiou cerca de 67 milhões de brasileiros, sendo 1 milhão apenas no Espírito Santo.
Ainda assim, houve um crescimento bastante relevante na dívida pública, afetada ainda pelos malabarismos realizamos com o orçamento para atender uma e outra demanda. Esse aumento das despesas contribuiu fortemente para o aumento da inflação desde o ano passado.
“É um período de extrema incerteza. Estamos entrando em um período de eleição com uma economia extremamente fragilizada, o arcabouço fiscal vem ruindo, tem havido uma transferência da LRF, que caducou, para o teto, que foi um instrumento importante, mas exigia algumas reformas. O Banco Central inverteu a mão, está aumentando os juros, e vem ao mesmo tempo sofrendo as consequências de ter que trabalhar com uma situação fiscal frágil. Sem uma âncora fiscal sólida, o BC é como alguém que está pescando com uma linha fina. Aumentou os juros e a dívida vai crescer mais. Começa-se a ver um ciclo vicioso.”
Neste cenário, o ex-presidente do Banco Central pontua que não é de surpreender tanto que o investimento no Brasil ande tímido, tendo praticamente parado na esfera pública.
“Mas a economia funciona com cenários, se predominar uma visão de um cenário onde o Brasil vai eleger alguém que não tem uma visão clara, corajosa, competente do que é necessário fazer, vamos ter problemas muito sérios.”
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