Os gastos de moradores do Espírito Santo com ferramentas que utilizam a inteligência artificial cresceram mais de 500% entre janeiro e maio deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022. Os dados fazem parte de um levantamento do Itaú Unibanco, que mostra ainda que o volume de transações também avançou 433% no período.
Os capixabas estão entre os que mais têm se destacado no uso dessa tecnologia no país, sobretudo em serviços oferecidos por empresas como OpenAI (ChatGPT), GitHub (recursos para programação de softwares), Notion (organização de tarefas, entre outros serviços) e Fliki (criação de vídeos).
O levantamento, feito com base nas compras realizadas com cartões do Itaú nos cinco primeiros meses deste ano, indicou ainda que a geração Y (28 a 42 anos) é a principal consumidora da tecnologia, com 58% de participação na quantidade de serviços pagos, seguida da faixa etária de 43 a 57 anos, com 25% de participação. O público masculino é o que mais consome os serviços, respondendo por 87% das transações, com valor médio de R$ 117.
O diretor de Dados do Itaú Unibanco, Moisés Nascimento, observa que o uso de inteligência artificial no trabalho é um dos temas mais abordados dos últimos meses – frequentemente liderando as tendências de pesquisa nas ferramentas de busca online.
“Temos um time dedicado a estudar e buscar novas tendências de comportamento e consumo com base nas transações feitas pelos nossos clientes, e os gastos nas empresas que oferecem ferramentas pagas de IA chamou a nossa atenção, o que motivou um estudo mais aprofundado. No Espírito Santo, assim como nos outros Estados, não tivemos surpresa nas profissões – os profissionais de tecnologia são os que mais têm investido nas ferramentas para auxiliar suas atividades do dia a dia. E por serem áreas com mais homens no mercado de trabalho, o gênero masculino domina”, detalha Moisés.
Ele pontua ainda que, em se tratando de gerações, aqueles que estão em posição intermediária no mercado de trabalho, a geração Y, são os que mais têm buscado explorar como a IA pode contribuir em suas atividades.
“Os dados mostram que ainda há muito espaço a ser explorado pelas empresas que oferecem essas funcionalidades, especialmente entre os mais jovens, que estão começando a consumir, e as mulheres”, diz o diretor.
O consultor de Gestão Empresarial Vinicius Chagas Barbosa, do TecVitoria, é um dos que utilizam recursos pagos de IA para simplificar tarefas do dia a dia. Sua rotina de trabalho requer a entrega frequente de relatórios densos, e o ChatGPT é um aliado na hora da revisão.
"Nunca tenho problemas com o conteúdo que quero entregar. Isso é meu principal produto. Mas, à medida que a consultoria se desenrola, vou tendo novas ideias e encaixando no texto, que acaba ficando meio Frankenstein. Essa parte final de verificação gramatical e da integridade e coerência do entendimento do texto sempre me tomaram muito tempo. E também tenho muita dificuldade para encontrar quem me ajude nisso por um valor que não pese demais nas consultorias. O ChatGPT me cobriu essa lacuna como uma luva", aponta Vinicius.
Barbosa reforça, entretanto, que uma vez que o sistema realiza ajustes, faz uma última revisão antes de entregar o produto final, para ter certeza de que está adequado.
"Sempre tive o hábito de passar um dia a cada revisão para poder me 'desviciar' do que eu mesmo escrevi e estar apto a criticar com efetividade. Esse período desapareceu e, com isso, posso entregar os resultados mais rapidamente", afirma o consultor.
Na avaliação do professor das áreas de Computação e Engenharia da Universidade Vila Velha (UVV) Otávio Lube, o crescimento da procura pelas ferramentas que se utilizam da inteligência artifical já era esperado, sobretudo após a popularização do ChatGPT, a partir do final do ano passado.
“Existem elementos de todos esses fatores: há a curiosidade dos usuários, que usam não só o ChatGPT, mas ferramentas para gerar conteúdo automatizado, e pessoas que têm mais poder aquisitivo pagam, sim, por isso. Claro que, com o tempo, vão decidir sobre as ferramentas que mais se adequam às rotinas, mas ainda tem um que de curiosidade, de experimentação.”
Ele reforça que a inteligência artificial — que é aplicada de formas diversas e vai muito além da criação de textos —, veio justamente para simplificar atividades repetitivas e rotineiras, e, cada vez mais, tendem a fazer parte das rotinas.
O pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da UVV, Alessandro Coutinho, pontua que os avanços permitem que os seres humanos concentrem seu tempo em atividades mais complexas, que necessitam, de fato, da habilidade humana.
Coutinho pontua que o crescimento das plataformas que oferecem esses serviços está claro, a exemplo do ChatGPT, que obteve, em meses, o faturamento somado por algumas redes sociais após um ano de criação.
“É uma ferramenta de hype, mas, da mesma forma que há pessoas curiosas, utilizando essas inovações, há pessoas desconfiadas, que se recusam. Mas são ferramentas que auxiliam muito no dia a dia, no estudo, no trabalho.”
E complementa: “A inteligência artificial é uma extensão da inteligência humana, nos mais diferentes ambientes. A inteligência humana não vai sumir. A IA não trabalha ainda a empatia, a inteligência emocional. Isso é exclusivo dos seres humanos. E tem a questão do uso responsável. Cabe a nós saber onde começar e como começar.”
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